segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mineração - Brasil está no ´pré-sal´ do ouro

Em 2010, foram produzidas 62 toneladas nos garimpos legais
Publicado no Jornal OTEMPO em 21/11/2011

FOTO: STOCXPERT
Valorizado. Cotação do ouro deu um salto de 540% na última década, estimulada pelo crescimento econômico mundial e também pela crise financeira de 2008; extração do metal cresce em todo o país
CRIXÁS e BRASÍLIA. Quatro séculos depois do ciclo do ouro que encheu os olhos da Coroa Portuguesa e levou brasileiros e estrangeiros atrás do enriquecimento rápido, o Brasil está diante da maior corrida de todos os tempos pelo metal. Novos equipamentos sofisticados já permitem às gigantes estrangeiras que dominam o mercado nacional chegar ao que poderia ser chamado de "o pré-sal da mineração". No Centro-Oeste e no Norte, minas até então intocadas tornaram-se economicamente viáveis, assim como outras consideradas esgotadas em Minas Gerais e no Nordeste.
Tudo isso graças ao aumento, em todo o planeta, da demanda pelo ouro - cuja cotação deu um salto de 540% na última década - estimulada pelo crescimento econômico mundial, sobretudo da China, e pela necessidade dos países de acumular o metal, que é considerado um dos ativos financeiros mais confiáveis do mundo.

O entusiasmo é tanto que o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) já estima investimentos de US$ 2,4 bilhões para o setor até 2015. Trata-se de praticamente o triplo da projeção anterior, de pouco mais de US$ 900 milhões. As empresas não disfarçam o otimismo e prometem novos projetos, enquanto as autoridades estimam que a produção do ouro também deve crescer de maneira expressiva, podendo dobrar nos próximos cinco anos. Só no Rio Grande Norte, sairá de 60 gramas para seis toneladas se todos os projetos em análise se concretizarem.
Existem hoje no país 2.819 garimpos legais em atividade. Mas o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) já concedeu 1.270 novas autorizações de pesquisa em áreas a serem exploradas, e analisa outros 1.173 pedidos.

Se a crise financeira global de 2008 impôs um ritmo bem menos acelerado às economias desenvolvidas, o que, em tese, diminuiria a demanda pelo ouro, ela acabou por ajudar a desvalorizar o dólar e pressionar os preços do metal, considerado historicamente porto seguro pelos investidores. Os bancos centrais mundiais nunca compraram tanto ouro para manter em suas reservas internacionais desde a década de 80. A escalada dos preços viabilizou novos investimentos milionários em pesquisas e tecnologia.

No passado, o ouro brotava da terra, ou dos rios, e retirá-lo não exigia muito esforço. Hoje ele é encontrado em profundidades de até 4.000 metros na África do Sul, mas já está em 2.500 metros no Brasil. Máquinas sofisticadas são capazes de extrair menos de um grama de ouro de uma pedra de uma tonelada, ou seja, algo equivalente a um automóvel de passeio. Isso explica o motivo de o Brasil, que já foi o maior produtor do mundo, mas perdeu posições no passado recente, ter voltado ao páreo e estar em 13º lugar na lista dos grandes globais. Em 2010, produziu 62 toneladas nos garimpos legais, o maior volume da década, e se prepara para dobrar a marca. O maior produtor do mundo é a China, com 341 toneladas/ano, seguida por Austrália (259 toneladas), Estados Unidos (240 toneladas) e África do Sul (192 toneladas).

A produção brasileira é muito pequena, apenas 12% de seu potencial. Considerando-se as reservas provadas em 2010, o Brasil tem a capacidade de extração anual de 503 toneladas do metal puro. A quantidade foi calculada com base em 1,3 bilhão de toneladas de rochas com o minério, com teor médio de 2,57 gramas por tonelada rochosa.

A expectativa do governo e de especialistas é que justamente a tecnologia deverá mudar este quadro e alçar o Brasil ao topo da lista novamente.
Tecnologia
Mina mais funda fica em Nova Lima
CRIXÁS. A sul-africana AngloGold Ashanti se prepara para extrair ouro de uma profundidade de nada menos que 2.500 metros em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Ou seja, uma espécie de "pré-sal" da mineração. Esta é a mina mais profunda de que se tem notícia no país e estava fechada há anos por falta de tecnologia capaz de torná-la rentável novamente. Na média, as minas em operação no país têm até mil metros.

Um sistema de ventilação sofisticado garante a refrigeração dos túneis de outra mina da empresa, a Cuiabá, em Sabará (MG), atualmente a mais profunda em operação no país, com 1.100 metros de profundidade. Sem o equipamento, que exigiu a instalação de uma planta especial ao lado do campo de exploração, dificilmente os funcionários da mineradora teriam condições de se manter trabalhando ali por tanto tempo.
Estados disputam direito aos royalties da mineração
BRASÍLIA. A exemplo do ouro, a exploração mineral no Brasil tem crescido exponencialmente e aguçado a cobiça de Estados e municípios pela arrecadação dos royalties sobre a atividade, chamados de Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem). Hoje Estados e municípios produtores ficam com 88% dos royalties. O governo planeja elevar as atuais alíquotas cobradas, que variam de 0,2% a 3% sobre o lucro líquido das empresas, no âmbito do novo marco regulatório da mineração. Mas projetos no Congresso já se antecipam, com o objetivo de arrancar o máximo de receitas, que devem crescer de 10% a 15% ao ano no próximo triênio.

Com a explosão do setor, a Cfem deve arrecadar neste ano o recorde histórico de R$ 1,3 bilhão – 299% acima dos R$ 326 milhões de 2004.

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