O impeachment de Dilma não se daria num ambiente de plena tranquilidade porque as esquerdas não aceitam a democracia. Mas a sobrevivência do governo conduziria o país ao desastre
Alguns
poucos meses de turbulência ou crise permanente até 2018? No fim das
contas, é o que se vai decidir nessa jornada do impeachment — e
eventualmente na próxima caso não se consigam os 342 votos na Câmara.
Prefiro apostar na responsabilidade da maioria.
Está claro
que o PT e seus associados não vão deixar tão facilmente a rapadura.
Quando uma presidente reúne no Palácio do Planalto aliados que comandam
verdadeiras milícias e deita pregação contra o golpe que não há, a
exemplo do que fez Dilma nesta quarta, fica evidente o intuito de
resistir não exatamente à ação política dos adversários, mas ao que
dispõe a Constituição. Isso, sim, é uma ameaça de golpe.
Mais: com
seu discurso, Dilma incitou seus aliados a fazer precisamente o que
fizeram: Michel Temer foi chamado, aos berros, de golpista. Ocorre que,
segundo a Constituição, ele é seu sucessor natural caso ela venha a
sofrer um processo de impedimento.
É claro que a presidente está usando o seu cargo para insuflar a baderna, a depender do que faça o Congresso.
Os
brasileiros já sabem o que pensam do governo Dilma: consideram-no ruim
ou péssimo 69% dos entrevistados, segundo pesquisa Ibope divulgada nesta
quarta, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria. Apenas 10%
o veem como ótimo ou bom; para 19%, é regular. Nada menos de 82%
reprovam a maneira como Dilma governa, e 80% dizem não confiar na
presidente. Os números não são diferentes de levantamentos feitos por
outros institutos.
Eis o estado
das artes. Dado o ânimo da população, imaginem um governo Dilma que
sobrevivesse ao impeachment. Mas isso ainda diz muito pouco. Ela só vai
conseguir se manter no cargo se fizer tal loteamento do governo que
resulte na paralisia, desta feita para valer, da máquina pública.
Se, hoje em
dia, com raras exceções, a sensação que se tem é a de que não há
governo, imaginem o que viria. Mais: Dilma está escolhendo com quem vai
gerir o Brasil caso sobreviva: com a escória mais fisiológica do
Congresso, que está se lixando para o país, e com os milicianos dos
ditos movimentos sociais. Será refém de tipos como Guilherme Boulos e
João Pedro Stedile.
Ainda é
pouco: não será exatamente ela a estar no comando, mas Lula, que já se
comporta, ainda que sem cargo nenhum, como presidente “de facto”. A
eventual sobrevivência do governo, e vimos isso no pós-mensalão, fará
crescer enormemente a intolerância dos “companheiros”.
As pessoas
decentes costumam ser humildes na vitória. Os petistas sempre fizeram o
contrário. Se vocês procederem a um levantamento, verão que os
companheiros usaram seus picos de popularidade para, por exemplo, tentar
criar mecanismos para censurar a imprensa. Não haverá, desta feita,
apoio popular. Mas a eventual sobrevivência do governo os empurrará para
a radicalização.
Até porque
não há meios de Dilma vencer, ainda que não se consigam os 342 votos na
Câmara. A maioria esmagadora terá votado, ainda assim, em favor do
impeachment. As relações com o Congresso serão as piores possíveis.
Que os
senhores parlamentares reflitam com muita calma. Se temem, na hipótese
de impeachment, uma turbulência ou outra, promovidas pelos milicianos
que estavam nesta quarta no Palácio do Planalto, convém temer muito mais
caso não se consigam os 342 votos.
Haverá um
sentimento enorme de frustração. O governo não terá nada a oferecer. A
gestão estará mergulhada na bagunça. A desordem, a desolação e a
desconfiança, que hoje prometem criar uma recessão de pelo menos 4%, vão
se acentuar. E os milicianos de Lula estarão mais assanhados do que
nunca. Se quiserem, temperem a equação com inflação alta e desemprego
nos cornos da Lua.
A votação será aberta. Os senhores deputados — e espero, os senhores senadores — escreverão o seu nome na história.
Vão escolher uma turbulência de curto prazo ou o risco concreto do caos.
Aqueles 82%,
senhores, estejam certos, cobrarão a fatura se isso acontecer. Nenhum
voto será esquecido. Nem de um lado nem de outro.
Texto publicado originalmente às 4h22
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