segunda-feira, 7 de março de 2016

Governo Dilma sangra, mas ainda é cedo para prever fim

Longo

Especialistas e políticos dizem que julgamento de campanha no TSE se estenderá por dois anos

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PUBLICADO EM 07/03/16 - 03h00
A última semana pode entrar para a história como os dias decisivos para se traçar o destino do governo Dilma Rousseff. A suposta delação de Delcídio do Amaral, os depoimentos de dirigentes da Andrade Gutierrez, a prisão do marqueteiro do PT João Santana e a condução coercitiva do ex-presidente Lula, entre outros episódios, dão mais fôlego ao impeachment. Analistas e políticos apontam, contudo, que ainda é cedo para cravar o fim do atual governo. A única certeza atual é que ele irá agonizar até o seu último dia, seja quando for.

As medidas possíveis para estancar o desgaste, como uma recomposição da base aliada, o diálogo com a oposição e propostas de reformas, avaliam, já não são factíveis, pois não há mais tempo hábil e ambiente político para serem adotadas.

Para o presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), Leonardo Avritzer, é cedo para avaliar se o governo “está na lona”. “O governo tentou fazer mudanças, como a troca de ministros, mas tarde demais. Uma recuperação vai depender da reação pública e do Congresso”.

O cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Marco Antônio Teixeira, avalia que o Planalto está acompanhando os desdobramentos da Lava Jato atordoado. “As novidades a cada dia dificultam qualquer estratégia de reação. A questão agora é saber se há o que se justificar”, disse. Além disso, ele observa que outros fatores podem embaralhar o impeachment. “O julgamento no TSE se estenderia até o próximo ano com recursos, até lá, nomes da oposição podem aparecer”. Para ele, o que seria possível para amenizar os prejuízos é rebater, ponto a ponto, as denúncias.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) reconhece que o desgaste se intensificou significativamente, mas lembra que, juridicamente, ainda é preciso ter provas. “O impeachment não é a celeridade da Polícia Federal. Para além das declarações do Delcídio, é preciso provas de que Dilma cometeu crime”, disse.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) observa que uma saída seria um diálogo entre partidos e sociedade. Mas, segundo ele, a oposição não estará aberta a isso. “Não só porque tem agora mais argumentos contra Dilma, mas porque existe menos confiança. O Brasil está fraturado. Se esse mandato for até o fim, chegará dilacerado”.

Cláudio Couto, também da FGV, não acredita que o governo encontrará uma saída. “O governo hoje é um zumbi, um morto-vivo, pode conseguir empurrar o problema com a barriga, mas só”.

Desfecho. A avaliação é de que se o fim dessa gestão chegar antes de 2018, ele virá por meio de uma ação no Congresso, que seria mais rápida do que o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A renúncia é improvável pelo perfil psicológico de Dilma. O caso no TSE pode se arrastar com recursos e seria um afastamento da chapa, incluindo Michel Temer. O ambiente favorece o impeachment no Congresso. Seria mais simples”, avalia Couto.

O cientista político da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Antônio Mazzeo pondera que, apesar do desgaste e das políticas equivocadas, o PT tem base social “muito grande e influência sobre esses movimentos”. “Eles não ficarão quietos. Assim como as manifestações contra ganharão força. Por isso, é cedo falar em fim”.
Reação pode causar até saída do PMDB

A reação do PMDB diante dos novos golpes contra o Planalto é também um fator que pode influenciar no destino do governo. Os novos fatores serão um teste. Os últimos acontecimentos podem contribuir para que a ala do PMDB que defende a saída da sigla do governo pressione e use a delação de Delcídio e o depoimento de Lula para legitimar o desembarque.

“O PMDB está dividido. O que define sua participação no governo é a ocupação de espaço. O partido ainda tem feridas internas, como a questão do Eduardo Cunha. O PMDB tem problemas domésticos para se preocupar”, disse o cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV.

“O problema é que o PMDB não consegue viver sem estar no governo, é preciso saber se eles irão abrir mão dos ministérios e dos cargos que têm. Não é da natureza do partido, que é governista por excelência. Mas, do jeito que as coisas estão improváveis, até isso é possível”, pondera o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). 
Os processos em curso do impeachment de Dilma

No Congresso: 
Deflagrado em dezembro, o trâmite está empacado na formação da comissão especial dos deputados que emitirá parecer recomendando ao plenário votar pela abertura ou não do processo. Caso dois terços votem pela abertura, a decisão deverá ser referendada pelo Senado

TSE: São quatro ações movidas pelo PSDB que tentam provar abuso de poderes político e econômico nas eleições de 2014. Os processos citam a Lava Jato e a oposição irá tentar incluir a delação de empreiteiros e de Delcídio.

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