quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Papai Noel, olhai por nós, já que se investigar nada sobra

Orion Teixeira
Orion Teixeira
orionteixeira@hojeemdia.com.br
   

24/12/2015

Sejamos honestos, e não hipócritas, se todos os políticos brasileiros fossem investigados, a maioria não escaparia de algum malfeito que os tornaria inelegíveis e dignos de processo de cassação. Isso não faz deles corruptos por natureza, mas, direta ou indiretamente, são assim reconhecidos por alguma razão: porque é assim que é (o tal sistema), cumplicidade (alguém o faz por ele), conveniência (se não permitir, perderei), comodismo (não existiria outra fórmula), por omissão e prevaricação (não vi e não sabia).
Só para citar os casos mais conhecidos e explorados de ambos os lados rivais da política brasileira: o ex-presidente Lula esteve ameaçado no mensalão petista (2005) e, hoje, é alvo de investigações; a presidente Dilma Rousseff está às voltas, neste segundo mandato, com o petrolão, e teve pedido de impeachment acolhido; o ex-presidente Fernando Henrique (1995/2002) foi acusado de comprar sua reeleição e alvo de pedidos de impeachment; o senador Aécio Neves foi denunciado por desviar recursos da saúde pública no governo de Minas (2003/2010); o ex-governador Eduardo Azeredo (95/98), condenado a 20 anos, em primeira instância, no mensalão tucano.
Essas suspeitas, desconfianças, denúncias e até condenações os seguem e mancham suas biografias, como a de vários outros que decidem fazer política da maneira como ela é feita no país, no Estado e no município. Onde quer que haja disputa em torno de grandes interesses, nosso sistema democrático é maculado por práticas que contrariam o princípio constitucional e republicano da escolha espontânea e limpa. Purismo, idealismo, utopia: pode ser tudo isso, menos ficar como está, com cheiro de coisa errada e com a sensação de que a política e a democracia não prestam e de que essa é a natureza humana.
Antes disso, o país como um todo deve insistir nas possibilidades. Se há um grande pecado dos políticos, citados aqui ou não, é que, uma vez lá, no alto do poder, pouco ou nada fizeram para mudar. Fizeram das decantadas reformas, ou deixaram fazer, como da política, uma grande mentira para enganar os que têm esperança. Ok, vocês venceram e, agora, terão que pagar essa conta amarga e o alto custo em ver suas imagens construídas pela trajetória, com apoio do marketing, de uma hora pra outra, desconstruídas pela prática e pelo exercício estéril do poder.
Na maioria dos casos, fica quase sempre a impressão de que a chegada ao poder serviu mais ao bem-sucedido do que ao fim a que se propôs. Permanecer nesse estágio é admitir que o sistema faliu, mas ignorando quem o criou, o estragou e nada fez para aperfeiçoá-lo. Como um cão atrás do próprio rabo, culparemos o sistema e aos políticos, ignorando que, ao contrário dos segundos, o primeiro nada pode fazer por ele mesmo ou por nós. Papai Noel, olhai por nós.

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