sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ministério está atento a pessoas que tomam 'iniciativas de ódio', diz Aragão

01/04/2016 15h25 - Atualizado em 01/04/2016 15h52

Ministro da Justiça comparou momento atual ao período da ditadura no Brasil.
Pessoas que ‘ultrapassam a linha vermelha’ terão devida resposta, afirmou.

Laís AlegrettiDo G1, em Brasília

Em evento que relembrou os 52 anos do golpe militar no Brasil, o ministro da Justiça, Eugênio Aragão, comparou o momento atual do Brasil àqueles “tristes tempos” e disse que o ministério está atento a pessoas que tomam "iniciativas de ódio" e que "não querem a democracia".
Na quinta-feira (31), o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, falou sobre o risco do surgimento do "primeiro cadáver” em razão do ambiente de “radicalização” e “intolerância” política desde as eleições de 2014. Ele criticou o que chamou de “incentivo aberto” à violência nas redes sociais, o que, para o ministro, deveria ser caracterizado como crime.
Também nesta quinta, a presidente Dilma Rousseff disse, durante encontro com artistas e intelectuais contrários ao processo de impeachment que ela enfrenta, que "não se une o país destilando ódio, rancor, raiva e perseguição”.
“O ministério está atento às pessoas que estão tomando iniciativas de ódio, de intolerância, que não querem essa democracia que construímos. As pessoas que ultrapassam a linha vermelha e com violência, [que] tratam seus semelhantes com desprezo, seja no mundo real, seja no mundo virtual, terão a devida resposta deste ministério. Porque neste momento nós não podemos mostrar fraqueza”, afirmou Aragão, em discurso no Ministério da Justiça.
Em seguida, o ministro da Justiça disse que "é importante resistir" e que não se pode "tolerar" quem não conseguiu vencer eleição e quer "quebrar a ordem democrática" no "tapetão".

"Se mostramos fraqueza, seremos dominados e corremos risco de retrocessos. É importante resistir. Não temos que ter medo, porque o medo é que nos paralisa. Temos que ir para frente, com serenidade, mas com mutia disposição e decisão. Não podemos tolerar que aqueles que não conseguiram ganhar uma eleição queiram agora, no tapetão, quebrar a ordem democrática", disse.
O ministro mencionou a existência de um "discurso oportunista e ideológico" e disse que é necessário "lutar com firmeza" pela liberdade conquistada.
"Tentaram de todo modo fazer com que esse governo não pudesse assumir o seu lugar. Fizeram-no no TSE [Tribunal Superior Eleitoral], fizeram-no no Poder Legislativo, buscam-no no Poder Judiciário, seja através de iniciativa levadas ao Ministério Público, à polícia, a juízes de direito, mas não podemos estremecer nesta hora. Nós temos que ficar atentos, todos nós, saber claramente o que está me jogo e lutar com firmeza pela liberdade que conquistamos. Liberdade que é para nos e, curiosamente, para eles também", disse.
Após mencionar a luta pela liberdade, o ministro disse que há uma luta para que a presidente Dilma Rousseff prossiga em seu mandato.
"Não queremos perder conquistas populares e sociais. Este momento, portanto, é momento que devemos mostrar nossa disposição, nossa garra, exatamente nessa efeméride, nesse dia triste para a História do Brasil".
Ao fim do discurso, ele disse que conclamava o público a resistir. "Resistamos a todas as tentativas de golpe", afirmou.
52 anos do golpe
Aragão disse que a ditadura militar foi um período "sombrio" e que "se inaugurou pela intolerância, pela raiva, pelo ódio, pelo desprezo às lutas populares, pela incapacidade de diálogo".
"Estamos aqui num momento da vida nacional muito significativo, neste momento também, em que muitos aspectos que estamos experimentando hoje lembram aqueles tristes tempos. Esta data de hoje talvez deva ser pra todos nós momento de reflexão. Nós devemos neste momento talvez refletir a respeito da tolerância, do diálogo, da necessidade de construirmos pontes para que aquilo que aconteceu naquela época, há 52 anos, não volte a se repetir", afirmou.
O ministro afirmou que a democracia foi construída com muito "custo" e muita "dor" e que deixou várias vítimas que resistiram o regime militar.
O discurso de Aragão foi feito no Ministério da Justiça, onde ocorreu a solenidade inaugural das sessões de 2016 da Comissão de Anistia. Durante o evento, que lembrou os 52 anos do golpe militar, houve homenagem a personalidades que foram perseguidas políticas durante a ditadura ou que contribuíram na luta pela redemocratização do país.
Clima de hostilidade
A hostilidade entre defensores e contrários ao impeachment se refletiu em atos de vandalismo e em declarações de políticos.
Sedes do PT em diferentes pontos do país foram alvos de ataques. Entre outros episódios de violência, no mês passado, o diretório do partido em São Paulo foi atingido por uma bomba e a sede de Belo Horizonte foi alvo de três ataques. Em Jundiaí, vândalos atearam fogo à sede da legenda. O mesmo ocorreu em Goiânia.
Uma bomba caseira também foi arremessada contra a sede do Instituto Lula, que representa o ex-presidente, em São Paulo. De acordo com o Instituto, uma câmera de segurança registrou que o artefato foi arremessado de dentro de um veículo que diminuiu a velocidade ao passar pela sede do Instituto.
Ainda em São Paulo, a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) sofreu pichação, o que motivou inclusive a divulgação de uma nota de protesto da presidente Dilma Rousseff. Na mesma nota, ela pediu providências em relação a uma ação de policiais militares na subsede de Diadema do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC durante um ato de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula fala em "bater nos coxinha" na gravação de uma escuta telefônica autorizada pela Justiça e divulgada no último dia 16 pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal. Na conversa com o irmão Genival da Silva, o ex-presidente se refere a um ato diante do prédio onde mora em que "vai ter um monte de peão na porta de casa para bater nos coxinha".
"Se os coxinhas aparecer vão levar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer", disse ao irmão.
No último dia 26, o presidente nacional do PT publicou mensagem em seu Facebook na qual afirmou que iria lutar para defender o estado democrático, e acrescentou: "As manifestações mostram o seguinte: queremos a paz, mas não tememos a guerra".
Na última segunda (28), o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), chamou os que querem o impeachment de "essa gente" que quer "vingança" e afirmou, diante do então iminente rompimento do PMDB com o Planalto, que o vice-presidente Michel Temer será o próximo a cair caso Dilma sofra o que chamou de "golpe constitucional".

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