quinta-feira, 7 de junho de 2012

Caminhoneiro que provocou tragédia no Sion (B.H) está preso por homídio

Ele será indiciado por homicídio com dolo eventual. O caminhoneiro será levado para o Ceresp São Cristóvão nesta quinta-feira.
Álvaro Fraga, Sandra Kiefer, Patrícia Giudice e Landercy Hemerson
Cristiane Silva - Estado de Minas
Publicação: 07/06/2012 07:36 Atualização: 07/06/2012 08:01
Carreta arrastou veículos parados em sinal e parou um quarteirão depois (Leandro Couri/EM/D.A Press)
Carreta arrastou veículos parados em sinal e parou um quarteirão depois


Será levado para o Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristóvão nesta quinta-feira o caminhoneiro Jadson Santos Alves, de 26 anos, condutor da carreta que provocou a tragédia que matou pelo menos três pessoas na noite de quarta na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Sion, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ele está preso e será indiciado por homicídio com dolo eventual.
Em entrevista concedida à Rádio Itatiaia nesta manhã, a delegada do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) Rosângela Pereira, que ouviu o motorista durante a madrugada, informou que ele foi autuado em flagrante diante dos elementos de convencimento em relação ao dolo eventual, como a existência de placas proibitivas do trânsito desse tipo de veículo na via, comprovado pelo perito.
Por volta das 20h50, trafegando em área proibida, ele perdeu o controle do veículo de carga que, desgovernado, atingiu oito carros, matou pelo menos três pessoas, feriu três gravemente e deixou um rastro de destruição de pelo menos 300 metros pela Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Sion, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O motorista chegou até o local da tragédia sem ser incomodado pela fiscalização. Ele está preso e será indiciado por homicídio com dolo eventual.
A violência da batida foi tamanha que uma das bobinas se soltou da carroceria e desceu, destruindo o que achava pela frente. A tragédia só não foi maior porque, dos oito carros atingidos pela carreta, apenas dois sofreram impacto frontal. A sequência de batidas teve início na altura da TV Minas, pouco acima da Avenida Uruguai, quando o condutor da carreta, já descontrolada, bateu de leve em um Honda Civic que estava à frente. O carro foi arremessado contra um Peugeot, que também sofreu poucos danos.
Em seguida, a carreta atingiu em cheio o Celta placa HIX 5109, de Belo Horizonte, que foi arremessado a pelo menos 20 metros com a violência do choque. O carro de passeio atravessava a Nossa Senhora do Carmo rumo à Avenida Uruguai quando foi atingido. O motorista do Celta morreu no local e passageira, a caminho do Hospital de Pronto Socorro João XXIII.
Entenda como ocorreu o acidente (clique para ampliar)
Entenda como ocorreu o acidente (clique para ampliar)
A bobina que se soltou desceu a pista no sentido Centro, atingindo quatro carros. Um deles, a caminhonete Montana dirigida pelo designer Maurício Harion, de 29 anos. A bobina bateu na traseira da caminhonete e passou por cima do veículo. "Nasci de novo", disse Maurício, enquanto examinava os estragos no carro. Mais à frente, a bobina se chocou contra o Honda HKR 2086, de Belo Horizonte, ferindo gravemente o motorista e um passageiro. Só parou no interior de um posto de gasolina na esquina de Rua Rio Verde, no sentido Centro/Rio de Janeiro.
Enquanto isso, sem controle, a carreta invadia a mão contrária, destruindo a grade que separa as pistas. Pedaços de metal, galhos de árvore e de postes foram arremessados para o meio da avenida. Próximo à passarela em frente à Igreja do Carmo, o veículo de carga bateu em um poste de iluminação, invadiu o sentido oposto e esmagou o Gol placa HMB 9815, matando na hora a motorista Márcia Bombonato de Oliveira, de 56.
O caminhoneiro foi retirado da cabine por uma equipe da Polícia Militar e teve de ser levado às pressas para um local seguro, pois as pessoas queriam linchá-lo. À polícia, Jadson disse que perdeu o freio do veículo e que sua intenção não era entrar na Nossa Senhora do Carmo.
“Eu vinha de Ipatinga e ia para São Paulo, mas passei direto da entrada para pegar a BR-381 e fui para no fim do Anel Rodoviário. Estava apenas tentando pegar uma rotatória para fazer o retorno, quando acabou o freio. Não tive o que fazer”, argumentou Jadson, pouco antes de seguir para a delegacia de plantão do Detran.
Na carreta viajava também o dono do veículo, Dário Alves Cunha, que não se feriu. Apesar de não apresentar sintomas de consumo de bebida alcoólica, Jdson seria submetido a exame no Instituto Médico Legal. Ele sofreu apenas leve escoriação no nariz.
Socorro
Entre as vítimas levadas ao HPS pelo Samu estavam Caroline Palmer Irffi, de 23 anos, que já chegou sem vida, o estudante de medicina Lucas de Oliveira Magalhães, de 26, com traumatismo craniano e em estado gravíssimo, Luís Carlos Chan, de 48, sem ferimentos aparentes, e Chan Yuet Kuir, de 54, com costelas fraturadas. O terceiro morto não havia sido identificado até o início da madrugada.
Todos foram atendidos por uma equipe de oito médicos, chefiada por Flávio Victor Horta Pires, que atribuiu o fato de Lucas ter chegado vivo ao hospital pela agilidade das equipes de salvamento. Ainda durante o atendimento, chegaram ao HPS os pais de Caroline, Elizius Zuccherate e Márcia Palmer Zucheratte. Elizius disse ao chefe da equipe: “Você sabe doutor que minha filha vai ser sua colega daqui a alguns anos?” Desesperada, a mãe perguntou ao médico se a estudante estava viva. O médico então pediu aos dois que entrassem para dar a notícia da morte.
Falhas
A BHTrans, por meio da assessoria de imprensa, confirmou que o tráfego de carretas do porte da que causou o acidente é expressamente proibido na Avenida Nossa Senhora do Carmo e alegou que o motorista infringiu a lei ao entrar em um trecho onde havia sinalização. Ainda conforme a assessoria, a fiscalização é esporádica e feita até as 20h no trevo do Bairro Belvedere. Questionada sobre o porquê de a carreta não ter sido parada antes de chegar à avenida, a empresa informou que a fiscalização é feita pela Polícia Militar Rodoviária e Polícia Rodoviária Federal e que, pela velocidade em que o veículo se encontrava, “não seria possível retê-la”.
Pela BR-040, uma carreta bitrem só tem permissão para entrar no Anel Rodoviário, conforme regulamentação da BHTrans. A Polícia Rodoviária Federal informou que não tem responsabilidade e atribuiu à Polícia Militar Rodoviária, que transferiu para a BHTrans.
Depoimento
Carolina Lenoir
Repórter do EM que presenciou o acidente
O som do rádio e a rapidez com que tudo ocorreu não permitiram que eu ouvisse imediatamente o som da carreta desgovernada, que desceu como um flash a pista ao lado de onde estava parada num sinal. Porém, a imagem do motorista e a poeira que subiu ao longo do trajeto de destruição foram registradas de forma absolutamente clara. Assim que o veículo finalmente tombou, quem trafegava pela Avenida Nossa Senhora do Carmo também parou, num misto de incredulidade e desespero por antecipar a extensão de uma tragédia. De maneira ágil, moradores e motoristas improvisadamente começaram a organizar o trânsito, a fim de evitar novos acidentes e facilitar a chegada do resgate. Enquanto isso, passageiros que estavam nos carros que, como por milagre, sofreram apenas avarias, saíram desnorteados dos automóveis e foram confortados por desconhecidos. Ainda que a saída do motorista da carreta tenha sido muito conturbada, na outra ponta do percurso não se ouvia gritos, mas uma movimentação intensa de quem queria ajudar e entender os motivos – e, principalmente, erros – que levaram a um acidente de tamanha dimensão.

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