sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Impeachment é pouco

Márcio Doti
Márcio Doti
mdoti@hojeemdia.com.br


22/01/2016

Quem busca, de fato, uma solução para o Brasil sabe que impeachment é apenas um possível elemento entre os tantos necessários para ordenar a vida do país. Há tantos desacertos, que é pouco o afastamento de um presidente, por mais grave que seja a medida, democrática e nunca golpista, como querem rotular os malabaristas de sempre. Os sintomas que estão por toda parte mostram que trocar uma peça nesse tabuleiro viciado talvez seja apenas caminho de um fôlego sem, contudo, significar solução para a necessidade de endireitamento da vida nacional. Por mais que existam milhões querendo isso e apenas uns poucos oportunistas condenando a medida, por mais que exista uma imensa torcida, mesmo vencidas as cascas de banana colocadas no caminho, ainda será pouco para os que pretendem ver o Brasil consertado.
O que pensar de um país onde um senador da República, Delcídio do Amaral, na importante posição de líder do governo, é apanhado em escutas combinando até subornos e estradas de fuga para alguém apanhado no centro do escândalo da Petrobras, Nestor Cerveró, manipulador de milhões e milhões de reais e dólares, intermediador de operações criminosas e delator, cujas informações levaram até ao próprio Delcídio.
E há quem diga que esse senador importante da cúpula de governo só teve prisão autorizada porque nas gravações ele revelou intimidade com ministros de nossas altas cortesE é preciso acrescentar que tal senador deveria estar preso nas celas da Polícia Federal, em Curitiba, mas foi transferido sob a alegação de que um barulho o incomodava. Ele está hoje ocupando instalações do quartel do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar de Brasília. Ninguém duvide se estiver sendo tratado de “excelência”.
O país à espera dos consertos que todos desejamos está assistindo a todos os preparativos e medidas possíveis para facilitar a vida de criminosos e até constranger agentes da lei. Advogados de bandidos se juntam para publicar uma carta em que fazem críticas abertas ao juiz federal que comanda a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal e com a Justiça Federal, baseada em Curitiba. Prova indiscutível de que o país precisa mais que mudar de presidente.
E por falar em Dilma, ela editou medida provisória que facilita a vida dos empresários apanhados pela Lava Jato ao contrariar artigo da Lei Anticorrupção e permitir que suas empresas tenham relações comerciais com o serviço público. E, de igual modo, a presidente sancionou lei que dá acesso a advogados a qualquer processo que corra em qualquer instituição em claro favorecimento de bandidos que estejam sendo rastreados, cujas operações poderão ser identificadas e documentos poderão ser acessados por seus advogados.
Há muito mais do que isto. Há muita gente cujos processos estão parados ou caminhando em marcha lenta e que continua exercendo mandatos quando, em verdade, já deveria ter sido afastada do poder por força de erros cometidos, condenações formalizadas ou acusações muito fundamentadas. Há muitos vícios expostos e ao alcance. Cada qual que olhe em volta para descobrir que o país e os políticos perderam a vergonha da mesma forma que muitas autoridades. Será fácil perceber que mudar presidente é pouco.

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