quinta-feira, 7 de abril de 2016

Médico é suspeito de estuprar pacientes durante tratamentos estéticos

EM MONTES CLAROS

Dermatologista disse à polícia que, mesmo para fazer um procedimento facial, pedia para ver todas as partes dos corpos das pacientes; após consultas, duas vítimas, que eram virgens, sentiram ardência na região vaginal

PUBLICADO EM 07/04/16 - 11h21
Dermatologista renomado e professor universitário acima de qualquer suspeita. O perfil é de um médico de 48 anos que teve a prisão temporária decretada após duas denúncias de estupros contra pacientes em uma clínica de estética de Montes Claros, no Norte de Minas. O caso foi apresentado pela Polícia Civil na manhã desta quinta-feira (7). As vítimas, duas primas, denunciaram os abusos em março, quando, supostamente, teriam sido dopadas durante um procedimento facial a laser.
De acordo com a delegada Karine Maia Costa, as investigações começaram no dia 21 de março, quando uma jovem de 21 anos procurou a Delegacia de Mulheres. “Ela contou que no dia 17 procurou a clínica, que é muito conhecida na cidade, para um procedimento simples indolor que deveria durar cerca de 30 minutos. Porém, ela foi sedada no começo da consulta, por volta de 13h30 e só foi acordar às 10h30 do dia seguinte. Ao levantar, a vítima, que até então era virgem, sentiu ardência na região vaginal”, explicou a policial.
Após conversar com a família, ela procurou a polícia e passou por exame de corpo de delito, que constatou o rompimento do hímen. Ao saber o que tinha acontecido com a prima, uma mulher de 23 anos, que também nunca havia mantido relação sexual, lembrou que após uma consulta também sentiu ardência.
“Ela nos contou que, durante um procedimento, ele pediu para ver seus lábios vaginais para fazer alguns exames. Em seguida, a paciente foi sedada para o procedimento estético e quando acordou percebeu que o médico havia cauterizado uma pinta em sua virilha sem autorização. Diante dos depoimentos, começamos a ouvir outras pessoas”, contou a delegada.
Nessa quarta-feira (6), a prisão foi realizada dentro da clínica, que estava cheia de pacientes aguardando atendimento. Ainda conforme a delegada, ao ser questionado, o médico se manteve tranquilo e negou os crimes. No entanto, entrou em contradições, segundo Karine. “Ele negou os estupros, mas confirmou que pedia para olhar todas as partes dos corpos das pacientes. Questionei se ele precisava fazer isso mesmo quando realizava apenas um procedimento estético no rosto, por exemplo, e ele disse que sim, tinha obrigação profissional em fazer isso”, disse.
Após o caso ser divulgado, outras três denúncias foram registradas contra o dermatologista e já são investigadas. “As outras denúncias também são de jovens. Temos informações que apenas mulheres mais novas eram sedadas. As pacientes mais velhas não recebiam nenhum tipo de medicação”, afirmou Karen.
O homem, que é casado, tem dois filhos e até então não tinha antecedentes criminais, vai responder por estupro de vulnerável, uma vez que os crimes aconteceram enquanto as vítimas estavam dopadas, o que impossibilitava qualquer tipo de defesa das mulheres. Caso seja condenado, ele pode pegar de oito a 15 anos de prisão.
A reportagem de O TEMPO tentou contato com o advogado do médico, mas as ligações não foram atendidas. A assessoria de imprensa da universidade ficou de se posicionar. Na clínica, ninguém foi encontrado para comentar o caso.
Pai de vítima agride médico
Durante a prisão, o médico chegou a ser agredido pelo pai de uma das vítimas na porta da clínica. “Não sabíamos que o pai estava na porta. Na hora que os policiais saíram, o homem chegou perto e deu um tapa no dermatologista. Em seguida, a situação foi controlada e o suspeito encaminhado à delegacia", disse a delegada.
Conselho de Medicina instaura sindicância para apurar o caso
O Conselho de Medicina Regional de Montes Claros tomou conhecimento do caso pela imprensa e já abriu uma sindicância para apurar os fatos. “Nossa sindicância tem por finalidade iniciar a apuração das possíveis infrações médicas. Temos que ouvir o dermatologista e as denunciantes. Logo depois, o conselho abre um processo”, explicou o conselheiro Itagiba de Castro Filho.
De acordo com o médico, o suspeito tem 26 anos de profissão, se formou na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e se especializou em dermatologia. Até então, o conselho não havia recebido nenhuma denúncia contra o profissional.
“O conselho tem o maior interesse e obrigação de apurar com rigor essas denúncias de abuso sexual. O resultado da investigação policial é extremamente importante para o conselho levar adiante o processo”, contou Filho.
Terminada a apuração policial, o relatório do conselho é encaminhado a pelo menos 11 conselheiros. Se comprovados os crimes, a punição pode ser desde uma advertência até a cassação do registro. Caso a defesa consiga que o dermatologista responda o processo judicial em liberdade, ele pode voltar a atuar na área médica.
“Se ele for solto, enquanto as investigações correm, não há proibição para que ele volte a atender seus pacientes. Se ele ainda não é considerado culpado, não pode ser impedido de exercer sua profissão”, finalizou o conselheiro.

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