sábado, 5 de março de 2016

Polarização é armadilha de riscos ao confronto social


Orion Teixeira
Orion Teixeira
orionteixeira@hojeemdia.com.br
  

05/03/2016


Com o exagero costumeiro, a condução coercitiva do ex-presidente Lula (PT) produziu, na sexta (4), dois shows midiáticos, o da operação da Polícia Federal, com todo aquele aparato e direito à transmissão ao vivo, para ouvir um depoimento que poderia ter sido feito por ofício e o pronunciamento do vitimado líder petista, quase em rede nacional por meio do sinal exclusivo da TV dos Trabalhadores (TVT). No estado de direito, a coerção só deveria ser aplicada em situações de resistências do alvo de suspeição, especialmente e no momento em que a Suprema Corte se preparava para julgar questionamento de competência sobre o caso.

De outro lado, em vez de dar respostas pontuais às suspeitas que o envolvem na perigosa relação com empreiteiros, em meio à troca de favores, falando e se defendendo perante o país, o ex-presidente preferiu falar somente aos convertidos. Quando mobiliza, como fez, e põe fogo na militância petista “para que levante a cabeça”, produz também efeito colateral, ao estimular o “outro lado” a fazer o mesmo.

Tudo somado, estamos nos aproximando de um conflito social em que grupos rivais se defrontarão nas ruas como briga de torcidas organizadas após um clássico das multidões. Neste final de semana, como na sexta (4), haverá manifestações pelas ruas com riscos de confrontos. Lula e o PT e seus opositores precisam entender que a crise política não será resolvida no grito.

Se há, como dizem uns, golpe em curso, com apoio dos meios de comunicação e de parte do judiciário, ou não, como avaliam outros, é necessário deixar o discurso da vitimização para dar respostas às demandas judiciais, resultantes, segundo a própria presidente da República, Dilma Rousseff (PT), do fortalecimento das instituições. Ainda que traga indignação, exageros e mesmo injustiças, é fundamental acreditar, fundo, no estado de direito e nas instituições antes de chutar o balde e convocar as ruas.

Em outros países, onde situação semelhante foi experimentada, a direita está, a cada dia, ressuscitada e crescente. A polarização no país há muito deixou o campo político para envolver a própria sociedade, o que é um fato inédito. Hoje, amigos se desentendem facilmente, alguns nem se falam mais por conta desse empobrecido debate político.

Como tenho repetido aqui, até com insistência, o debate político de hoje mais se parece com aqueles torcedores rivais (cruzeirense e atleticano) discutindo, na porta do estádio, sobre quem é o melhor.

A culpa não é só dos torcedores, mas o bom exemplo e a boa política deveriam vir de cima, por quem brigou pelo resgate da democracia. Se não é assim, por que, então, Dilma e o senador Aécio Neves (presidente nacional do PSDB), ou o ex-presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB), não se sentam à mesa para conversar sobre os problemas do país?

Não, preferem, cada um a seu modo, disparar farpas aqui e acolá contra o rival e, agora, querem que os torcedores façam o mesmo nas ruas. Isso será como acender a fósforo em um ambiente encharcado de combustível. Como na política e na economia, a solução terá que ser política. Ou a política conserta a política e economia ou essa última provocará fortes mudanças na primeira.

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