Depois de chegar ao que especialistas classificam como “fundo do poço”, a economia brasileira começa a dar sinais de recuperação. É um movimento ainda tímido no contexto global, mas, para alguns setores, representa deixar para trás números negativos e brecar as demissões. O simples empate com o ano anterior, ocorrido em alguns casos, já demonstra o fim de um ciclo recessivo que se estendia por dois anos. 

Um setor que começa a reagir é o de distribuição de aço. Em junho, foram adquiridas 249 mil toneladas do insumo pela rede de distribuição nacional, o equivalente a uma alta de 5,3% em relação ao mesmo mês de 2015, segundo dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). Só as vendas de aços planos somaram 261,5 mil toneladas, representando crescimento de 1,2% frente a junho do ano passado.

“A curva de desempenho do setor, que estava em declínio, começa a ser revertida. Podemos concluir que o pior já passou”, afirma o presidente do Inda, Carlos Loureiro. Ele pondera que ainda não há projeções de crescimento expressivo do setor neste ano. No entanto, os resultados do segundo semestre deverão ser um pouco melhores do que os de igual período do ano passado.

Em cadeia

Por ser um setor estruturante, o maior consumo interno de aço reflete necessariamente a recuperação de outros segmentos. Isso ocorre porque o produto serve de matéria-prima na geração de vários outros, como automóveis e casas. 

É o mesmo raciocínio para a produção de artefatos de borracha. Em Minas Gerais, puxado pelo mau momento dos setores automotivos e de mineração, o segmento teve queda no faturamento de 15% em 2015 frente a 2014. 
“O governo anterior parecia ser contra o lucro. Já o governo interino sinalizou que vai incentivar o investimento privado. É a principal mudança”
Andrew Storfer - Economista da Anefac

Porém, desde maio, foi dado um fim no quadro negativo. “Parece pouco empatar com o ano anterior, mas só de parar de ter queda já é motivo de recuperação”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha de Minas Gerais (Simbord-MG), Roland Von Urban. As demissões no segmento também cessaram.

Sem cair
Outro setor que fica na ponta da produção e que começa a respirar mais aliviado é o de papel e papelão. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Celulose, Papel e Papelão de Minas Gerais (Sinpapel-MG), Antônio Eduardo Baggio, há dois meses o segmento não apresenta quedas nas vendas.

No fim do ano passado, a baixa havia sido de 14% se comparada a 2014. Como o papelão é usado como embalagem para uma série de produtos, uma maior demanda por caixas sugere recuperação em cascata.

A principal justificativa para um início de reversão é o crescente otimismo por parte do empresariado quanto ao futuro da economia do país.
As sinalizações de possíveis mudanças, como a Reforma Trabalhista que deverá ser levada adiante, já empolga o empresariado, que volta a investir e para de demitir, segundo avaliação do economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer.

Empresas que surgiram na crise veem negócios expandir

Mesmo na crise, o número de empresas ativas em Minas tem aumentado. Até o dia 15 de julho, o Estado tinha 1,91 milhão de empreendimentos abertos. O total representa alta de 6,82% frente ao mesmo período de 2015, segundo dados do Empresômetro, levantados pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). 

O empreendedorismo por necessidade é a principal justificativa. “Muitas pessoas perderam o emprego e, para sobreviver, montaram uma empresa”, afirma o economista da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer.

Só que, com a tendência de melhora da economia, muitos negócios deixaram de ser para subsistência e estão ampliando. É o caso, por exemplo, da Biscoiteria Platina, em Belo Horizonte. Após ser demitida de uma indústria mecânica, Daniela dos Reis, de 35 anos, abriu a empresa em parceria com o marido, Warley dos Reis, de 31 anos. O empreendimento fez tanto sucesso, que eles vão franquear a empresa até o início do ano que vem. 

Outras micro e pequenas empresas também começaram a reagir. Conforme Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em maio, o saldo de empregos gerados pelas pequenas empresas mineiras foi de 14,6 mil vagas de trabalho. 

De acordo com a analista da Unidade de Inteligência Empresarial do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae Minas), Venússia Santos, a geração de vagas foi puxada pelo bom desempenho do agronegócio. 

Maquinário

Pelo mesmo motivo, a compra de máquinas e implementos agrícolas foi influenciada positivamente. As vendas do setor pararam de cair em maio depois de dois anos seguidos de queda. Em 2015, ante a 2014, a redução foi de 25%. 

“Como o agronegócio não sofreu com a crise, os agricultores pararam de investir por pura falta de confiança na economia brasileira. Mas, agora, eles estão voltando a comprar equipamentos”, afirma o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão.

Mercado imobiliário

Animados com a economia, os mutuários voltam a sonhar com a casa própria. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito (Abecip), foram tomados R$ 3,9 bilhões em financiamentos imobiliários em maio. O valor é 11,1% superior aos R$ 3,5 bilhões registrados em abril. Foram financiados 18,6 mil imóveis no país, número 29,2% maior que abril.

Já no mercado financeiro, o momento reflete positividade. A alta acumulada no Ibovespa neste ano é de 30,52%. 
Economia esboça retomada e ciclo recessivo vai ficando para trás