28/03/2014 06:53 - Atualizado em 28/03/2014 06:53
Frederico Haikal/Hoje em Dia
Para os donos de postos de combustíveis, a presença de policiais dá mais segurança
Cansados de ser alvos de constantes assaltos, donos de postos de
combustíveis em Belo Horizonte, região metropolitana e até no interior
do Estado oferecem privilégios à Polícia Militar (PM) para tê-la por
perto, “privatizando” a segurança pública em Minas Gerais. Na lista de
regalias estão unidades de apoio montadas com mobília, computadores,
internet, água, luz, ventiladores, telefone, TV e, em alguns casos,
alimentação. Em troca: uma ou até duas viaturas com três a quatro
militares no local para garantir a segurança.
Enquanto o Estado direciona o policiamento para a iniciativa privada,
com o intuito de conter os roubos aos estabelecimentos, a população
reclama do abandono dos Postos de Observação e Vigilância (POVs) nas
ruas da cidade e da desativação de unidades policiais no interior dos
bairros, aumentando a sensação de insegurança.
Na última quinta-feira (27), o Hoje em Dia percorreu ruas, avenidas,
Anel Rodoviário e a BR-381 até Ravena, em Sabará, na Grande BH, e
flagrou o apoio da PM aos empresários em vários postos de gasolina. Nos
estabelecimentos onde não havia um imóvel fixo, uma viatura estava
estacionada.
Na rua Niquelina, no bairro Santa Efigênia, Leste da capital,
frentistas de um posto de combustível afirmaram que nem mesmo a presença
da polícia lá inibiu os criminosos. “Antes, em média, eram três
assaltos por semana. Nos últimos dois anos foram dez”, afirmou um deles.
A menos de 500 metros dali, na mesma rua, o gerente de outro posto
contou que a unidade de apoio da PM de lá é utilizada para agilizar a
confecção do Boletim de Ocorrência (BO), destacando que os policias não
ficam parados no ponto.
No Anel Rodoviário e na BR-381, a situação é a mesma. Em um posto no
bairro Capitão Eduardo, na região Nordeste, um funcionário disse que o
ponto de apoio é utilizada há cinco anos por vários policiais que se
deslocam para almoçar no restaurante ao lado do posto e registrar as
ocorrências.
“Quero eles aqui todos os dias”, disse o trabalhador, afirmando arcar
com todas as despesas do imóvel. “Pagar água, luz, internet e comprar
computadores é mais barato que contratar três seguranças armados. Um
vigilante equipado custa R$ 2.600 com os encargos. Fica mais barato
manter os militares”, disse. Em outro estabelecimento, mesmo não havendo
uma unidade fixa, uma viatura estacionada garantia a tranquilidade do
local.
Enquanto os empresários comemoram a redução dos assaltos, os moradores
do bairro Bom Destino, em Santa Luzia, afirmam que mesmo pagando o
aluguel e cedendo toda a mobília à PM, a única unidade da região foi
desativada. “Sem nos dizer nada, a polícia fechou a unidade. Hoje, a
criminalidade tomou conta do bairro. Somente neste ano foram pelo menos
cinco homicídios”, lamentou a presidente da Associação dos Moradores,
Ednalda Estevão de Araújo.
Corporação promete acabar com a prática
O tenente-coronel Aberto Luiz Alves, chefe da assessoria de comunicação
da PM, reconhece que o policiamento realizado nos postos de
combustíveis não é o ideal e que pode gerar a sensação de uma polícia
“privada” ao manter esses pontos de apoio fixos.
Ele anunciou, na última quinta-feira (27), a desativação de todos os
pontos da PM instalados nestes estabelecimentos, no Estado, onde ficar
caracterizado algum tipo de convênio entre a instituição e os
empresários.
“O Estado está investindo em segurança pública e não podemos
privilegiar os donos de estabelecimentos comerciais, deixando a
população de lado”, afirmou ele, destacando que irá reavaliar o trabalho
dos militares junto aos comércios e reforçar a fiscalização para coibir
o desvio de conduta da polícia ao aceitar “mimos”.
Segundo ele, a polícia ao receber a informação que determinada região
sofre com a ação de bandidos tem por obrigação aumentar as operações e
garantir a segurança.
Para o professor Bráulio Figueiredo Alves da Silva, pesquisador do
Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG,
qualquer tipo de policiamento fixo é ineficaz e não consegue obter
resultados.
Os benefícios oferecidos à PM para manter um ponto de apoio nos postos,
diz ele, garante a segurança apenas daquele local. “Essa postura é uma
tentativa de privatizar a segurança pública. Daqui a pouco, outros
estabelecimentos farão o mesmo. Deve haver um estudo sistemático sobre a
criminalidade da região e criar mecanismos eficazes de respostas e
políticas de prevenção para todos os setores”, destacou o professor.
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