quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Sai Cunha e entra Temer no duelo contra Dilma


Orion Teixeira
Orion Teixeira
orionteixeira@hojeemdia.com.br


09/12/2015

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), já cumpriu seu papel no confronto entre seu partido, ou partes dele, contra o governo Dilma, quando aceitou o pedido de impeachment.
Ele ainda continuará criando dificuldades, manobras e cascas de banana no processo de impeachment enquanto for presidente (pode ser afastado a qualquer momento, já que é “réu” no Conselho de Ética), mas o duelo principal será, a partir de agora, entre a presidente e o seu vice-presidente.
Desde a aceitação do pedido de impedimento, o episódio expôs o nível de deterioração entre Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB). “Espero total confiança dele” (Dilma); “ela nunca confiou em mim ou no PMDB” (Temer). Pelo que se viu, bastava uma gota d’água, um empurrãozinho para o rompimento; o que dirá um confronto turbulento do tamanho do impeachment.

O fogo amigo do PMDB pode virar, ou já virou, oposição declarada ao governo petista, que, sem seu principal aliado, tem o futuro ainda mais incerto. A oposição anterior, formada pelos tucanos e aliados, está de espectadora, aguardando o momento de entrar em cena. Não o fará imediata e automaticamente, embora seja sabidamente contra a presidente, mas o impedimento dela exigirá reposionamento com relação a eventual governo do PMDB.
Sustentação política
Como o de Dilma, hoje, carece de sustentação política, o de Temer também teria a mesma dificuldade. Ao contrário da petista, o peemedebista ainda tem um mínimo de voto de confiança para apresentar um projeto de unificação nacional em torno de uma agenda mínima consensuada de recuperação da economia.
Tão importante, ou mais, do que conseguir reunir os votos necessários (apenas 172 dos 513 da Câmara) para evitar o impeachment – o que, convenhamos, é muito pouco para governor –, seria a reunificação do país em torno de um pacto capaz de corrigir os rumos da economia e retomar o crescimento.
Essa é a disputa que estará em jogo, e Temer saiu na frente quando apresentou sua “Ponte para o futuro”, um programa de gestão mais liberal do que o dos tucanos e que, por isso mesmo, agradou em cheio ao empresariado nacional. De sua parte, agora é garimpar votos na oposição, no seu partido e na base aliada, para derrotar aquela que nunca confiou nele.
Já Dilma adotou o caminho de estratégia curta e de resultado incerto e perigoso, por meio confronto e da simples contagem de votos. É muito pouco, porque, caso tenha êxito, se esgotará nesse processo e não a preparará para os desafios maiores do país, hoje politicamente rachado e economicamente sem rumo.
Com o risco e o enfrentamento, o governo vai se adequando ao seu estilo. De acordo com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), o foco será a disputa política no Congresso Nacional, deixando para judicializar o conflito como último recurso.
Somente depois dessa crise, o governo acordou para uma tardia constatação de que é preciso demonstrar força e reorganizar a base aliada, situação que, de resto, é fundamental durante todo o mandato e não apenas nas crises. Em ambas as situações, mais do que cargos e outros favores, confiança não pode continuar sendo ignorada.
 

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