quarta-feira, 20 de julho de 2016

Presos por mega-assalto trabalharam em empresa de valores, diz sindicato

20/07/2016 07h00 - Atualizado em 20/07/2016 07h00

Segundo advogado, dois suspeitos eram vigilantes de carro-forte da Protege.
Homens foram encontrados em resort com R$ 160 mil na sexta-feira (15).

Felipe TurioniDo G1 Ribeirão e Franca

Juliano Lopes e Ângelo dos Santos são suspeitos de participar do mega-assalto em Ribeirão Preto, SP (Foto: Divulgação/Polícia Militar e Divulgação/Polícia Civil)Juliano Lopes e Ângelo dos Santos são suspeitos de participar do mega-assalto em Ribeirão Preto, SP (Foto: Divulgação/Polícia Militar e Divulgação/Polícia Civil)
Dois dos suspeitos presos por envolvimento com o mega-assalto à transportadora Prosegur, em Ribeirão Preto (SP), trabalharam como vigilantes de carro-forte da Protege, outra empresa de transporte de valores, entre 2009 e 2012.
A informação foi confirmada ao G1 pelo Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Valores do Estado de São Paulo (Sindiforte). Segundo o advogado do sindicato, Eduardo Augusto de Oliveira, os dois suspeitos tinham informações privilegiadas da rotina dessas empresas.
Ângelo Aparecido Domingues dos Santos, de 34 anos, e Juliano Moisés Israel Lopes, de 32, foram presos na sexta-feira (15) com R$ 160 mil em dinheiro em um resort em Rio Quente (GO). Um terceiro suspeito foi preso em Ribeirão no mesmo dia, com R$ 34 mil e armas.
O G1 não localizou os advogados dos suspeitos presos até o momento por envolvimento com o mega-assalto à Prosegur. A Polícia Civil informou que os três foram encaminhados para o sistema prisional, mas não informou para quais unidades, por "questões de segurança".
Em nota, a empresa Protege informou que o assunto "está sendo tratado pelas autoridades policiais, a quem prestará informações que forem solicitadas para que não sejam prejudicadas as investigações".
Vigilantes de carro-forte
Segundo o advogado do Sindiforte, Santos e Lopes trabalharam três anos na Protege em Ribeirão Preto e foram demitidos em 2012. A dispensa foi sem justa causa e logo depois os ex-funcionários moveram, cada um, ações trabalhistas de R$ 100 mil contra a empresa.
Eduardo Augusto de Oliveira é advogado de um dos suspeitos no processo contra a Protege. As ações, por diferenças de horas extras e ausência de intervalo para descanso, ainda estão na 5ª e 6ª varas trabalhistas em Ribeirão.
De acordo com o advogado, os suspeitos tinham informações privilegiadas sobre a rotina de empresas de transporte de valores por terem atuado em setores de confiança da Protege. "Até desconhecem a estrutura do prédio [da Prosegur], mas acredito que têm amigos dentro da empresa, porque a categoria possibilita que se encontrem", disse Oliveira.
Antes de serem demitidos, os ex-funcionários atuavam como vigilantes de carro-forte, cargo que exige responsabilidade e não é ocupado por trabalhadores recém-contratados. "Eles não foram admitidos em um dia e exerceram a função amanhã".
Segundo Oliveira, é praxe nessas empresas que os trabalhadores passem por rigoroso pente-fino antes de serem contratados e também após a contratação. "Você é investigado e depois continua sendo avaliado dia a dia e só depois de alguns anos é promovido dentro da equipe".
Além da investigação encomendada pelas próprias empresas, os funcionários também precisam ser autorizados pela Polícia Federal (PF) para atuarem no setor e passam por reciclagens a cada dois anos. De acordo com o sindicato, nenhum dos dois possuía passagem pela polícia.
Prédio da Prosegur e imóvel vizinho ficaram destruídos em Ribeirão Preto, SP (Foto: Reprodução/EPTV)Prédio da Prosegur e imóvel vizinho ficaram destruídos em Ribeirão Preto, SP (Foto: Reprodução/EPTV)
'Bois de piranha'
Ainda de acordo com o advogado do Sindiforte, os suspeitos presos em Goiás na sexta-feira representavam uma ramificação da quadrilha especializada nesse tipo de assalto. "Acho que são bois de piranha, colocados para a polícia ter algo para investigar e ficar por aí", disse Oliveira.
"Um grupo maior, mais organizado se aproximou deles para que eles participassem a acabassem inclusive sendo presos", comentou o advogado. "Podiam ser a ramificação local, mas não credito que sejam chefes desse assalto".
Polícia acha R$ 160 mil com suspeitos de mega-assalto presos em Goiás (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Polícia acha R$ 160 mil com suspeitos de mega-assalto presos em Goiás (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Carros apreendidos
Após a prisão de Lopes e Santos, a Polícia Civil de Ribeirão chegou a dois veículos que foram usados pelos assaltantes da Prosegur. Um carro e uma van foram encontrados na tarde de segunda-feira, em um estacionamento particular no bairro Campos Elíseos.
Em um deles foram encontrados seis bananas de gel explosivo e, em outro, uma quantia em dinheiro. O valor, no entanto, não foi informado pela polícia. De acordo com o delegado Eduardo Martinez, a polícia vai investigar a identidade dos donos dos veículos.
Explosivos apreendidos pela polícia estavam dentro de carro da quadrilha que assaltou a Prosegur em Ribeirão Preto, SP (Foto: Fabio Junior/EPTV)Explosivos apreendidos pela polícia estavam dentro de carro da quadrilha que assaltou a Prosegur em Ribeirão Preto, SP (Foto: Fabio Junior/EPTV)
Mega-assalto
A PM estima que ao menos 20 homens tenham explodido o prédio da Prosegur e usado 15 veículos na fuga – três foram queimados e outros sete abandonados em um canavial em Jardinópolis (SP). Vizinhos da empresa ficaram no meio do fogo cruzado.
Na fuga, a quadrilha atirou contra dois policiais rodoviários na Rodovia Anhanguera (SP-330). Um deles, o cabo Tarcísio Wilker Gomes, de 43 anos, foi atingido na cabeça e morreu. Um morador de rua que foi usado como escudo, também morreu. A polícia investiga se um corpo achado no Rio Pardo pode ser de uma terceira vítima do crime.
De acordo com a Polícia Militar, o grupo estava fortemente armado e tinha desde pistolas a fuzis 556, 762 e ponto 50, munição capaz de derrubar aviões, além de dinamite. O diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter 3), João Osinski Junior, disse que o grupo estava preparado para enfrentar um batalhão.
Apesar de reconhecer que a Polícia Militar não conseguiu evitar a fuga dos suspeitos, o coronel Humberto de Gouvêa Figueiredo, responsável pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI 3), afirmou que o plano de atuação da PM foi “adequado” e “eficiente”.
Este foi o terceiro crime do mesmo tipo no Estado de São Paulo só em 2016.

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