sábado, 26 de março de 2016

País só conserta se cidadão espantar pequenas corrupções

Orion Teixeira / 26/03/2016 - 06h00
Jornal Hoje Em Dia
Orion Teixeira Orion Teixeira é jornalista político. Escreve de terça-feira a domingo neste espaço.
No momento em que a maioria dos brasileiros está com o olhar voltado para as caixas pretas das empreiteiras Andrade Gutierrez e da Odebrecht – que expõem a tradicional e corrompida prática política do país, da situação à oposição, de conservadores a progressistas, da direita à esquerda –, a hora também é oportuna para que o cidadão se pergunte por que a gente é assim. Todos estão a condenar os políticos como se eles fossem corruptos por serem políticos e como se, fora dali, na vida cotidiana de cada um, não houvesse fraudes e corrupção também.
Passou da hora de a sociedade olhar para o próprio umbigo. Em algum momento de sua vida, a maioria dos cidadãos já recorreu àquele jeitinho para se livrar de multa de trânsito, evitar o pagamento de imposto, seja sonegando ou negociando recibos, sem registro ou falseado, com médicos, comprando cigarro ou CD, DVD piratas, etc. O Brasil tem, por exemplo, 25% de fumantes, dos quais um terço consome cigarro contrabandeado do Paraguai, sem risco de prisão. Nem carece de citar aqueles que sustentam o tráfico, consumindo suas drogas ilícitas.
Depois da Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras, esse Brasil nunca mais será o mesmo. O que será? Seja o que for, o cidadão não pode achar que a hipocrisia surgiu somente agora. Os políticos sempre agiram assim, com informalidade, para sustentar a atividade, baseado na relação de corruptor e corrompido. De bolsas de estudos dadas por deputados, Q.I., nepotismo e carta de apresentação foram práticas, até popularmente simpáticas, usadas para alçar posições ou justificar nosso insucesso em alguma concorrência ou concurso.
O PT da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula estão sendo execrados publicamente porque são a bola da vez, mas ele mesmo já pediu o impeachment dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor (único cassado) e de Fernando Henrique por três vezes. O certo é que não será por meio da Operação Lava Jato que a mudança irá acontecer. Um país que depende de apenas um homem para fazer a mudança corre o risco de continuar fracassando, ao ignorar que a transformação passa por todos.
Nem adianta mudar só um setor, se o resto do país não participar igualmente. Entidades historicamente importantes e combativas, como a OAB, defendem, hoje, a retirada da presidente e do PT do governo, mas nenhuma delas apresenta as necessárias mudanças para consertar o país. Tratam o PT e o ex-presidente Lula como se bandidos fossem, quando precisamos reconhecer que, se esses cometeram crimes, todos os outros também o fizeram.
Ovo de Páscoa
Teremos eleições municipais neste ano, mas escolheremos nossos “representantes” nas prefeituras e nas Câmaras Municipais como sempre fizemos. Sem compromissos e projetos definidos, que, do palanque inflamado caem no esquecimento geral em flagrante explícito de estelionato eleitoral. Ou seja, não podemos continuar jogando o mesmo jogo, que está a exigir novas e claras regras (reforma política, como gritaram os jovens das manifestações de rua daquele recente julho de 2013).
A Semana Santa chega a ser simbólica para o momento atual brasileiro. Dessa reflexão, pode sair do “ovo de Páscoa” o embrião da necessária renovação política e social.

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