quinta-feira, 31 de março de 2016

Dilma: antecessores também cometeram pedaladas fiscais com respaldo

CRÍTICA

Petista chamou novamente de golpe um processo da sua saída sem comprovação de crime e reafirmou que não irá renunciar ao cargo de presidente

Dilma Rousseff
Dilma também voltou a criticar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por ter aceitado o pedido de impeachment
PUBLICADO EM 31/03/16 - 14h54
Em discurso duro contra o seu afastamento, a presidente Dilma Rousseff avaliou nesta quinta-feira (31) que todos os seus antecessores praticaram "pedaladas fiscais" e concluiu que, caso elas sejam usadas como motivo para a sua saída do cargo, todos deveriam também ter sofrido impeachment no passado.
Em evento intitulado "Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia", a petista chamou novamente de golpe um processo de impeachment sem a comprovação de um crime de responsabilidade contra o presidente e disse que tentam dar "um colorido democrático" ao processo de afastamento.
Para Dilma, qualquer jurista "responsável" e "bem-intencionado" reconhece que impeachment sem base legal não tem justificativa.
"O meu impeachment baseado nisso [pedaladas fiscais] significaria que todos os governos anteriores ao meu teriam de sofrer impeachment. Todos eles, sem exceção, praticaram atos iguais aos que pratiquei", disse.
Segundo ela, se em 1964 chamaram o golpe de revolução, agora chamam um processo sem base legal de impeachment, apesar do dispositivo estar previsto na Constituição Federal.
"O afastamento da presidente sem base legal é golpe. Na democracia, isso é golpe, não pode ter outro nome", disse. "Para cada momento histórico, o golpe assume uma cara. Na América Latina, as formas tradicionais foram intervenção militar. Agora, estão usando a ocultação do golpe através de processos aparentemente democráticos", acrescentou.
A petista criticou ainda o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por ter aceitado o pedido de impeachment. Segundo ela, o peemedebista tomou a decisão porque o governo se recursou "a participar de uma farsa" para inocentá-lo no processo contra ele na Comissão de Ética.
RENÚNCIA
Ela voltou a dizer que não renunciará o cargo e ressaltou que defendem essa alternativa porque sabem que o impeachment não tem base legal e porque acreditam que as mulheres são frágeis.
"Acham que as mulheres são frágeis. Nós de fato somos sensíveis, mas não somos frágeis", disse.
Dilma comparou o atual radicalismo no país ao regime nazista alemão, no qual, segundo ela, as pessoas são julgadas por adereços ou símbolos. Ela ressaltou que desde que foi eleita os partidos de oposição têm questionado sua legitimidade como presidente e que foi uma das únicas que teve as contas de campanha eleitoral analisadas até três vezes pela Justiça Eleitoral.
"O único governante que teve várias vezes as contas vistas e revistas. Para mim, não é necessário aprovar uma vez, mas duas ou três. É uma matemática politica muito estranha", disse.
"CAMPANHA PELA LEGALIDADE'
A petista participou de evento que faz parte de esforço do Palácio de tentar repetir a "Campanha pela Legalidade" da década de 1960, feita em defesa da posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros. Na semana passada, evento similar foi realizado com advogados e juristas.
Os participantes entregaram à presidente manifestos e moções contrárias ao impeachment e entoaram gritos contrários como "não vai ter golpe" e "golpistas não passarão", além de terem feito criticas às coberturas dos veículos de imprensa.
Entre os presentes, estavam as cantoras Beth Carvalho e Leci Brandão, os atores Osmar Prado, Letícia Sabatella, Antônio Pitanga e Tássia Camargo, os diretores Anna Muylaert e Luiz Carlos Barreto e o escritor Raduan Nassar.
Para Osmar Prado, não há "causa suficiente" para o impeachment da presidente. "Não há nada que desabone a presidente e pedalada fiscal não é crime de responsabilidade", defendeu.
DIFICULDADES DO GOVERNO
Em discurso, a atriz Letícia Sabatella ressaltou que ela é de oposição ao governo petista, mas ponderou que entende as atuais dificuldades do governo e criticou o que chamou de um "plano maquiavélico de tomada de poder".
"Saber que o motivo que usam para tirar a presidente não é por um erro, mas por um acerto, dói demais", disse.
Em vídeo, exibido no evento, o ator norte-americano Danny Glover disse que a petista "não está sozinha" e que apoia o movimento contrário ao impeachment. Em português, arriscou o slogan dos movimentos pró-governo.
"Nós estamos com você e declaramos: não vai ter golpe", disse.
Em discurso, a cantora Beth Carvalho disse que participou do ato de apoio "em amor à liberdade" e ao seu compromisso "com a democracia". No fim de sua fala, disse que "haverá luta" se o impeachment for aprovado.
"Neste momento, em que os avanços sociais conquistados estão seriamente ameaçados pela direita, a classe artística se levanta mais uma vez como vanguarda pela defesa da democracia e da legalidade", disse.
Em vídeo, o neurocientista Miguel Nicolelis pediu à presidente que "resista", porque ela "não está sozinha".
"Golpes são coisas do passado e jamais poderão ser aceitos no presente e no passado. Temos responsabilidade de manter a democracia e ampliá-la", disse.

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