Vittorio Medioli
Jornal O Tempo
Dilma certamente não é, como Lula foi, “puxador de votos”. Pior, seu
índice de rejeição é um “afastador de votos”. Ainda mais em Minas, que
tem Aécio, como dizem os petistas, de “imperador” ao longo de 12 anos.
Ao contrário, Pimenta da Veiga entra no vácuo da facilidade, dos mais
de 50% de intenções de votos que recolhe do presidenciável Aécio Neves.
Entre um e outro, ao veterano Tarcísio Delgado cabe o papel de correr
por fora, e apenas começou a correr.
“Falou Zaratustra”, que continua atual depois de milhares de anos, que
“o interesse dita o comportamento”. Jogar-se de uma janela de um prédio
tomado pelas chamas pode ser melhor que ficar dentro dele. Há sempre
algo pior do que se pode fugir. Isso é “relativismo”, ou simplesmente
“menos mal” do que se sonha abraçando um travesseiro.
A disputa pelo Palácio Tiradentes em Minas, depois de ter
contrabandeado a candidatura de Vanessa Portugal, que recolhia já 7% das
intenções de votos para governador – não pela popularidade, mas por ser
a “terceira via” mais detectável no questionário das pesquisas
eleitorais –, se afirma num nítido e desgastado bipolarismo, PT versus
PSDB. Segundo turno? Depende de Tarcísio Delgado situar-se com
credibilidade. Isso cabe a ele demonstrar.
Quem pesquisou o perfil do “governador ideal”, uma espécie de retrato
falado do sonho do eleitor mineiro, encontrou, atrás dos 38% de brancos e
nulos e dos 7% que “não sabem de nada”, que existe um majoritário
desejo de renovação falando de modernidade, superação do Estado que
muito cobra e nada dá em troco, da varrição da corrupção e burocracia –
principais pés de cabra para arrombar o erário e continuar a esfolar o
cidadão sem saúde, educação e segurança. O “retrato falado” teria votos
para ganhar de qualquer um.
Desfeita a possibilidade de o eleitor “sonhar” com uma alternativa inovadora, resta escolher um ou outro.
Deveria ser Pimentel um kamikaze a se “casar” com quem mais tira do que
atrai votos? Dilma tem que se viabilizar, ultrapassar este momento
pelas ações pessoais, pois no refluxo que enfrenta pode levar consigo
Pimentel. Pois hoje parece que enfrentar o “imperador” é entendido como
enfrentar Minas.
A campanha caminha a favor de Aécio em Minas, sob o argumento de que
Minas (inteira) voltaria ao topo do Planalto. Votar contra Aécio parece
escolha impatriótica para o mineiro? Parece que sim.
A mineira Dilma ajudou esquecendo Minas como seu berço natal.
A reforma do Anel Rodoviário, o metrô, duplicações de rodovias, ações
que generosamente foram distribuídas pelo Brasil, ficaram sobrevoando o
Estado. Fábricas de automóveis e polos químicos, que Lula tirou de Minas
como último ato do governo dele, ficaram sem reparação. O “imperador”
Aécio teve ajudas indiretas ao se firmar como defensor de Minas e Dilma
como ingrata. O que tem a ver
Pimentel com isso?
Pimentel com isso?
Pimenta da Veiga, costurado no amigo Aécio por 30 anos de compadrio, avança no vácuo dos 50% das preferências do imperador.
Para Pimentel resta o “Aeciel”, Aécio e Pimentel. Tem que sorver esse
cálice. Só o segundo turno o afastará da disputa presidencial PT e PSDB,
Dilma e Aécio. Se esta acontecer. Dilma sabe, concorda e vê tudo como
natural.
Se houvesse segundo turno também em Minas para governador, Pimentel
estaria seguramente neutralizado, subjugado ao Aeciel. Mas o segundo
turno para governador está longe de acontecer. A separação é para se
encontrar lá na frente com mais força.
Para o PT “que conta”, isso foi estudado, certamente não pode ser
explicado, mas poderá dar uma diferença de 2 milhões de votos no segundo
turno para Dilma aqui, em Minas, se Pimentel ganhar no primeiro.
Diferença fundamental. Pimentel está livre, assim, de fazer o melhor
para ele, que representa o melhor também para Dilma depois de outubro. A
jogada está dada no xadrez de Minas.
Esse é o caminho do (im)possível, a escolha eleitoral de um jingle sem Dilma.
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