terça-feira, 31 de julho de 2012

Série de acidentes expõe risco do transporte aéreo em Minas

Com quatro desastres envolvendo aviões de pequeno porte, julho já registra metade do total de acidentes aéreos do pior ano da última década em Minas. Escalada coincide com aumento do tráfego aéreo no país, onde houve este ano 84 ocorrências

Paula Sarapu
Junia Oliveira -Estado de Minas
Publicação: 31/07/2012 06:00 Atualização: 31/07/2012 07:29

Peritos trabalham entre escombros da aeronave que caiu ao tentar aterrissar em juiz de fora, na mais recente ocorrência de um mês especialmente turbulento nos céus de minas (Túlio Santos/EM/D.A Press)
Peritos trabalham entre escombros da aeronave que caiu ao tentar aterrissar em juiz de fora, na mais recente ocorrência de um mês especialmente turbulento nos céus de minas
O aumento do movimento no espaço aéreo e a busca de executivos e empresários por um transporte que permita chegar mais rapidamente aos compromissos coincide com a multiplicação de acidentes com aeronaves particulares em Minas, onde apenas neste mês ocorreram quatro desastres aéreos. É a metade do total registrado no pior ano para a aviação no estado na última década, 2009, quando houve oito episódios. Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica, erros de avaliação dos pilotos são a principal causa das ocorrências, representando 58,1% do total. Em todo o país, o número de quedas de aeronaves entre 2010 e 2011 teve aumento de 42,3%, passando de 111 para 158 casos. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em 10 anos houve 28 problemas com aeronaves apenas nos céus e solo mineiros, desde aves atingidas durante o voo a quedas com morte.
Os dois episódios mais recentes envolveram aviões particulares que voavam em condições climáticas desfavoráveis e caíram, matando 11 pessoas. O caso com maior número de vítimas ocorreu sábado, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e vitimou oito pessoas, entre elas o presidente da Vilma Alimentos, Domingos Costa Neto, de 58 anos, e seu filho, Gabriel, de 14, em episódio que começou a ser investigado ontem pela Polícia Civil. Embora não haja nenhuma indicação de que tenha sido esse o caso no mais recente episódio, é comum que o duelo entre o horário marcado para fechar negócios e garantia da segurança ponha em xeque a relação entre executivos e comandantes. Especialistas afirmam que, em qualquer situação, deve prevalecer a decisão do piloto, mesmo que isso signifique adiar ou cancelar a viagem. Este ano, segundo o Cenipa, já são 84 acidentes aéreos no país.


Os dados do órgão da Aeronáutica mostram que as adversidades meterológicas correspondem a 14,2% dos acidentes, ocupando a 11ª posição no ranking. Problemas com a manutenção das aeronaves aparecem em 7º lugar, com 20,3% dos casos. Dos acidentes registrados entre 2001 e 2010 nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, de responsabilidade do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos III (Seripa), quase a metade está relacionada à aviação geral, que inclui aeronaves particulares e jatos executivos, (42,7% dos casos). Em táxi aéreo e voos regulares, em que há cobrança pelos serviços, os percentuais chegam a 19,3% e 3,4% respectivamente. A legislação aeronáutica não permite que essa categoria faça procedimento de pouso com visibilidade da pista abaixo do mínimo de 600 pés (180 metros) – o aeroporto de Juiz de Fora operava no último sábado, quando ocorreu o acidente, com teto de 100 pés (30 metros), que indica a distância entre as nuvens e o solo.

Segundo o gerente de Segurança Operacional do ADE Táxi Aéreo, empresa de Belo Horizonte, Luiz Felipe de Souza, que também pilota, as condições meteorológicas são fundamentais para pousos e decolagens seguros. Ele afirma que o ideal é não arriscar em condições abaixo do mínimo estipulado em lei. “O empresário contrata um piloto para mantê-lo vivo e, secundariamente, para chegar ao destino. Quando fecha a porta e liga o motor, a autoridade é do comandante. É ele quem resolve e ele é o responsável pelas decisões;  nem mesmo a torre ou órgãos de controle podem intervir”, afirma o especialista.

O bimotor King Air B-200, modelo da aeronave prefixo PR-DOC que caiu em Juiz de Fora, tem um alerta sonoro na cabine, acionado quando o avião se aproxima do solo, segundo o especialista. “Ela grita ininterruptamente ‘terreno’, ‘cuidado’, ‘suba’, sempre em inglês. É um sistema desse modelo. Se não tiver ocorrido pane elétrica, o sistema avisou que ele voava muito baixo”, explica o piloto.


Os últimos quatro acidentes

29 de julho
O avião da empresa Vilma Alimentos caiu ao tentar pousar no aeroporto de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Morreram o presidente da firma, Domingos Costa, de 58 anos, e o filho dele, Gabriel Barreira Costa, de 14, o piloto, o copiloto e quatro funcionários da empresa. O local tinha muita neblina e o aeroporto estava fechado no momento da tragédia.

12 de julho
O avião particular do empresário mineiro Clemente Faria, diretor administrativo do Grupo Minasmáquinas, caiu no mar perto da Ilha de Cataguases, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. A aeronave decolou do aeroporto da Pampulha e encontrou mau tempo, com chuva forte e rajadas de vento na Costa Verde fluminense. Três pessoas morreram.

6 de julho
Uma pessoa morreu e duas ficaram feridas na queda de um avião de pequeno porte em Espinosa, na Região Norte de Minas. O acidente ocorreu próximo ao povoado de Tanque das Pedras, a 60 quilômetros da cidade.

2 de julho
Um monomotor caiu numa fazenda de Prata, no Triângulo Mineiro. Duas pessoas morreram. O avião desapareceu dos radares por volta das 21h e foi encontrado na manhã do dia seguinte. Havia 250 kg de pastabase de cocaína, um fuzil calibre 556, um carregador de pistola e munição a bordo.

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