A carga desaparecida, avaliada em R$ 1,5 milhão, fez o Ministério Público ordenar investigação dos oficiais
Alessandra Mendes - Do Hoje em Dia
ARQUIVO
Lei fixa 30 dias como limite para a destruição de entorpecentes apreendidos pela polícia
Policiais civis de Iturama, no Triângulo Mineiro, figuram entre os
suspeitos do furto de 700 quilos de maconha de dentro da delegacia da
cidade. A droga, avaliada em R$ 1,5 milhão, ainda não foi localizada. Na
última sexta-feira, todos os funcionários da unidade – cerca de 25
pessoas, entre delegados, investigadores e prestadores de serviço
terceirizados – tiveram as digitais coletadas. O objetivo é confrontar o
material com o que foi recolhido pela perícia no local do crime. O
requerimento foi feito pelo Ministério Público Estadual (MPE) e acatado
pelo juiz e pelo delegado regional de Iturama.
A droga foi apreendida em 19 de novembro do ano passado e estava
guardada em um banheiro. A maconha desapareceu na madrugada de 5 de
dezembro. Quem a levou tinha a senha do alarme da delegacia, que foi
desligado. Ainda não se sabe como foi feito o transporte do
entorpecente, pois não há, até agora, testemunhas. O responsável pelo
furto, porém, teria deixado digitais na porta de vidro que dá acesso à
unidade da Polícia Civil.
Para identificar essa pessoa, e talvez outros envolvidos no episódio, o
MPE devolveu o inquérito para a delegacia no fim do mês passado,
solicitando novas diligências. Entre elas, a coleta de digitais de todos
os funcionários do local.
O pedido foi apresentado mesmo após a prisão de três homens, em
fevereiro deste ano, apontados pela Polícia Civil como autores do furto.
Os suspeitos negam o crime e continuam atrás das grades. A promotoria
considera, entretanto, que o fato não está esclarecido e, por isso,
determinou que a investigação continuasse.
Alegando humilhação por parte do MPE, os policiais de Iturama não se
conformam com a situação, apesar de terem cumprido a exigência. “Ficamos
com medo de represálias, que alguém terminasse transferido caso se
recusasse a fornecer as digitais. Isso não é certo”, diz um
investigador, que pediu anonimato.
Ele alega que os policiais estariam sendo vítimas de perseguição. Também
afirma que os colegas não estariam temerosos com relação ao resultado
da perícia, que deve sair em 30 dias.
O investigador ainda acredita que a Justiça poderia ter prevenido a
“saia-justa”. “Se tivessem acatado, antes, o pedido para incineração da
maconha, isso não teria acontecido”, diz. Segundo ele, o cofre da
delegacia armazenava outros 300 quilos de tóxicos. “Não cabia mais nada
lá”. O artigo 32 da Lei 11.343/2006 fixa 30 dias como limite para a
destruição de entorpecentes apreendidos. O prazo, porém, ainda não havia
expirado, no caso de Iturama.
A maconha foi apreendida dentro de uma caminhonete que furou uma
barreira montada pela Polícia Federal na divisa de Minas Gerais e Mato
Grosso do Sul, próximo à cidade de Paranaíba.
Seis pessoas que estariam envolvidas no transporte foram detidas em
Honorópolis, distrito de Campina Verde, no Triângulo Mineiro. A suspeita
é a de que a droga seja parte de contrabando internacional. Foram
encontrados, dentro do veículo, documentos do Paraguai.
Em nota, a Polícia Civil informou que, de acordo com o delegado Rodolfo
Rosa Domingos, o inquérito policial retornou do Ministério Público
Estadual há aproximadamente 20 dias para realização de outras
diligências. O texto confirma que uma delas era a coleta de digitais de
todos os policiais e servidores da unidade. Os demais procedimentos
estão em andamento. A Corregedoria da Polícia Civil monitora as
investigações.
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