sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Dilma diz que 'grande preocupação' do governo é com desemprego

15/01/2016 11h27 - Atualizado em 15/01/2016 14h15

Desemprego ficou em 9% no trimestre até outubro e tem maior taxa da série.
Presidente participou de café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

Filipe Matoso e Roniara CastilhosDo G1 e da TV Globo, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (15), em um café da manhã no Palácio do Planalto com jornalistas de sites, agências de notícias estrangeiras e revistas, que, atualmente, todo o esforço do governo federal está voltado para impedir que o desemprego se eleve ainda mais. Em sua segunda entrevista coletiva do ano, a petista ressaltou que essa é sua "grande preocupação".
DESEMPREGO
trimestre terminado em (em %)
6,87,47,988,18,38,68,78,99em %janfevmarabrmaijunjulagosetout6,577,588,599,5
Fonte: IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira que a taxa de desemprego ficou em 9% no trimestre encerrado em outubro de 2015. Essa foi a maior taxa da série histórica, iniciada em 2012.
No trimestre encerrado em julho, a taxa havia atingido 8,6% e, no período de agosto a outubro de 2014, chegou a 6,6%.
"Todo esforço do governo […] é para impedir que no Brasil nós tenhamos um nível de desemprego elevado. Para mim, é a grande preocupação, é o que nós olhamos todos os dias. É aquilo que mais me preocupa e aquilo que requer mais atenção do governo”, destacou Dilma aos jornalistas no café da manhã que durou cerca de uma hora e 20 minutos.
Segundo o IBGE, no trimestre encerrado em outubro, a população desocupada chegou a 9,1 milhões de pessoas. Isso representa um aumento de 5,3% em relação ao trimestre de maio a julho e de 38,3% em comparação com o mesmo período de 2014.
Reflexo da deterioração do mercado de trabalho no período, o número de empregados com carteira assinada recuou 1%, na comparação com o trimestre anterior (encerrado em julho), e 3,2%, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Além de falar sobre suas preocupações em torno da elevação do desemprego no Brasil, Dilma também se manifestou sobre a recriação da CPMF, o processo de impeachment, a proposta de reforma da Previdência Social, o preço do petróleo, a tentativa de recriação da CPMF e a independência do Banco Central.
CPMF
Apresentando alternativas para tentar reaquecer a economia, Dilma disse durante o café da manhã que o reequilíbrio fiscal passa pelo aumento de impostos.
Ela aproveitou o encontro com a imprensa para voltar a defender a recriação da CPMF. Em setembro do ano passado, o Executivo enviou ao parlamento uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a criação de um tributo nos mesmos moldes do antigo "imposto do cheque", que foi extinto em 2007.
Embora a tramitação da PEC da CPMF no Congresso ainda esteja em estágio preliminar, o Orçamento da União aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado por Dilma nesta quinta-feira (14) já prevê arrecadação de R$ 10,3 bilhões com a criação da nova CPMF.
"Algumas medidas são urgentes. Reequilibrar o Brasil num quadro em que há queda de atividade implica, necessariamente, a não ser que nós façamos uma fala demagógica, em ampliar impostos. Eu estou me referindo à CPMF.”
'Pedaladas fiscais'
Em outro momento do café da manhã, Dilma comparou as chamadas “pedaladas fiscais” – como ficaram conhecidos os atrasos de pagamentos de benefícios sociais a bancos públicos – a uma pessoa que andava sem cinto no carro quando a lei não estipulava como obrigatório o seu uso pelos passageiros.
Em razão dessa prática, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou que o Congresso rejeite as contas do governo Dilma de 2014. As "pedaladas fiscais" também ajudaram a embasar o pedido de impeachment que foi autorizado, em dezembro, pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Na última semana de 2015, o Tesouro Nacional anunciou que concluiu o pagamento de todas as "obrigações" devidas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ao Fundo de Garantia  por Tempo de Serviço (FGTS) e ao Banco do Brasil.
“O governo pagou o que devia aos bancos, mas não reconhece erro, porque quando alguém não usa sinto de segurança, e isso não está previsto na legislação, ninguém está cometendo ilegalidades”, justificou.
Processo de impeachment
Ao comentar o processo de impeachment em curso no Congresso Nacional, Dilma Rousseff afirmou que não se tira um presidente do cargo por não simpatizar ou não gostar dele. A petista voltou a acusar parte da oposição de estar tentando promover um "golpe" no país.
A chefe do Executivo se tornou alvo de um processo de impeachment em dezembro, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), autorizou a abertura do procedimento de afastamento com base no pedido dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior.
"A questão mais importante para o país é a reforma da Previdência. Mas isso não quer dizer que as tentativas golpistas de parte da oposição não sejam importantes também. Afinal, isso é uma questão que significa estabilidade política. Não se pode achar que se tira um presidente porque não se simpatiza com ele ou achar que se tira um presidente porque não gosta dele", queixou-se Dilma.
Lava Jato
Dilma foi questionada pelos repórteres sobre recentes vazamentos de delações premiadas da Operação Lava Jato que citam políticos próximos a ela, como os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Henrique Alves (Turismo). Ao responder, ela alegou que não há "novidade nenhuma" nas recentes revelações das investigações policiais.
A presidente assegurou aos jornalistas que o governo e ela própria responderão aos questionamentos da imprensa “em quaisquer circunstâncias”.
Ela, entretanto, reclamou do vazamento de depoimentos da Lava Jato. Sem citar um caso específico, a presidente afirmou que “nunca fica claro” quem falou na delação e se, de fato, a pessoa falou aquilo que saiu na imprensa.
A presidente afirmou que, se os jornalistas tiverem dúvidas sobre a atuação dela no período em que atuou como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, que o governo disponibilizará informações.
Reforma da Previdência
A exemplo do que havia defendido na semana passada – em outro café da manhã com jornalistas –, a presidente da República se manifestou mais uma vez nesta sexta-feira a favor de uma reforma "gradual" da Previdência Social. No entanto, ela ressaltou novamente que a eventual mudança nas regras previdenciárias não irá mexer em direitos adquiridos.
Dilma não explicou qual modelo de Previdência Social que ela considera mais adequado. Porém, advertiu que o fator previdenciário móvel pode ser incluído na reforma.
"A reforma da Previdência tem de ser compreendida técnica e politicamente. Essa não é uma questão desse ou daquele governo e sequer pode ser politizada. Têm vários caminhos para o consenso. E um deles é o do fator previdenciário móvel, que pode ser incorporado à reforma", enfatizou.
Temer e PMDB
A presidente também dedicou parte do café da manhã a falar sobre sua atual relação com o vice-presidente da República, Michel Temer, e com o PMDB, partido do qual ele é presidente nacional.
A relação entre Dilma e o vice vive o momento de maior desgaste desde que eles chegaram ao comando do Palácio do Planalto, em 2011. Em dezembro, Temer enviou à chefe do Executivo federal uma carta na qual apontou desconfiança da presidente sobre a atuação dele.
"Eu e meu governo temos toda consideração com o vice-presidente Temer. Inclusive, nós temos duas reuniões agendadas, uma para esta semana. [...] Para nós, é importante que haja uma relação de absoluta responsabilidade e que seja fraterna”, disse Dilma, tentando minimizar o mal-estar com o peemedebista.
Ela destacou ainda que o Planalto não vai interferir em “questões internas” de partidos, como o PMDB e o PT, porque isso “não é certo isso nem democrático". Em março, o PMDB vai eleger a nova direção nacional e Temer é candidato à recondução ao cargo de presidente.
Dilma participa de café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto (Foto: Ichiro Guerra / PR)Dilma participou do café da manhã com jornalistas ao lado do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva (Foto: Ichiro Guerra / PR)
Banco Central
Durante o encontro, Dilma foi questionada se havia mudado sua opinião em relação à autonomia do Banco Central. Na campanha eleitoral de 2014, gerou polêmica as peças publicitárias do PT que afirmavam que, se os adversários de Dilma vencessem a disputa, o Banco Central se tornaria independente e isso retiraria alimentos da mesa da população.
Nesta sexta-feira, a presidente argumentou que, para o governo, o Banco Central não é independente, mas, sim, autônomo para executar suas políticas.
"O Banco Central é uma instituição autônoma para fazer suas políticas, mas isso não significa que ele não preste contas. A relação entre as políticas fiscal e monetária passa pela avaliação de que temos um problema na área da inflação muito forte. O Banco Central é autônomo, mas não é independente, porque não é um poder", observou Dilma.
Leilões de petróleo
No encontro, a presidente também ponderou que o momento não é propício para o governo fazer leilões de campos de exploração de petróleo. Ela ressaltou que, atualmente, o preço do barril do petróleo está em baixa, girando em torno de US$ 30.
Ao falar sobre o assunto, a presidente informou que o governo avalia realizar leilões em poços menores e em áreas “menos rentáveis”. A queda no preço do barril gera prejuízos aos principais produtores de petróleo e tem inluência direta nas bolsas de valores e no mercado de ações.
"Ninguém faz leilão de bloco de exploração [de poços, com o preço do barril do petróleo] a US$ 30 [...] Como faço, em 2016, com o petróleo a US$ 30, uma concessão de 30 anos?", declarou a presidente.
"Não é o momento. Talvez poços menores. Estamos olhando isso em áreas menos rentáveis."
No início deste mês, o preço do barril ficou abaixo dos US$ 35 pela primeira vez desde 2004. Segundo a presidente, três fatores têm influência direta na recorrente queda do preço: queda na demanda, excesso de oferta e “variantes financeiras”, que levam, segundo ela, a uma “pressão baixista”.
Manifestações de rua
A presidente também foi questionada pelos repórteres sobre as manifestações de rua, em especial as realizadas nos últimos dias em São Paulo, nas quais têm ocorrido confronto entre manifestantes e policiais.
Para Dilma, o país aprendeu a conviver com as manifestações e aprendeu a respeitá-las.
"Acho que, no nosso caso, conquistamos a democracia, e ela tem de ser cuidada e suas regras respeitadas. [...] As manifestações, nós aprendemos a conviver e a respeitá-las. Acho que tratar das questões da democracia, as manifestações são uma prática normal", analisou.
Dieta
Apesar de a assessoria do Palácio do Planalto ter servido pães, bolos, pão de queijo, frios e suco de laranja na mesa do café da manhã oferecido aos jornalistas, Dilma se limitou a comer uma fatia de queijo e tomar um copo de água e uma xícara de café, com quatro gotas de adoçante.
Desde outubro de 2014, quando encerrou a campanha eleitoral acima do peso, a presidente passou a fazer dieta e a praticar exercícios físicos.
Com frequência, a chefe do Executivo é vista pedalando nas primeiras horas da manhã nas ruas próximas ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.

Nenhum comentário: