domingo, 27 de março de 2016

O que está em jogo é o futuro da democracia’, diz André Singer

Porta-voz da Presidência durante o primeiro governo Lula diz acreditar que ainda há uma saída para Dilma

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O cientista político André Singer - MArcos Alves / O GLOBO
SÃO PAULO - Autor de 'Os sentidos do lulismo', porta-voz da Presidência durante o primeiro governo Lula e atual professor de ciência política da USP, André Singer diz acreditar que ainda há uma saída para Dilma.
Como o senhor vê o processo de impeachment em curso?
O processo está muito bem articulado e diria até bem avançado. O problema é que não tem uma base suficiente para legitimá-lo. Desde que a presidente Dilma foi reeleita, a oposição está buscando um pretexto para fazer o impeachment. E o impeachment não pode ser feito nessa base.
Existe uma saída para o governo?
Acho que sim. A presidente Dilma faz muito bem de resistir. Eu acho que a declaração dela de que não vai renunciar é muito importante, porque, mesmo que o impeachment venha a ocorrer, mostra a sua ilegitimidade. O que está em jogo é o futuro da democracia. E o governo tem chance de reverter o quadro se continuar governando. Apesar de ouvir muito nos meios de comunicação que há um desgoverno, eu não vejo isso. O governo pode ter errado, mas não enxergo nenhum sintoma de irresponsabilidade. A presidente Dilma é séria. Neste momento, a presença do ex-presidente Lula vai ajudar.
Qual deve ser o efeito da entrada do Lula?
Se ele vier a tomar posse, o que eu espero que aconteça na semana que vem, significa uma reorganização do governo em torno de uma linha central que é: recompor politicamente as bases e ao mesmo tempo elaborar novas políticas econômica e de comunicação. Acho que a capacidade dele de se comunicar poderia dar uma nova vida ao governo.
Ele vem recebendo muitas críticas de que só quer o foro privilegiado. Como fica a imagem do Lula?
Uma parte da sociedade brasileira foi sendo atingida por uma onda de denúncias oriundas da Lava-Jato e pela enorme divulgação dessas denúncias. Na minha opinião, a Lava-Jato tinha uma orientação, em geral, republicana. No entanto, as últimas ações do juiz Sérgio Moro colocaram sob suspeição essa afirmação. Ele tomou duas atitudes - a condução coercitiva do ex-presidente Lula e a divulgação das gravações de escuta telefônicas -, que são ilegais. Não se sabe mais qual a intenção da Lava-Jato. Simultaneamente, os meios de comunicação continuam muito voltados para uma sustentação acrítica da operação. Essas duas coisas podem ter um efeito de longo prazo para a democracia brasileira. Acho que é preciso preservar neste momento a luta contra a corrupção. É claro que a imagem do ex-presidente Lula está muito afetada por tudo isso, porque ele foi colocado no centro desse processo.
O Lula teria capital político para a eleição de 2018?
Na data de hoje, eu diria que ele tem. Não é um capital político tão grande como ele tinha. Mas ainda tem. Na última pesquisa do Datafolha, 35% ainda disseram que ele foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Ele ainda tem uma força expressiva.
Como o senhor viu o posicionamento do ex-presidente Fernando Henrique pelo impeachment?
Há uma irresponsabilidade por parte da oposição em apoiar esse processo de impeachment.
Por que a presidente Dilma está enfraquecida?
Está enfraquecida sobretudo porque a situação econômica piorou muito. Acho que algumas decisões que ela tomou contribuíram para isso, outras são circunstanciais, como a economia internacional. Também está enfraquecida porque recaiu sobre o PT uma parte significativa dessas denúncias de corrupção e o PT não tem dado respostas suficientes diante dessas acusações. E acho que há o papel jogado pelo PMDB. Aconteceu de o partido ter na presidência da Câmara um deputado excepcionalmente agressivo (Eduardo Cunha/PMDB-RJ), que moveu uma campanha contra a presidente. E o PMDB também ser presidido por um político que é o atual vice-presidente (Michel Temer), e que na hora decisiva em lugar de tentar um processo de composição, deu sinais de que tinha passado para o lado dos que estão simpático ao impedimento da presidente.

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