quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Polícia Federal fecha o cerco aos Caciques do PMDB na 22ª fase da 'Lava Jato'

16/12/2015 06:46 - Atualizado em 16/12/2015 06:46

Alessandra Mendes - Hoje em Dia



Editoria de Arte
PMDB no alvo

A mais recente fase da operação “Lava Jato”, deflagrada ontem, atingiu em cheio as principais lideranças nacionais do PMDB, suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. Entre os alvos da Polícia Federal estão tanto aliados do governo, que vinham dando sustentação à presidente Dilma Rousseff (PT) contra a possibilidade de impeachment, quanto desafetos, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Passando por racha interno, o PMDB pode aproveitar o cenário para se reagrupar e contra-atacar.

“O que a gente vinha assistindo era talvez um momento de ruptura efetiva, de um grupo mais alinhado com o PT e outro mais aliado com o Cunha. Se isso parecia se encaminhar, essas investigação podem gerar uma reunificação estratégica para conseguir seus objetivos”, avalia o professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro Michael Mohallem.

A possibilidade já é aventada por parlamentares da oposição e também por petistas. O temor é que, visando a proteção do partido, os peemedebistas cheguem à conclusão que a saída para a legenda é emplacar o impeachment, com a consequente condução do vice-presidente Michel Temer ao poder. Nos bastidores, o que se comenta é que o cenário é propício para o revanchismo.

Alvos

Foram alvos de ação de busca e apreensão da PF ontem dois ministros de Dilma que vinham dando suporte a ela contra o impeachment: Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), ambos peemedebistas. E ainda, os senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). A PF também faz buscas no diretório do PMDB de Alagoas, que tem como presidente Renan Calheiros (PMDB).

A PF ainda fez buscas na residência oficial de Eduardo Cunha em Brasília, onde foram apreendidos, entre outras coisas, o aparelho celular do deputado. No mesmo dia, o Conselho de Ética da Câmara aprovou o parecer preliminar do relator Marcos Rogério (PDT-RO) que recomendou a continuidade das investigações do processo de cassação de Cunha, acusado de quebra de decoro parlamentar.

PF fecha o cerco aos Caciques do PMDB na 22ª fase da 'Lava Jato'
Agentes da Polícia Federal e da PGR chegam para fazer buscas no escritório de Eduardo Cunha, na Câmara, em Brasília (Foto: AFP)

Avaliação


Deputado federal pelo PT, Reginaldo Lopes não acredita em uma eventual reagrupamento do PMDB, que poderia prejudicar o governo. “Não tem essa possibilidade de unificação em torno do discurso do Eduardo Cunha. Há parte do PMDB contra o golpe, ou seja, a favor da democracia. O governo não participa desse processo (operação da Polícia Federal) por isso não há que se falar em consequências neste sentido”, alega o parlamentar.

Entretanto, na avaliação do professor da FGV-Rio, o fato de envolver o presidente do Senado, Renan Calheiros, acaba por prejudicar o governo. “No momento em que parecia que se construía uma aliança com a possibilidade do Renan barrar o processo de impeachment, mesmo que aprovado na Câmara, vem a operação da PF. Ao colocar o Renan em situação frágil, perde-se um aliado em potencial”.

O PMDB reúne hoje a Executiva Nacional em Brasília para discutir, entre outros assuntos, a operação deflagrada pela Polícia Federal de busca e apreensão em endereços de lideranças do partido, como o presidente da Câmara, ministros e ex-ministros peemedebistas. A reunião foi convocada pelo presidente nacional da legenda, vice-presidente Michel Temer.

Deputado contra-ataca e diz estranhar momento da operação
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), classificou como “estranha” a operação da Polícia Federal contra o PMDB às vésperas da decisão sobre a legalidade ou não do rito de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara, e partiu para o ataque. Ele defendeu que seu partido decida, o mais rápido possível, sobre a saída da base do governo.

“O PT é responsável por esse assalto que aconteceu no Brasil, o assalto da Petrobras. Todo dia tem a roubalheira do PT sendo fotografada e de repente fazem uma operação com o PMDB”, disparou o deputado. Ele se referia aos depoimentos do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula.
Cunha disse não ver “nada de mais” na busca e apreensão em seus três endereços e disse considerar que os mandados fazem parte do processo de investigação.

No entanto, considerou que há “algo estranho no ar” sobre o dia e o contexto da operação policial. “Isso tudo causa estranheza a todos nós”, comentou. Ele reclamou que os petistas não são alvos da operação. “Não me parece que ninguém do PT, que tem o foro que eu tenho, está sujeito a algum tipo de operação”, declarou Cunha, que foi lembrado de que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) foi preso por obstruir as investigação da operação “Lava Jato”.

Episódio pode resultar em descrédito para o partido
O impacto da nova fase da operação “Lava Jato”, que teve muitos peemedebistas como alvos, pode ser dúbio para o governo federal. Na avaliação de especialistas, o episódio pode resultar tanto em um descrédito do PMDB com relação ao pedido de saída da presidente Dilma Roussef quanto na dificuldade de governabilidade do PT por meio do Congresso Nacional.

“A parte boa é que coloca em evidência os problemas do partido que agora quer assumir o poder, quem são os mais beneficiados por meio do impeachment. Mas, por outro lado, também é uma derrota para o governo porque esse jogo de gato e rato entre a polícia e políticos vai fazer com que o Congresso continue parado mais tempo ainda, o que prejudica a economia”, avalia o cientista político e professor da PUC-Minas, Malco Camargos.

Para o especialista, apesar de estar acuado, o presidente da Câmara não tem mais cartas escondidas na manga que podem ser usadas a ser favor. A pressão contra o governo e a postergação do processo contra ele na Comissão de Ética já não são mais eficientes neste momento.

“Na minha avaliação ele representa pouca ameaça para o governo hoje. Ainda assim, acho que ele não renuncia, já que, tomando essa atitude, ele estaria perdendo a sua capacidade de defesa”, afirma Camargos.


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