27/03/2014 07:28 - Atualizado em 27/03/2014 07:28
Frederico Haikal/Hoje em Dia
DOPADOS – Nove agentes adormeceram depois de fazerem as refeições na noite de domingo
Os agentes penitenciários encontrados dopados na Central Integrada de
Escoltas de Ribeirão das Neves, na Grande BH, estão com medo de ser
vítimas de queima de arquivo. Afastados das funções por 30 dias, os
servidores denunciam que não estão sendo amparados pelo Estado e temem
até ficar em casa.
Em entrevista ao Hoje em Dia, um dos agentes penitenciários de plantão
no paiol no dia do furto, que pediu para não ser identificado, afirmou
que todo o episódio é “nebuloso”. Ele lembrou que no domingo a equipe de
nove pessoas entrou de serviço às 7h e cumpriria uma jornada de 24
horas.
Quatro deles almoçaram a comida que levaram de casa. Os outros pediram
marmitex e um refrigerante de um restaurante localizado perto do
Presídio Antônio Dutra Ladeira. As refeições foram entregues por um
motoboy.
Sobremesa
Sobremesa
Após o almoço, o grupo, que trabalha junto há cerca de dois meses,
comeu a salada de frutas preparada por um dos colegas. A sobremesa
continha banana, laranja, morango, manga, leite condensado, creme de
leite e leite em pó. “Não tínhamos combinado nada. Ele levou os
ingredientes de casa e disse que faria para todo mundo. Foi a primeira
vez que isso aconteceu em todo o tempo em que a equipe está junta”,
afirma.
Os agentes afirmam não terem sentido sabor estranho no alimento.
“Estava muito doce, mas nada de anormal. Por estar muito gostosa, todos
comeram muita salada de frutas”, conta.
Por volta das 19h, dois agentes saíram para buscar sete marmitas no
presídio. Outros dois não quiseram, pois jantaram a “quentinha” que
levaram de casa. Na unidade prisional, a comida é servida pelos próprios
funcionários, que também lacram a embalagem. Novamente, a salada de
frutas foi feita e servida a todos os companheiros. “Esse foi o único
alimento que todos comeram em comum”, disse a fonte.
Cerca de uma hora depois, dois dos plantonistas começaram a andar
cambaleando e falavam que pareciam estar bêbados. “De repente, caíram na
cama e apagaram, como em cena de filme”, relata. Outros dois caíram no
banheiro, foram socorridos e colocados na cama. Até aí, os colegas não
desconfiaram que algo estivesse errado. Outros diziam estar cansados e
deitaram no sofá e em um colchão. As horas seguintes são uma incógnita
para eles, que foram encontrados pelo coordenador da equipe do dia, por
volta das 7h de segunda-feira, alguns dormindo e outros passando mal.
Reivindicações
O plantão era formado por oito agentes de escolta e um coordenador.
Segundo o informante, desde que a unidade foi inaugurada, no ano
passado, estava sendo pedido o reforço na segurança do imóvel, como a
construção de muralhas e guaritas na parte detrás.
“Não acredito que tenham usado veículo para carregar as armas. A câmera
na entrada da base transmite imagens em tempo real para o presídio, e o
carro teria sido visto. Quem fez isso deve ter entrado por trás, pelo
matagal, onde a imagem da câmera tem um ponto cego”, diz.
A Central de Escoltas guardava pistolas e submetralhadoras .40, além de
fuzis 556 e espingardas calibre 12. O agente, porém, não soube informar
a quantidade de armas no local. Ele especula que não chega a cem.
Na tarde da última quarta-feira (26), as equipes da Central Integrada
se reuniram com o coordenador-geral da escolta. O roubo não foi
discutido. Os funcionários apenas foram informados de que o palco do
furto foi fechado e a unidade transferida para uma penitenciária, também
em Ribeirão das Neves.
Após roubo, governo reforça a segurança nas centrais de escolta
Após roubo, governo reforça a segurança nas centrais de escolta
O roubo de 45 armas da Central de Escoltas, em Ribeirão das Neves, na
Grande BH, na madrugada de segunda-feira, obrigou o Estado a reforçar a
segurança em todas as suas unidades prisionais. Ontem, o secretário de
Estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, determinou a instalação de
câmeras de monitoramento nas duas Centrais de Escolta – em Ribeirão das
Neves e Juiz de Fora –, além de todas as 144 unidades prisionais com
guarda de armas. Os pontos receberão outros equipamentos de proteção,
que não foram divulgados, por motivo de segurança.
Após o roubo, os procedimentos de segurança estão sendo revistos e os
15 novos presídios e penitenciárias em fase de licitação contarão com
novas regras. A previsão é a de que a instalação das primeiras câmeras,
sob responsabilidade da Subsecretaria de Administração Prisional, ocorra
em até três meses, inicialmente nas unidades de maior porte.
Segundo o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários de MG,
Adeílton Rocha, devido à falta das armas, foi necessário realocar o
armamento disponível de outras unidades prisionais. Além disso, o
Comando de Operações Especiais da PM, que participava apenas de algumas
escoltas, agora passa a ser mais utilizado.
A reposição do arsenal roubado ocorrerá só em 30 dias, conforme a
Secretaria de Defesa Social. Parte das 1.774 armas adquiridas no fim de
2013 será encaminhada às centrais de escoltas de Neves e Juiz de Fora.
As duas últimas compras de armamento, em agosto e dezembro de 2013,
custaram R$ 2,6 milhões. Não foi informada a quantidade de armas
disponíveis para uso pelo Estado.
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