terça-feira, 4 de setembro de 2012

Redução do Q.I. associada ao uso frequente de maconha

Por Leigh Phillips- The New York Times News Service/Syndicate

Fumar maconha regularmente na adolescência resulta em uma diminuição da capacidade cognitiva não observada quando o uso da droga ilícita inicia na fase adulta.
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Fumar maconha regularmente na adolescência resulta em uma diminuição da capacidade cognitiva não observada quando o uso da droga ilícita inicia na fase adulta.
Psicóloga clínica da Universidade Duke, em Durham, na Carolina do Norte, Madeline Meier, juntamente com seus colegas, usou dados do conhecido Estudo Longitudinal de Dunedin, pesquisa em andamento constituída da interação entre vários fatores e envolvendo um grupo de 1.037 neozelandeses acompanhados desde o nascimento, e cujos dados agora equivalem a 40 anos de pesquisa. Os participantes do estudo realizaram testes de Q.I. (quociente de inteligência) e outros testes de avaliação neuropsicológica periodicamente e responderam a perguntas sobre seu comportamento, como o uso de drogas. O estudo foi publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
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Ao realizarem o teste aos 38 anos, o Q.I. dos participantes que fumaram maconha com frequência maior desde a adolescência apresentou uma redução média de 8 pontos da infância à idade adulta. O Q.I. dos não usuários havia aumentado aproximadamente um ponto. Mesmo após os usuários mais frequentes terem sido deixados de lado, ainda foi possível observar a diminuição de alguns pontos do Q.I. em relação aos números da infância nos usuários menos frequentes que iniciaram na adolescência. Além disso, essa diminuição dos processos cognitivos parecia irreversível mesmo depois de os participantes terem parado de usar maconha. Contudo, o Q.I. dos usuários contínuos que iniciaram somente após a maioridade (com mais de 18 anos) não parecia diminuir nas mesmas proporções.
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Abundância de dados
Ao conseguir comparar os resultados de testes de Q.I. de um participante obtidos antes e depois do uso da maconha, os autores puderam descartar déficits neuropsicológicos anteriores como sendo a causa da diminuição da capacidade intelectual. Além disso, os efeitos da educação puderam ser descartados, uma vez que a proporção não foi diferente entre usuários frequentes da amostra total e usuários que concluíram apenas o ensino médio ou possuíam nível educacional inferior. Isso deve responder ao desafio da 'hipótese da educação', segundo a qual entre usuários frequentes de maconha é maior a probabilidade de abandono dos estudos. Da mesma forma, eles também conseguiram controlar outros fatores complicadores, como esquizofrenia, uso de outras drogas e a possibilidade de o participante estar sob a influência de drogas no momento da avaliação de suas habilidades cognitivas.
As descobertas fornecem indícios dos efeitos neurotóxicos da maconha em uma idade importante para o desenvolvimento cerebral, embora os autores deixem para outros pesquisadores a tarefa de isolar o possível mecanismo subjacente.
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Limitações do estudo
Robin Murray, pesquisador em psiquiatria do Instituto de Psiquiatria do King's College de Londres, cujas próprias pesquisas têm explorado associações entre maconha e psicose, ficou impressionado com o rigor do artigo: 'Outros estudos que demonstram a diminuição da capacidade cognitiva foram realizados, mas todos usam amostras um tanto duvidosas. Os participantes do estudo Dunedin são, provavelmente, uma das populações mais estudadas no mundo sob o ponto de vista da capacidade cognitiva. É uma amostra excelente'.
Valerie Curran, professora de psicofarmacologia da Universidade de Londres e membro do Comitê Científico Independente sobre Drogas do Reino Unido, estava mais cética, afirmando que outros fatores, como a depressão, também estão associados ao uso frequente da maconha e à diminuição da motivação. 'Embora o tamanho geral da amostra seja excelente, os dados sobre o início do uso frequente na adolescência têm como base apenas 50 pessoas.'
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Ela também observou que as descobertas representam uma diminuição muito pequena do Q.I. como consequência do uso muito frequente durante vários anos e 'que não tem relação com o uso para recreação'.
Pesquisas recentes demonstraram que poucos adolescentes acreditam que fumar maconha regularmente seja prejudicial à saúde. Eles estão começando a fumar maconha bem cedo e mais adolescentes estão usando todos os dias.
Com isso em mente, os autores afirmam que suas descobertas sugerem que os responsáveis pela formulação de políticas devem aumentar os esforços para adiar o início do uso da maconha pelos adolescentes.
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'Vamos manter alguma vigilância. O problema não é enorme', afirma Murray. 'O adolescente não ficará completamente demente. É claro que é melhor possuir oito pontos extras de Q.I., mas essa perda não é suficiente para chamar a atenção dos médicos.'
Também é necessário explorar os efeitos do aumento significativo da presença do componente ativo da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), durante as últimas décadas. 'É preciso que lembremos que no haxixe ou na maconha da época em que os participantes do estudo Dunedin eram crianças, no início dos anos 80, o teor de THC era de 4 a 5 por cento', observa Murray. ''A (maconha) de hoje possui de 16 a 18 por cento, por isso seus efeitos provavelmente serão maiores.'
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