sexta-feira, 11 de março de 2016

Com decreto, carro de passeio poderá ser movido a diesel

Mudança

Em tramitação no Senado Federal, o Projeto 84/2015 quer estender o uso do combustível no país

DIESEL/REAJUSTE
Alternativa. Na Europa é comum o uso do diesel em carros de passeio; preço médio do combustível em BH é menor do que o da gasolina

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PUBLICADO EM 11/03/16 - 03h00
Você gostaria de ter um carro movido a diesel? Hoje, a legislação brasileira permite o uso desse combustível para veículos de carga, transporte coletivo e alguns carros, que devem ter tração 4x4 e capacidade de carga superior a mil quilos. O Projeto de Decreto Legislativo 84/2015, do senador Benedito de Lira (PP/AL), pretende acabar com isso, estendendo a possibilidade de uso do diesel também para os veículos de passeio.
Num primeiro momento, a vantagem seria o preço do combustível na bomba. O valor médio do litro da gasolina em Belo Horizonte é de R$ 3,636. Maior que o diesel, R$ 3, segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na Europa, é comum o uso do diesel nos carros de passeio.
Entretanto, especialistas ressaltam que, mesmo aprovada, colocar em prática a proposta não é tão simples assim, já que envolve a superação de uma série de dificuldades, entre elas, a necessidade de se criar toda uma infraestrutura para a distribuição e venda do combustível. “Vale lembrar que não é em todos os postos que o consumidor encontra o diesel”, observa o consultor da ADK Automotive Business, Paulo Garbossa.
Para ele, ainda existe a barreira da mudança cultural. “Será que o brasileiro iria usar o diesel? Ele está acostumado com os veículos flex e a abastecer com gasolina e etanol”, diz.
Outra barreira, conforme o especialista, é o custo de produção do veículo à diesel, que é mais alto do que o do flex. “O motor é diferente”, observa. Garbossa ressalta que o uso do diesel em carros de passeio tem que ter viabilidade econômica e, logo, interesse das montadoras.
A reportagem procurou a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) – entidade que reúne as empresas fabricantes de automóveis, comerciais leves, caminhões ônibus e máquinas agrícolas –, mas o presidente da entidade, único que pode comentar o assunto, não estava disponível. Fontes do mercado dizem que as montadoras avaliam positivamente a proposta.
O assessor técnico da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) Ricardo Dilser explica que tecnicamente não há problemas para que veículos leves possam ser fabricados com motores a diesel. “Existe tecnologia para isso, só levaria tempo”, frisou.
Hoje, os veículos que podem ser encontrados na versão diesel são mais caros que os flex, por causa do custo de produção do motor. “Além disso, há impacto do dólar mais alto, já que esses motores são importados”, explica.
A Fiat Toro – picape derivada de um utilitário-esportivo (SUV) lançada em fevereiro deste ano – tem versões flex e diesel. No primeiro caso, o carro de entrada está na casa dos R$ 76,5 mil, enquanto que, no modelo diesel, a picape sai por R$ 96 mil, uma diferença de mais de R$ 20 mil. “O diesel é mais econômico, porém o veículo é mais caro. Agora, é possível amortizar a diferença com o passar dos anos”, observa Dilser.
Se aprovado o projeto, não significa que o motorista poderá optar pela gasolina, etanol e diesel no posto. “O motor dos carros flex é diferente do diesel, não dá para mesclar”, diz o assessor da FCA. A proposta está pronta para ser apreciada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.
Em queda
Volume. As vendas de gasolina no país caíram 9,2% em 2015 frente ao ano anterior. Acompanhando o fraco desempenho da economia, o consumo de diesel também recuou, em 4,7%.
Motor é mais eficiente que a gasolina e etanol

O diesel tem algumas vantagens, segundo o professor de engenharia mecânica do Centro Universitário Newton Paiva, Adilson Rodrigues: entre elas, o preço do combustível, além do maior rendimento do motor. Outro ponto positivo, de acordo com ele, seria o aumento de opções na hora de comprar um carro. Ele ressalta que o diesel é mais poluente na comparação com a gasolina. Logo, o ideal seria o uso do diesel S10, que esbarra no preço alto na comparação com os outros tipos de diesel.

O coordenador dos cursos de engenharia do UniBH, Hélder Almeida Júnior, ressalta que é necessário analisar a viabilidade da proposta, entre elas, a produção suficiente do combustível para abastecer o mercado. “Agora, o motor a diesel é mais eficiente”, garante Almeida Júnior. (JG)
Ministério é contrário à proposta

O Ministério de Minas e Energia (MME), em nota, informou que é contrário à proposta de ampliar o uso do diesel para os veículos de passeio no Brasil, já que o país importa o combustível. E ressaltou que há tratamento tributário diferenciado, inclusive de ICMS, para o combustível devido a sua aplicação prioritária para os meios produtivos e para os transportes de carga e coletivo de passageiros. “Adicionalmente, o Brasil dispõe do etanol para complemento de uso em veículos leves de transporte individual”.

O Ministério de Minas e Energia frisou que não existe subsídio ao preço do óleo diesel no Brasil em qualquer etapa de produção, distribuição e comercialização do produto, desde janeiro de 2002.

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