Deputados federais pertencem a uma rede política dependente de prefeitos – que dependem de acesso a recursos federais. Como arriscar a pele de todos em ano eleitoral?
Mas há outro fator, tão ou mais importante do que esses, que pode frear o processo de impeachment: as eleições municipais de outubro.
Prefeitos são cabos eleitorais de deputados federais – e vice-versa. Embora “cabo eleitoral” tenha conotação pejorativa, trata-se de uma atividade corriqueira e legal. É simplesmente fazer campanha. O prefeito indica um deputado federal para a reeleição, e este, por sua vez, tem relações com uma rede de prefeitos para os quais dá acesso a recursos federais. A campanha de 2016, portanto, só pode ser pensada considerando as de 2014 e 2018.
Vamos considerar um deputado federal do PMDB que está indeciso sobre o impeachment. Em um ano eleitoral, no qual é especialmente importante que ele atue como interlocutor de demandas municipais, afastar-se do governo é arriscadíssimo. Caso o governo resista ao impeachment, os parlamentares “traidores” serão punidos. E não conseguirão ajudar seus prefeitos como poderiam, o que afeta suas chances de reeleição em 2018.
Essa dinâmica pode ser notada no comportamento de partidos como o PR, PSD e PP. Os dois últimos estão divididos sobre o impeachment e o primeiro é contra. A tendência atual é que os deputados pró-impeachment que pertencem a esses partidos não arrisquem a pele apoiando a destituição da presidente. O motivo é que os três controlam ministérios que são especialmente “eleitorais” (mais detalhes aqui).
Apoiar o impeachment, portanto, é arriscar a sobrevivência de uma grande rede política. Haja fraqueza no governo para estimular, em um ano que desincentiva comportamento arriscado, a debandada de parlamentares.
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