Presidente vai a conferência e deixa claro que cometeu crimes de maneira consciente e determinada
De
todos os argumentos vigaristas para combater o impeachment da presidente
Dilma Rousseff, o mais estúpido é o que sustenta que sua situação é
muito diferente da de Fernando Collor porque este, afinal, não tinha
partido, não tinha base social e não tinha incluído milhões de pessoas
na economia.
Aliás, aí
está a essência do que defini como “petralhismo”, que é prática dos
petralhas: apelar ao social para justificar ações criminosas. Consegue
ser um lixo moral superior à defesa do roubo puro e simples. Por quê?
O ladrão que
não procura se justificar tem ao menos o bom gosto de não corromper o
bem, não é mesmo? Esses outros não: arrastam qualquer ideia de virtude
em sua pantomima criminosa. Se os operadores dessa máquina maligna são
detestáveis, seus arautos na imprensa, no mundo do direito e na academia
constituem a mais nefasta canalha.
Os ladrões
que se assumem como aquilo que efetivamente são não degradam as
instituições, não inviabilizam países, não condenam gerações ao atraso, à
penúria e à melancolia. Esses outros, por óbvio, sim.
Pensem:
quanto tempo vai demorar para que o estado brasileiro se alimpe dessa
súcia que infelicita o Brasil, que impede a devida aplicação de
políticas públicas, que se impõe para defender e proteger os interesses
de seu grupo, de sua camarilha, contra as necessidades do conjunto da
população?.
Se querem
uma evidência do que essa gente é capaz, olhem para a nossa educação,
olhem para a saúde. Tomem como exemplo o surto de microcefalia no país.
Há quantos anos o governo central namora com o mosquito, que antes era
só da dengue, depois passou a ser também da chikungunya e agora é do
zika vírus? O que mata os brasileiros não é um destino, mas suas
escolhas.
E, como
resta claro, nem uma sombra de bom senso ameaça a incompetência
arrogante do governo. Nesta segunda, o ministro Ricardo Berzoini
(Secretaria de Governo) concedeu até uma entrevista razoável à Folha.
Mas a ponderação durou pouco.
Ontem, Dilma
compareceu à abertura da Conferência Nacional de Assistência Social —
essas conferências, desde sempre, de qualquer área, são conduzidas por
franjas do petismo. Foi recebida aos gritos de “não vai ter golpe”. A
presidente não se fez de rogada. Afirmou: “Ao longo da história, os
golpes não constroem harmonia, a unidade, nem constroem a pacificação
necessária para os países avançarem. Pelo contrário: geralmente o que os
golpes constroem é o caos, que deixam feridas e marcas profundas”.
Dilma sabe
que não há golpe nenhum. Ao fazer essa acusação, deslegitima o próprio
Parlamento que vai tomar a decisão sobre o seu caso. Ela está a dizer
que só aceita um resultado. Mas um Poder Legislativo que só pudesse
votar de uma maneira seria livre?
E não pensem
que Dilma negou as pedaladas, não. Ela as admitiu nestes termos: “Nós
escolhemos um caminho, uma política, e podem ter certeza de que essa
escolha, mais cedo ou mais tarde, sempre é cobrada. Uma parte do que me
acusam é de ter pago o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Uma
parte do que me acusam é por isso. Paguei, sim. Mas nós pagamos com
dinheiro do povo brasileiro. Não foi empréstimo que pagou o Minha Casa
Minha Vida, foi o dinheiro legítimo dos tributos pagos pelo povo desse
país”.
Aí está,
para aqueles ditos juristas do nariz marrom que lhe foram puxar o saco
no Palácio do Planalto, a confissão do crime. Atenção! Dos R$ 40 bilhões
das pedaladas dadas só em 2014, R$ 19,6 bilhões foram do BNDES, que
nada têm a ver com os programas sociais a que se referiu na governanta.
Dilma está admitindo o crime, sim. Deixa claro que o cometeu de forma
consciente. E conta uma mentira sobre a destinação do dinheiro.
É evidente
que, se Dilma acha que está diante de uma ação golpista, então ela não
reconhece as instâncias que vão avaliar o processo contra ela e,
eventualmente, julgá-la. Se é assim, como é que aceita se submeter,
então, a um julgamento que pode contemplar um golpe?
Se é como
diz a presidente, o melhor que ela tem a fazer é voltar às suas origens,
aderir a um grupo clandestino e partir para a resistência armada. Mas
que o faça já, não é? Não pode esperar a votação da Câmara e,
eventualmente, o julgamento do Senado.
Ou será que a
presidente deixou a luta armada para mais tarde, para a hipótese de o
Congresso fazer a coisa certa e, diante da confissão do crime e a
evidência de que ela o cometeu de modo claro, consciente e determinado,
condená-la por isso?
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