domingo, 27 de março de 2016

Clima tenso leva angústias do debate político para o divã

Saúde

Divisão do Brasil quanto ao processo de impeachment faz com que pacientes procurem ajuda médica

 Danilo Vale Funghi
Catarse. Danilo Funghi, 42, dono de uma marcenaria, defende o governo e descarrega parte das tensões da crise política no consultório
PUBLICADO EM 27/03/16 - 03h00
No momento em que a conduta do Executivo, do Legislativo e até do Judiciário é colocada em xeque no Brasil, confusão, angústia, medo e frustração tomaram conta de grande parte da população. Para enfrentar a enxurrada diária de notícias desoladoras, opiniões e ofensas, tão comuns atualmente, cada vez mais brasileiros têm buscado no divã respostas para dúvidas e inseguranças sobre o futuro do país e crises de identidade política.
A ameaça iminente de um impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) tem deixado “nervoso” o proprietário de uma marcenaria em Belo Horizonte Danilo Vale Funghi, 42. Ferrenho defensor do governo do PT, ele diz temer o que chama de “um golpe da direita contra a democracia” e marca sua posição nas redes sociais, nas reuniões com amigos, família e no divã do seu psiquiatra, há pelos menos um ano e meio.
“Sempre fui muito ligado à política e não consigo ser indiferente a uma situação que julgo estar errada. Levo minhas questões políticas para o consultório e, com meu psiquiatra, descarrego as angústias do momento. Isso faz com que eu não sofra tanto quanto outras pessoas”, garante o marceneiro.
Assim como Danilo, muitos outros brasileiros lotam os consultórios com discursos inflamados, estando contra ou a favor do governo. O psicólogo Newton Bicalho conta que o agravamento da crise política dominou as sessões de terapia em seu consultório. “Os pacientes estão tristes, cheios de dúvidas, inseguros, sem saber o que vai acontecer com o país”.
O especialista disse que atende pacientes com posições diversas, alguns mais agressivos, com desejo de vingança contra o governo, outros que criticam as coberturas que consideram tendenciosas de parte da imprensa, além de pacientes indignados com a situação, mas que não têm lado definido. “Essa semana atendi três pacientes no mesmo dia que disseram não querer o impeachment, mas ao mesmo tempo não concordam com tudo o que o governo faz”, disse.
Para a especialista Vânia de Souza, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o brasileiro hoje está com medo e apreensivo. E isso, segundo ela, porque se sente obrigado a tomar um partido. “As pessoas têm vergonha de dizer o que pensam e estão confusas. Imagina uma pessoa ouvindo o Lula falar. Logo depois, veem as denúncias do juiz Sérgio Moro. São duas autoridades preparadas e muitas vezes as pessoas não sabem em quem acreditar. Isso tudo gera um sentimento de angústia e intolerância”, acredita ela.
Perfis iguais
Na rua. Pesquisas do Datafolha nos protestos pró e anti-governo mostram que 80% dos manifestantes tinham ensino superior e mais da metade ganhava mais do que cinco salários mínimos.

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