22/03/2014 15h45
- Atualizado em
22/03/2014 18h19
Major diz que mil pessoas participaram da caminhada até a Sé.
Manifestantes pedem retorno dos militares ao poder.
Manifestantes se reuniram em São Paulo na tarde deste sábado (22), na
Praça da República, para realizar uma nova versão da "A Marcha da
Família com Deus pela Liberdade". O grupo queria relembrar a marcha
anticomunista e de apoio ao golpe militar realizada há 50 anos em 19 de
março de 1964.
saiba mais
Em entrevista ao G1, o major da PM Genivaldo,
comandante da operação no local, disse que cerca de mil pessoas
participavam da Marcha da Família. O balanço foi feito cerca de 20
minutos do grupo chegar à Sé e encerrar o ato. Já o Centro de Operações
da PM diz que 500 pessoas participaram do ato.
Os manifestantes seguiram desde a República até a Praça da Sé,
repetindo o mesmo trajeto da marcha original. Eles chegaram à praça por
volta das 17h40, sem cruzar durante o trajeto com a "Marcha
Antifascista", convocada para criticar aqueles que defendem a volta da
ditadura.
A "Marcha da Família" é realizada poucos dias antes dos 50 anos do
golpe militar, a serem completados no dia 1º de abril. Os organizadores
do evento pedem intervenção militar para retirar do poder os "políticos
corruptos, moralizar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
promover valores morais e então convocar novas eleições apenas para
fichas limpas”.
Na Zona Sul, sete pessoas atenderam convite feito nas redes sociais
para se reunir no Obelisco do Ibirapuera e levar uma carta ao aos
militares pedindo a volta da ditadura. Eles foram recebidos na sede do
Comando do 2º Região Militar.
O evento foi convocado como uma versão complementar da "Marcha da
Família" convocada para o Centro da cidade. Na sexta-feira, 410 pessoas
tinham confirmados presença através do Facebook. No total, 6,7 mil
tinham sido convidados.
Princípio de tumulto
No centro, pouco antes de a caminhada começar, um homem foi hostilizado pelos manifestantes. Aos gritos de "Fora petista", ele foi retirado da concentração (veja vídeo acima). Também na concentração, um fotógrafo independente foi agredido. Outros fotógrafos que acompanhavam o ato disseram que ele foi atingido na cabeça por manifestantes.
Princípio de tumulto
No centro, pouco antes de a caminhada começar, um homem foi hostilizado pelos manifestantes. Aos gritos de "Fora petista", ele foi retirado da concentração (veja vídeo acima). Também na concentração, um fotógrafo independente foi agredido. Outros fotógrafos que acompanhavam o ato disseram que ele foi atingido na cabeça por manifestantes.
Fotógrafo ferido em ato na República.
(Foto: Marcio Pinho/G1)
(Foto: Marcio Pinho/G1)
Contra corrupção
Entre os apoiadores da nova "Marcha da Família", o analista de sistemas Lucas de Carvalho disse ser a favor de uma revolução civil, à qual se seguiria uma intervenção militar.
Entre os apoiadores da nova "Marcha da Família", o analista de sistemas Lucas de Carvalho disse ser a favor de uma revolução civil, à qual se seguiria uma intervenção militar.
"O Executivo, o Legislativo e o Judiciário já quebraram. A Constituição
já caiu de podre", disse. Carvalho e vários outros carregam bandeiras
azuis.
Os manifestantes cantaram o hino nacional por volta das 16h. Depois, um
dos organizadores, Bruno Toscano Franco, de 41 anos, convocou os
manifestantes a iniciarem caminhada em direção à Praça da Sé. Eles
caminham gritando "Fora PT", ou "não queremos eleição, queremos
intervenção".
Objetivos
Ao G1, Franco disse que a marcha surgiu da necessidade de mostrar a insatisfação “com tanto descaso, com tanta corrupção”. “A gente está cansado de viver num país em que a educação e outros serviços básicos não são no padrão Fifa”, disse. Outra motivação, segundo ele, é contar a história “verídica” do país e escondida nas escolas, na opinião do grupo. "[O presidente] João Goulart estava agindo de má fé contra o povo brasileiro, expropriando terras particulares, dizendo que era reforma agrária”, defende.
Ao G1, Franco disse que a marcha surgiu da necessidade de mostrar a insatisfação “com tanto descaso, com tanta corrupção”. “A gente está cansado de viver num país em que a educação e outros serviços básicos não são no padrão Fifa”, disse. Outra motivação, segundo ele, é contar a história “verídica” do país e escondida nas escolas, na opinião do grupo. "[O presidente] João Goulart estava agindo de má fé contra o povo brasileiro, expropriando terras particulares, dizendo que era reforma agrária”, defende.
Desta vez, a ameaça comunista no Brasil é representada pelo PT. Franco
cita o financiamento feito pelo BNDES para a construção do porto de
Mariel em Cuba como uma prova da aproximação do governo Dilma Rousseff
com os ideais comunistas. O porto foi inaugurado em janeiro com a
presença da presidente.
Para Franco, a intenção do governo federal é transformar em um imenso
bloco comunista a União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Atualmente,
doze países contando o Brasil compõem esse bloco que seria voltado à
cooperação regional.
O fotógrafo atuou durante anos como aviador e é filho e neto de
militares. Ele critica ainda a ausência dos valores da família e critica
a defesa de criminosos por grupos de direitos humanos. “Onde estão os
valores da família nesse país? Acabei de ter uma filha e não quero
deixar esse país para a minha filha viver”, diz. Ele critica ainda a
criação de um kit gay para discutir homofobia nas escolas.
Saiba como foi a Marcha da Família original, em 1964
A “Marcha da Família Com Deus pela Liberdade” ocorreu em 19 de março de 1964 e reuniu cerca de 500 mil pessoas. O ato começou na Praça da República e terminou na Praça da Sé, percorrendo no caminho a Rua Barão de Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá, Praça do Patriarca e Rua Direita. A marcha foi convocada como uma resposta ao comício que o presidente João Goulart fez na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março, quando defendeu suas reformas de base para um público de 200 mil pessoas. Os manifestantes eram contra o governo de João Goulart, pois temiam a implantação de um regime comunista no Brasil, e favoráveis ao golpe militar.
A “Marcha da Família Com Deus pela Liberdade” ocorreu em 19 de março de 1964 e reuniu cerca de 500 mil pessoas. O ato começou na Praça da República e terminou na Praça da Sé, percorrendo no caminho a Rua Barão de Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá, Praça do Patriarca e Rua Direita. A marcha foi convocada como uma resposta ao comício que o presidente João Goulart fez na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março, quando defendeu suas reformas de base para um público de 200 mil pessoas. Os manifestantes eram contra o governo de João Goulart, pois temiam a implantação de um regime comunista no Brasil, e favoráveis ao golpe militar.
Ela foi organizada pela União Cívica Feminina, um grupo de mulheres
com ligação com empresários paulistas. Segundo a historiadora Heloísa
Starling, da Comissão Nacional da Verdade, a Marcha teve ainda apoio de
setores da Igreja Católica e acabou se tornando o modelo para
manifestações que começaram a ocorrer em diversas outras cidades. Para a
historiadora, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi a “face
mais espetaculosa dos golpistas” em 1964. O ato e as manifestações em
outras cidades que se seguiram fizeram parte de uma grande “frente
social” que teve ainda participações de setores do comércio, imprensa e
estudantes. “Era necessária essa mobilização popular para legitimar o
golpe”, segundo Heloísa.
Quase duas semanas depois da Marcha, em 31 de março, o Exército
mobiliza tropas e começa a tomada do poder. Em 11 de abril, o general
Castello Branco é nomeado o primeiro presidente do período de ditadura,
que durou 20 anos. O regime de exceção durou no país até o começo de
1985, quando o governo do general João Baptista de Oliveira Figueiredo
foi sucedido por José Sarney (PMDB). À época, Sarney era vice de
Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral após o movimento Diretas
Já. Durante a ditadura, opositores do regime foram exilados, presos,
torturados e assassinados. Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade foi
instalada pela presidente Dilma Rousseff para apurar as violações aos
direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988, período que inclui a
ditadura militar. A comissão tem até 16 de dezembro de 2014 para
concluir os trabalhos.
Ainda na concentração, manifestantes exibiram cartazes. (Foto: Márcio Pinho/G1)
Manifestantes
de braços dados e com a imagem de Nossa Senhora Aparecida cantam "Povo
unido, jamais será vencido" e "Fora PT" (Foto: Tatiana Santiago/G1)
Marcha da Família; percorreu ruas do Centro em direção à Praça da Sé (Foto: Tatiana Santiago/G1)
"Marcha da Família" percorreu ruas do Centro até chegar à Praça da Sé (Foto: Tatiana Santiago/G1)
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