Acílio Lara Resende
PUBLICADO EM 14/04/16 - 03h00- O Tempo
O argumento de que o impeachment da presidente da República é golpe
está restrito ao PT e, depois, ao PCdoB. Tudo indica que fracassou a
estratégia eleita pelos que ainda sonham com a permanência deste governo
até 2018. Restou-lhes, então, o desespero, como ficou provado no
discurso de anteontem da presidente.
O desespero, como se sabe, nasce no fígado. Ulysses Guimarães, o
“Senhor das Diretas”, afirmava que “não se pode fazer política com o
fígado, conservando o rancor e ressentimentos na geladeira. A pátria não
é capanga de idiossincrasias pessoais”.
Leitor: você já refletiu sobre qual será o relacionamento da presidente
com seu vice se, por um milagre, ela vier a permanecer à frente dos
destinos do país? Principalmente depois do que disse dele e mesmo
levando em conta que Temer nunca passou de mero conciliador? Teríamos
aí, com certeza, mais um fortíssimo elemento favorável à
desestabilização e num momento complicado para qualquer governante.
Apesar das opiniões em contrário, sobretudo de alguns intelectuais que merecem nosso respeito, o impeachment não é golpe, está previsto na Constituição e é, na verdade, a resposta aos terríveis desmandos e/ou equívocos cometidos pelo governo da presidente Dilma como um todo, mas, sobretudo, por ela, pessoalmente.
Dilma provou que não tem (nem nunca teve) condições de conduzir o
Brasil numa crise como a que atravessa o país desde sua primeira
vitória, em 2010. No início de seu segundo mandato, a presidente ainda
tentou se distanciar do partido ao qual pertence e, para ser mais
verdadeiro, até mesmo do ex-presidente Lula, seu “intimorato” criador,
com vistas à faxina que na época inventou e chegou a botar em prática,
mas que terminou, apenas, com a demissão de alguns de seus (ou de Lula?)
péssimos ministros.
Se, por hipótese, Dilma continuar até 2018, você já imaginou, leitor, o
que será do governo não dela, claro, mas do ex-presidente Lula, pois
terá sido ele quem a segurou na Presidência e por isso teria, na prática
(que, no caso, vale mais do que a teoria), seu terceiro mandato? Lula
governaria de onde? Da Casa Civil, para cujo ministério Dilma o nomeou,
ou de um simples quarto de hotel? Com pés e mão atados pela operação
Lava Jato, com que forças Lula contaria? E as outras ameaças de pedidos
de impeachment, como, por exemplo, o da OAB, que é tão ou mais
consistente do que aquele a que responde agora?
E, enfim, leitor, apenas um necessário corretivo.
Essa “história”, repetida tantas vezes, de que Dilma – “Coração Valente” – foi presa no regime militar porque defendia a democracia foi novamente defendida, ontem, por seu ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Isso, porém, não é verdade. A jovem contestadora de ontem lutava, na realidade, em favor da implantação de um regime totalitário. Eram totalitários os fundamentos dos movimentos a que pertenceu. Mas isso seria desculpável, leitor. Tratava-se de uma jovem idealista. Seria, se ela reconhecesse que um dia sonhou com um regime tão nefasto e cruel quanto aquele que foi imposto aos brasileiros durante 25 anos, mas que, mais tarde, dele em boa hora recuou. Só que Dilma nunca soube ser humilde. A soberba, às vezes, prefere a mentira.
O impeachment é remédio constitucional, já defendido pelo PT contra
Fernando Collor. Mas, para valer, precisa respeitar a vontade do povo
que o abraçou. O sucesso de um eventual governo Temer só se dará se ele
compreender isso. Do contrário, cairá também.
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