quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A polícia prende, a Justiça solta ou condena

Márcio Doti
Márcio Doti
mdoti@hojeemdia.com.br
   
28/01/2016

É assim que deve ser. Constatado o erro, a polícia investiga, reúne provas, prende, abre inquérito, trabalha com o Ministério Público e todo o resultado vai para as mãos da Justiça. Esta, por sua vez, confere, aprofunda e então confronta o apurado com as leis para absolver ou condenar. Simplificando bastante é isto que deve acontecer. Todos juntos trabalhando para o sossego da sociedade, separando-se os bons dos maus, praticando justiça toda vez que algo ameaça a paz e a harmonia entre cidadãos e instituições. Agora, por exemplo, a Polícia Federal acaba de desfechar mais uma etapa da Operação “Lava Jato” ao prender gente ligada à Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), que foi fundada e presidida pelo hoje ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini. Em 2010, João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, foi diretor da cooperativa e depois seu presidente. Neste cargo foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por suspeita de desvio de dinheiro para abastecer campanhas eleitorais do PT. A promotoria também suspeita que o condomínio foi usado para lavar dinheiro e a Polícia Federal trabalha com essa suspeita. O ex-presidente Lula adquiriu uma cota de participação no prédio e, ao disputar a reeleição em 2006, informou à Justiça Eleitoral ter pago à Bancoop R$ 47 mil, embora corretores afirmem que o imóvel vale R$1,5 milhão.
O CARRO NÃO PODE ENGUIÇAR
Com isto, vai em frente a Polícia Federal, o Ministério Público, ambos fazendo as suas partes. Buscam agora descobrir se esse Bancoop esconde dinheiro de gente importante. Vai entregar para a Justiça e seguir adiante abrindo outras frentes. No que a “Lava Jato” tem deparado com gente sem foro privilegiado o carro está andando. Sentenças, condenações e prisões. Mas há gente envolvida no trajeto das operações Zelotes e “Lava Jato” que tem foro privilegiado e em função disso só pode ser “incomodada” se um dos relatores dessas operações, que são ministros do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça autorizar, determinar ou submeter ao plenário a que pertencem. Tem muita gente importante nessa situação, entre elas, o governador de Minas, Fernando Pimentel, investigado pela Zelotes no caso da facilitação de benefícios a montadoras de veículos em fase posterior à do ex-presidente Lula. Também da Operação Acrônimo que investiga caixa dois de campanha, lavagem de dinheiro e outras irregularidades de que são alvo de investigações o governador dos mineiros, sua esposa Carolina Oliveira e seu amigo Bené, o Benedito de Oliveira. Este, muito enfronhado no governo, dono de vários contratos milionários e muitas ações de intermediação mesmo depois que Pimentel deixou o Ministério do Desenvolvimento, onde além das montadoras também facilitou financiamentos através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), um banco de fomento sob as ordens do ministério que dirigiu. É natural que a sociedade esteja ansiosa por ver resultados de tantos escândalos, tantos absurdos que vieram a público, incomodaram, revoltaram, indignaram, mas que até hoje não passaram das constatações policiais.

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