quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A Ex-primeira-dama que emudece com estranhos por perto terá de soltar a voz no depoimento sobre o triplex do Guarujá

10/02/2016
às 18:31 \ Direto ao Ponto - Veja.com

Somados, não devem passar de 2 minutos os vídeos que mostram Marisa Letícia Lula da Silva falando alguma coisa. Certamente por falta do que dizer, sugerem os três momentos reunidos no vídeo abaixo. Todos foram gravados em 2010, quando um surpreendente surto de loquacidade animou-a a interromper a mudez em Jerusalém, em Brasília e em São Paulo.
O Discurso no Muro das Lamentações, pronunciado em 19 de março, foi o mais extenso. “É segredo”, responde Marisa Letícia ao repórter interessado em saber o que havia escrito no pedaço de papel endereçado à Divina Providência. “Só Jesus vai vê meu bilhete”. O Discurso na Despedida da Seleção Brasileira, pronunciado no Palácio do Planalto, foi ainda mais conciso: “Boa sorte, Robinho”, diz ao jogador de partida para o fiasco na África do Sul.
A série encerrou-se em outubro, com o Discurso sobre Doações Eleitorais. Escoltada por Eduardo Suplicy e Aloizio Mercadante, a mulher de Lula destaca uma das facilidades oferecidas a quem quisesse dar dinheiro para o PT: “Não precisa nem saí de casa. Pode fazê em casa, isso”. Haja laconismo. Em conversas sem testemunhas perigosas nas cercanias, ela gasta a voz que economiza quando há jornalistas por perto.
A dona de casa Marisa Letícia faz questão de deixar claro que é a dona da casa. No Palácio da Alvorada ou no apartamento em São Bernardo, no triplex do Guarujá ou no sítio em Atibaia, foi sempre dela a última palavra em questões domésticas ─ das arrobas que os filhos obesos precisam perder aos luxos e benfeitorias que os imóveis do clã merecem ganhar. Um elevador privativo, por exemplo.
E tudo de graça, porque a ex-primeira-dama desconhece a existência de fronteiras entre o público e o privado, e faz de conta que ignora a diferença entre a demonstração de amizade e a sem-vergonhice interesseira. Meses depois de instalar-se no Alvorada, por exemplo, resolveu enfeitar o jardim com uma estrela vermelha do PT feita de sálvias. Diante das reações negativas, transferiu o monumento à jequice explícita para a Granja do Torto, outra propriedade da União.
A história da estrela de jardim tornou-se um quase nada depois das revelações sobre o sítio e o triplex remodelados pela OAS, pela Odebrecht e pelo amigão José Carlos Bumlai. Os dois casos de polícia decerto monopolizaram as conversas da Famiglia Lula durante o Carnaval. A montagem dos álibis que ainda não há anda exigindo mais imaginação do que a esbanjada pelos carnavalescos da Sapucaí.
Marisa Letícia também deve ter consumido algumas horas ensaiando o que dirá ao procurador Cássio Conserino no depoimento marcado para a próxima quarta-feira, 17 de fevereiro. Pela primeira vez, ela ouvirá perguntas constrangedoras formuladas por uma autoridade decidida a apurar o que houve no prédio do Guarujá. Como as respostas não cabem em meia dúzia de palavras, Marisa Letícia terá de falar muito. O maridão que se cuide.

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