Mulher de um dos novos ministros da equipe de Dilma, ex-miss Bumbum tira fotos no gabinete do marido e dissemina na internet o retrato de um governo que agoniza
Na
manhã de segunda-feira, a ex-miss Bumbum Milena Santos foi a um salão
de beleza de Brasília. Queria se produzir para o grande evento do dia:
um ensaio fotográfico da sua primeira visita ao novo gabinete do marido,
o petista Alessandro Teixeira, nomeado três dias antes pela presidente
Dilma Rousseff para o cargo de ministro do Turismo. Conhecida na
internet, local onde se contam às dezenas as páginas em que aparece em
fotos sensuais e vídeos eróticos, Milena vive há dois anos com o
ministro, mas, até onde se sabe, mantinha-se, digamos, recolhida desde
que chegou a Brasília. Na semana passada, decidiu que era hora de
fazer-se, digamos, mais visível. Com um vestido branco de um só botão,
abaixo e acima do qual tudo se revelava, ela posou para fotos e depois
postou as imagens na página de uma rede social. Exibindo uma bolsa Dolce
& Gabbana de 8 000 reais, a ex-miss Bumbum aparece nas fotos
trocando olhares e beijos com o marido, faz poses diante da mesa de
reuniões e ao lado da bandeira nacional. "Compartilhando com meus amigos
meu primeiro dia de primeira-dama do Ministério do Turismo do Brasil.
Te amo, meu amor, juntos somos mais fortes. Não é atoa (sic) que ao lado de um grande homem existe sempre uma linda e poderosa mulher", escreveu ela.
Em questão de minutos, a sessão de fotos causou furor nas redes
sociais - e, claro, virou notícia. Com o governo derretendo e a
presidente da República em via de ser despejada do Palácio do Planalto,
era a cena que faltava para imprimir a marca de zorra total ao clima de
fim de festa em Brasília. O fato de o coadjuvante do escândalo ser
figura próxima da presidente só fez piorar a situação. O gaúcho
Alessandro Teixeira é homem de confiança de Dilma, ocupou cargos
importantes no governo e participou da coordenação da campanha da
petista à reeleição. Em tempos normais, o ministro - qualquer ministro -
que se visse envolvido nessa situação, digamos, insólita teria sofrido
pelo menos uma das famosas reprimendas da chefe. Os tempos são outros. A
anestesia da presidente reflete o estupor reinante nas repartições
públicas de Brasília.
São muitos os sinais de que o governo experimenta seus últimos dias
de poder. Na manhã de quinta-feira, no subsolo do Palácio do Planalto,
funcionários providenciavam caixas de papelão vazias. A limpeza das
gavetas foi antecipada. A rotina também já era bem diferente daquela dos
dias normais. "Na verdade não dá nem para falar em rotina. Está tudo
parado por aqui", disse uma funcionária da Presidência. "O clima é de
enterro. Está começando a cair a ficha de que erraram feio." Dilma ainda
tenta demonstrar que tudo funciona normalmente, mas sua agenda revela o
oposto. Nas duas últimas semanas, houve 23 audiências, a maioria com
ministros da casa - e todas para tratar do processo de impeachment e da
estratégia de classificar o afastamento como "golpe". Nada de encontros
com chefes de Estado estrangeiros ou presidentes de multinacionais. Nada
de discutir projetos e ações de governo. Com a debandada dos aliados, a
Esplanada está repleta de representantes do terceiro escalão chefiando
ministérios. Alguém sabe como se chama o ministro da Saúde? Imagine o
dos Portos...
Na intimidade, no Palácio da Alvorada, a presidente tem passado
madrugadas em claro. Ela se recolhe no fim da noite, mas desperta no
meio da madrugada. No escritório, a alguns metros do quarto
presidencial, liga o terminal em que recebe despachos de agências de
notícias. Fica on-line, lendo o que será publicado nos jornais, até
praticamente o raiar do sol. A família tem ajudado a presidente a lidar
com a situação. Dias antes de o plenário da Câmara votar o impeachment,
ela ganhou o afago do irmão, Igor, que deixou a pequena Passa Tempo, no
interior de Minas, para ficar uma semana como hóspede do Alvorada, ao
lado de Dilma e da mãe, Dilma Jane. Ao retornar a Minas, Igor Rousseff
teve de ouvir piada do patrão, o empresário Alberto Ramos, para quem
toca um projeto de criação de peixes. "Eu disse a ele, brincando: 'Agora
você vai ter de trabalhar mais porque sua irmã em poucos dias já não
vai ser mais presidente' ", contou Ramos. O empresário, que nos tempos
áureos de Dilma chegou a ser levado por Igor para uma conversa de duas
horas com a presidente em Brasília, também já abandonou o barco. "Eu
contrato o Igor, mas a irmã dele eu não contrataria. Ela está caindo por
ignorância e incompetência", diz.
Às vésperas da decisão do Senado sobre seu afastamento, a presidente
corre para anunciar um pacote de bondades. Tenta criar uma agenda
positiva em meio ao caos. Divulgou que pretende, por exemplo, reajustar o
Bolsa Família. Em paralelo, esforça-se para mostrar resiliência. Na
sexta-feira, em nova cerimônia para a militância no Planalto,
classificou a denúncia que deu origem ao processo de impeachment de
"ridícula". No fim de festa em que se transformou o seu governo, com até
ex-miss Bumbum dando espetáculo, o adjetivo pode ter larga aplicação.
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