Estudo indica que alterações nas
mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia nas células, podem
ser uma das razões de as mulheres morrerem mais tarde do que os homens
Roberta Machado -Estado de Minas
Publicação: 30/08/2012 08:02 Atualização: 30/08/2012 11:25
Herança maldita
Roberta Machado -Estado de Minas
Publicação: 30/08/2012 08:02 Atualização: 30/08/2012 11:25
Concurso de beleza para mulheres da terceira idade em São Paulo: a expectativa de vida feminina no mundo é seis anos maior que a masculina |
Segundo o último
levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
expectativa média de vida dos homens no país, em 2010, era de quase 70
anos, enquanto esperava-se que as mulheres morressem somente pouco
depois que completassem 77 anos. Nos países desenvolvidos, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) aponta que elas vivem, em média, seis anos mais
que eles. Esse padrão desigual se repete há muitos anos, levantando
diversas teorias sobre a longevidade feminina. Desde os hábitos
alimentares à prática de exercícios, muitos fatores foram apontados como
causas dessa vantagem das mulheres. Pesquisadores australianos, no
entanto, divulgaram uma pesquisa que aponta um motivo muito mais
profundo: defeitos genéticos podem ser os responsáveis por roubar algum
tempo de vida dos homens.
A hipótese surgiu a partir de um experimento com moscas. Cientistas da Monash University, na Austrália, analisaram a expectativa de sobrevivência de 15 mil desses insetos e compararam os resultados entre os dois gêneros. Enquanto os machos viviam por, no máximo, 55 dias, algumas fêmeas resistiam até o 66º dia. As moscas do sexo feminino também costumavam morrer em uma época mais similar umas às outras, em contraste com os padrões de vida masculino, que variavam muito de acordo com a linhagem de cada mosca.
Para entender por que elas viviam muito mais do que eles sob as mesmas condições, os pesquisadores fizeram uma busca detalhada em nível celular. Nas mitocôndrias (organelas responsáveis por produzir energia), eles encontraram um padrão entre as sequências genéticas e o tempo de vida dos insetos. As moscas que tinham determinadas mutações apresentaram uma tendência a viver menos, enquanto as que tinham outras sobreviviam por mais tempo. “Como moscas e humanos têm genes mitocondriais similares, esses resultados são provavelmente muito relevantes para humanos”, acredita Damian Dowling, um dos autores da pesquisa.
Essa relação levantou a suspeita de que esses genes seriam os responsáveis pelo envelhecimento precoce masculino. “Essa organela cria radicais livres no processo de produção de energia, que podem ser prejudiciais à célula. Provavelmente, essas mutações causam taxas maiores de radicais livres nos machos”, especula Dowling. Mas um mistério permanecia: por que as fêmeas com os mesmos defeitos genéticos continuavam a viver mais? De acordo com a teoria apresentada pelos australianos, apenas os machos são afetados por essas mutações mitocondriais.
A hipótese surgiu a partir de um experimento com moscas. Cientistas da Monash University, na Austrália, analisaram a expectativa de sobrevivência de 15 mil desses insetos e compararam os resultados entre os dois gêneros. Enquanto os machos viviam por, no máximo, 55 dias, algumas fêmeas resistiam até o 66º dia. As moscas do sexo feminino também costumavam morrer em uma época mais similar umas às outras, em contraste com os padrões de vida masculino, que variavam muito de acordo com a linhagem de cada mosca.
Para entender por que elas viviam muito mais do que eles sob as mesmas condições, os pesquisadores fizeram uma busca detalhada em nível celular. Nas mitocôndrias (organelas responsáveis por produzir energia), eles encontraram um padrão entre as sequências genéticas e o tempo de vida dos insetos. As moscas que tinham determinadas mutações apresentaram uma tendência a viver menos, enquanto as que tinham outras sobreviviam por mais tempo. “Como moscas e humanos têm genes mitocondriais similares, esses resultados são provavelmente muito relevantes para humanos”, acredita Damian Dowling, um dos autores da pesquisa.
Essa relação levantou a suspeita de que esses genes seriam os responsáveis pelo envelhecimento precoce masculino. “Essa organela cria radicais livres no processo de produção de energia, que podem ser prejudiciais à célula. Provavelmente, essas mutações causam taxas maiores de radicais livres nos machos”, especula Dowling. Mas um mistério permanecia: por que as fêmeas com os mesmos defeitos genéticos continuavam a viver mais? De acordo com a teoria apresentada pelos australianos, apenas os machos são afetados por essas mutações mitocondriais.
Herança maldita
A
vulnerabilidade masculina às alterações ocorre, segundo o pesquisador,
devido a um processo chamado de “herança maldita”. Enquanto os genes de
um descendente podem vir de ambos os pais, as mitocôndrias são sempre
herdadas da mãe. “Os espermatozoides, para adquirirem maior mobilidade,
abriram mão, ao longo da evolução, do citoplasma e, consequentemente,
das mitocôndrias. Assim, a organela é transmitida de uma geração para a
outra apenas pelas mães, criando uma linhagem materna”, esclarece Maria
Raquel Carvalho, professora no Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG).
Dessa forma, uma mutação que passou despercebida, ou que até mesmo tenha causado resultados positivos no organismo da fêmea, pode ser transmitida para a prole masculina, que vai sofrer os efeitos envelhecedores dos defeitos genéticos. Esse processo permite que milhares de gerações acumulem uma série de mutações apesar do processo de seleção natural, porque elas não são prejudiciais justamente para o gênero que as transmite.
Como a mitocôndria tem um reparo de DNA muito menos eficiente para se proteger de mutações, essa organela acaba se tornando uma vítima fácil para genes nocivos. Essas mudanças no código podem afetar a produção de energia na mitocôndria, gerando radicais livres em excesso e induzindo danos em outras células. Alterações na organela também significam mudanças no metabolismo, o que afeta o funcionamento de todo o corpo.
Sem pânico
Dessa forma, uma mutação que passou despercebida, ou que até mesmo tenha causado resultados positivos no organismo da fêmea, pode ser transmitida para a prole masculina, que vai sofrer os efeitos envelhecedores dos defeitos genéticos. Esse processo permite que milhares de gerações acumulem uma série de mutações apesar do processo de seleção natural, porque elas não são prejudiciais justamente para o gênero que as transmite.
Como a mitocôndria tem um reparo de DNA muito menos eficiente para se proteger de mutações, essa organela acaba se tornando uma vítima fácil para genes nocivos. Essas mudanças no código podem afetar a produção de energia na mitocôndria, gerando radicais livres em excesso e induzindo danos em outras células. Alterações na organela também significam mudanças no metabolismo, o que afeta o funcionamento de todo o corpo.
Sem pânico
Mesmo
diante de tais resultados, especialistas lembram: não há motivos para
homens perderem o sono pensando no envelhecimento precoce. O processo
que ocorre nas mitocôndrias é responsável por apenas uma pequena fração
do tempo de vida que as mulheres costumam ter a mais do que eles. “A
diferença que verificaram é muito leve, não seria significativa em
humanos. Essas mutações são importantes, mas os fatores ambientais têm
um papel tão importante quanto elementos metabólicos ou biológicos”,
assegura Diego Bonatto, professor de ciências biológicas da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para enganar o código genético apressadinho, a dica é cuidar do corpo e compensar o estresse oxidativo e a mudança de metabolismo com uma dieta balanceada e exercícios frequentes. A prática de atividades físicas, por exemplo, aumenta o número de mitocôndrias nas células e pode ser uma arma contra o envelhecimento precoce. Outros estudos também provam que manter o peso na faixa ideal aumenta a expectativa de vida e evita doenças que podem levar a uma morte precoce, como hipertensão, problemas cardíacos e até mesmo câncer.
Para enganar o código genético apressadinho, a dica é cuidar do corpo e compensar o estresse oxidativo e a mudança de metabolismo com uma dieta balanceada e exercícios frequentes. A prática de atividades físicas, por exemplo, aumenta o número de mitocôndrias nas células e pode ser uma arma contra o envelhecimento precoce. Outros estudos também provam que manter o peso na faixa ideal aumenta a expectativa de vida e evita doenças que podem levar a uma morte precoce, como hipertensão, problemas cardíacos e até mesmo câncer.
E, enquanto uma mudança de hábitos causa efeitos
na saúde em poucos meses, as mutações na mitocôndria levam muitos anos
para afetarem o corpo. “Há muitas mitocôndrias numa célula, e muitas
células por tecido. Mesmo que ocorram mutações em uma, há outras
funcionando normalmente”, compara Bonatto. Como o efeito cumulativo não
demonstra sinais durante a juventude, os homens têm tempo de sobra para
tomar controle sobre o próprio corpo antes que os genes o façam.
Restrição alimentar não traz anos a mais
Estudo realizado com macacos Rhesus e publicado ontem na revista Nature indica que uma dieta desprovida de um terço das calorias consumidas habitualmente não garante necessariamente um aumento da expectativa de vida, como sugeriam alguns especialistas. Contudo, essa dieta permite que os macacos desfrutem de uma saúde melhor, com menos casos de problemas cardiovasculares, câncer e diabetes. As conclusões contradizem pesquisas realizadas em camundongos e ratos que estabeleceram uma relação entre restrição alimentar e longevidade. Para a nova análise, cientistas do Instituto Americano de Envelhecimento submeteram, durante mais de 20 anos, 121 macacos de pesos normais a restrições calóricas de 30% e compararam seu período de vida com um grupo de controle. Não foi observada nenhuma diferença notável referente à longevidade entre os dois conjuntos de cobaias.
Restrição alimentar não traz anos a mais
Estudo realizado com macacos Rhesus e publicado ontem na revista Nature indica que uma dieta desprovida de um terço das calorias consumidas habitualmente não garante necessariamente um aumento da expectativa de vida, como sugeriam alguns especialistas. Contudo, essa dieta permite que os macacos desfrutem de uma saúde melhor, com menos casos de problemas cardiovasculares, câncer e diabetes. As conclusões contradizem pesquisas realizadas em camundongos e ratos que estabeleceram uma relação entre restrição alimentar e longevidade. Para a nova análise, cientistas do Instituto Americano de Envelhecimento submeteram, durante mais de 20 anos, 121 macacos de pesos normais a restrições calóricas de 30% e compararam seu período de vida com um grupo de controle. Não foi observada nenhuma diferença notável referente à longevidade entre os dois conjuntos de cobaias.
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