sexta-feira, 29 de junho de 2012

Minério de ferro resiste à crise econômica. Apesar da retração da economia global e da demanda menor na China, mineradoras apostam em novos projetos e expandem produção em Minas

Marta Vieira
Paulo Henrique Lobato -estado de Minas
Publicação: 29/06/2012 06:00 Atualização: 29/06/2012 07:21
O desaquecimento global e o crescimento menor da economia chinesa passam ao largo da nova onda de investimentos da indústria da mineração em Minas Gerais. Na mesma semana em que a Vale anunciou um grande projeto para explorar a terceira safra do minério de ferro de Itabira, na Região Central do estado, a Ferrous, em operação há cerca de dois anos, apresentou um programa de aportes de US$ 1,2 bilhão na ampliação de sua principal mina de ferro, a reserva de Viga, na cidade histórica de Congonhas (leia abaixo). Os técnicos do governo estadual trabalham nos detalhes finais de um protocolo de outro investimento de porte, a ser assinado em 12 de julho, para a exploração de ferro em Grão Mogol, no Norte de Minas, conduzido pela Votorantim Novos Negócios e os parceiros chineses Honbridge Holdings e Xinwen Mining.
O empreendimento abrirá a corrida à produção efetiva na região considerada a nova fronteira mineral do estado, responsável por metade do valor da produção mineral brasileira que está estimado em US$ 50 bilhões no ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Depois de uma história de mais de 300 anos da mineração em Minas, a tecnologia para extração do minério de baixos teores de ferro, que ganhou valorização no mercado internacional, é o principal motor dos novos investimentos, avalia Paulo Sérgio Machado Ribeiro, subsecretário de Desenvolvimento Mínero-Metalúrgico e Política Energética do governo mineiro.
“Mesmo com a crise europeia e a expansão menor da China, a demanda de minério de ferro ainda vai continuar alta devido às necessídades de infraestrutura para atender ao aumento da população e à incorporação de novos consumidores nos países emergentes”, afirma Machado Ribeiro. O Ibram reviu o programa de investimentos da indústria mineral no Brasil para US$ 75 bilhões deste ano até 2016, dos quais aproximadamente US$ 30 bilhões deverão ser aplicados em Minas, prevê o presidente do instituto, José Fernando Coura.
Incertezas Se a turbulência mundial não representa ameaça, há um cenário de incertezas que o Ibram vê no adiamento sistemático do envio ao Congresso Nacional dos projetos do Executivo para o novo marco regulatório da mineração. As medidas consistem na elevação dos royalties (a Compensação Financeira pela Exploração Mineral), na renovação do Código de Mineração e a criação de uma agência nacional reguladora do setor. O panorama internacional é o que parece mais claro para as empresas. Na quarta-feira, o diretor executivo de Ferrosos e de Estratégias da Vale, José Carlos Martins, afirmou que a demanda de minério de ferro continuará alta na Ásia.

Essa demanda torna os preços do minério de ferro sustentáveis, observa o presidente da Ferrous, Jayme Nicolato, apesar da queda recente das cotações no mercado internacional, como reflexo da própria crise mundial. O preço médio da tonelada do minério de ferro caiu de US$ 190 em meados de 2011 para US$ 116 no fim do ano passado e retornou aos US$ 150 em fevereiro. Ontem, estava em US$ 135. “Sem a China, nada do que estamos vivendo hoje seria possível”, disse Jayme Nicolato. Para o analista chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi, as mineradoras ainda terão volumes expressivos para negociar principalmente na Ásia. A China passou a crescer menos, mas significa uma expansão de 8% ao ano, sobre uma base muito alta, que foi de 11%.

Ferrous vai ampliar mina

A mineradora Ferrous, fundada em 2007 e em operação desde 2010, anunciou ontem que vai ampliar sua principal mina, a Viga, em Congonhas, na Região Central de Minas Gerais, a 70 quilômetros de Belo Horizonte. A produção saltará do atual 1,5 milhão de toneladas/ano para 15 milhões de toneladas/ano a partir de 2015. A fonte do investimento de US$ 1,2 bilhão no projeto, contudo, só será definida em julho de 2013: a companhia tem condições de arcar com todo o aporte por meio de receita própria, de acionistas ou de dívidas, mas não descarta a possibilidade de receber uma fatia de algum futuro parceiro estratégico.

“No pico da obra, serão quatro mil empregados”, afirma o presidente da Ferrous, Jayme Nicolato, ex-diretor da concorrente CSN, que, por coincidência, tem uma unidade vizinha à mina de Viga. O executivo tem um plano audacioso para a nova empresa: ele trabalha para que, até 2026, a produção anual da mineradora tenha superado os 40 milhões de toneladas. Nessa conta, porém, entram os insumos retirados das outras três minas da empresa – Esperança (Brumadinho), Santanense (Itatiaiuçu) e Jacuipe (Coração de Maria/BA) – e das outras duas que ainda não entraram em operação – Viga Norte (Itabirito) e Serrinha (Serra da Moeda).

Juntas, Viga Norte e Serrinha terão potencial para produzir 25 milhões de toneladas de minério de ferro a cada 12 meses. A reserva de insumo de todas as unidades da companhia soma cerca de 5 bilhões de toneladas. Atualmente, a Ferrous produz 3 milhões de toneladas/ano. Em 2013, a estimativa é ampliar para 5 milhões de toneladas/ano. Para isso, a empresa vai injetar US$ 40 milhões em seu complexo. Já o valor para a produção de 40 milhões de toneladas/ano em 2026 não foi calculado.

Mineroduto

Mas uma parte do investimento pode ser aplicado num mineroduto que a Ferrous deseja construir. O duto vai ligar a mina de Viga a um porto que a companhia também planeja erguer no município de Presidente Kennedy, no Espírito Santo. Esse canal terá cerca de 400 quilômetros e vai cortar 22 cidades de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) já concedeu as licenças prévias para a construção do mineroduto e do porto. O mineroduto terá capacidade para 25 milhões de toneladas de polpa de minério de ferro por ano. (PHL)



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