Humberto Costa: "Aquela passionalidade que existe na Câmara, aqui não tem; acredito que podemos ter resultado diferente"O Partido dos Trabalhadores aposta na mobilização social e no Senado para tentar reverter a tendência de cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). A executiva nacional do legenda traça em reuniões – realizadas ontem e hoje – as estratégias que serão adotadas a partir de agora.
A oposição já trabalha com 45 a 50 votos de senadores favoráveis ao impedimento. Com esse número, os defensores do afastamento da petista já contam com maioria simples para aprovar o parecer na comissão especial no próximo dia 5 de maio. Caso a aprovação seja garantida em plenário, posteriormente, Dilma deixará temporariamente o cargo e dará lugar ao vice, Michel Temer (PMDB).
No entanto, para cassar o mandato de Dilma Rousseff, os opositores ainda não dispõem do montante de parlamentares necessários, já que teriam que garantir 54 votos.
Ontem, no Senado, o PT reuniu a sua bancada e senadores de partidos aliados para avaliar a derrota de domingo. O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que a discussão na Casa não é tão emotiva quanto na Câmara, o que pode favorecer a presidente. “O Senado é uma casa diferente, com menos parlamentares. Aquela passionalidade que existe na Câmara, aqui não tem, as discussões são mais racionais, acredito que podemos ter um resultado diferente”, disse.
Quanto à criação da comissão especial do impeachment, Costa criticou o posicionamento do presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR), que articula para que o tucano mineiro Antonio Anastasia assuma a presidência, e a gaúcha Ana Amélia (PP) seja a relatora.
“Acho que Jucá já está se sentindo ministro ou futuro presidente do Senado e quer atropelar o processo”, criticou o líder do governo.
Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), argumenta que Ana Amélia não teria isenção, já que o PP, anteriormente aliado do PT, se posicionou a favor da derrubada de Dilma.
O questionamento dos petistas é porque o regimento interno da Casa afirma que a relatoria das comissões especiais é destinada à maior bancada (atualmente do PMDB) e, a presidência, à segunda maior bancada (atualmente do PT). “Vamos lançar mão do regimento para defender essa posição”, assegurou Lindbergh.
O senador Antonio Anastasia está à espera de uma definição em relação à comissão para se pronunciar. Ela deve ser eleita até amanhã com representantes de todos os partidos.
Ainda, no Senado, os defensores do governo Dilma buscarão aliados de partidos que votaram contra o impeachment da presidente na Câmara. “Alguns partidos fecharam questão e provavelmente devem tentar aplicar essa norma aqui (no Senado)”, destacou Humberto Costa.

Greve
Um importante grupo que historicamente acompanha o PT e promete lutar contra o impedimento é o dos petroleiros. As lideranças da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que passaram a semana passada em Brasília, foram ao Rio de Janeiro para participar de reunião na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para tratar dos próximos passos do movimento sindical.
A FUP participou ativamente das manifestações contrárias ao impeachment. Durante toda a semana passada, nas vésperas da votação na Câmara, concentrou suas reuniões no Distrito Federal para acompanhar de perto as manifestações. Aprovado o impeachment na Câmara, será construída uma nova estratégia de atuação, com foco no Senado.