quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Quem quer trabalhar no shopping? » Shoppings abrirão 19 mil vagas na Grande BH

Investimentos nas regiões metropolitanas do país são crescentes, mas também aumenta a falta de mão de obra qualificada. Só na Grande BH, cerca de 19 mil vagas vão ser abertas pelo setor em 2013

Carolina Mansur - Estado de Minas
Publicação: 17/10/2012 06:00 Atualização: 17/10/2012 07:15

O Metropolitan Garden sozinho deve criar 9,9 mil postos de trabalho diretos e indiretos, mas empreendedores vão fazer parcerias para preparar os funcionários (TENCO SHOPPING CENTERS/DIVULGAÇÃO)
O Metropolitan Garden sozinho deve criar 9,9 mil postos de trabalho diretos e indiretos, mas empreendedores vão fazer parcerias para preparar os funcionários

Descentralizar os investimentos feitos nas capitais e apostar em cidades das regiões metropolitanas é a nova tendência do setor de shoppings centers. A justificativa para o interesse é a diversificação da própria economia nos maiores centros urbanos do país e o crescimento do mercado consumidor. “Áreas subdesenvolvidas, mas de população expressiva estão no foco do nosso interesse”, afirmou o megainvestidor americano e presidente do Equity Group Investiments, Sam Zell, durante palestra na 12ª edição do Congresso Internacional de Shopping Centers e Conferência das Américas, promovido pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) em São Paulo. Segundo a Abrasce, dos 31 novos empreendimentos que serão inaugurados neste ano no Brasil, oito são em mercados inéditos para o setor. “Também viabilizam a tendência o menor custo de implantação, em relação aos investimentos necessários para a viabilização de um shopping nas capitais”, diz o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga. Os investimentos crescentes nesses polos que cercam as capitais, no entanto, acaba esbarrando em um problema: a falta de profissionais qualificados.

O apagão na mão de obra para shopping, recorrente em Belo Horizonte, deve se repetir também na região metropolitana, que no próximo ano receberá três novos shoppings centers. Juntos, eles devem gerar cerca de 10 mil postos de trabalho diretos e 9 mil indiretos. Em Betim, o Metropolitan Garden Shopping e o Monte Carmo Shopping – ambos em fase de construção – vão abrir cerca de 8 mil vagas divididas entre as lojas e o mall depois da inauguração. Já o Shopping Contagem, no Bairro Cabral, deve empregar 2 mil pessoas diretamente. Vendedores, operadores de caixa e estoquistas, são os mais procurados, respectivamente.


Drible no problema


Para Priscila Vaz, pode ser interessante atuar no varejo enquanto não se forma em engenharia ambiental (FOTOS: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A PRESS - 27/9/12)
Para Priscila Vaz, pode ser interessante atuar no varejo enquanto não se forma em engenharia ambiental
Diante da dificuldade no preenchimento das vagas, a previsão é de que os empreendedores tenham de recorrer à mão de obra disponível nas cidades, mas que ainda é desqualificada. Outros, para driblar o mau momento, prometem investir na formação dos futuros trabalhadores nessas regiões. Segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), a falta dessa mão de obra não é um fenômeno percebido apenas nos municípios da Grande BH, mas em todas as cidades brasileiras. “Além da baixa qualificação para assumir as vagas, falta comprometimento pelos poucos que se habilitam aos cargos nos shoppings, já que os horários são mais flexíveis e há o trabalho aos fins de semana”, explica o diretor de Relações Institucionais da Alshop, Luís Augusto Ildefonso da Silva.

Mão de obra facilmente absorvida por esse mercado, seria a do ex-metalúrgico Willians Dutra, que tem vasta experiência como estoquista. Desde que ficou desempregado, mesmo tendo investido seu tempo e dinheiro em cursos de capacitação na área de estoque, ele garante que shopping é um setor no qual prefere não ingressar. “Como metalúrgico eu trabalho menos, iria ter a remuneração por insalubridade e não teria que trabalhar no final de semana. Essa carga horária no fim de semana não é viável”, assume. Ao contrário dele, está a estudante Priscila Dafine Carvalho Vaz, que cursa engenharia ambiental. Ela não tem experiência no varejo, mas se interessa pelo trabalho em caráter temporário para custear os estudos e garantir uma renda extra. “Acho que não tenho perfil adequado para trabalhar em shopping e com vendas, mas considerando minha necessidade de não ficar parada até achar algo na minha área, eu toparia assumir uma vaga”, garante.

Num cenário onde há mais vagas que candidatos, pessoas com o mesmo perfil de Priscila são as que vão assumir as vagas nos empreedimentos, de acordo com o diretor da Alshop. Isso porque, segundo Luís Augusto, sem pessoal qualificado e experiente, os novos empreendimentos serão atendidos pela mão de obra já existente no município. “O remédio tem sido usar currículos daqueles que têm escolaridade maior ou de universitários que nem sempre têm formação vinculada ao varejo”, lembra.

Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, o movimento que sinaliza maior número de vagas do que pessoas qualificadas é considerado normal no setor de serviços, que tem crescido mais que a indústria. Mas ele avalia que a dificuldade em encontrar mão de obra será certamente enfrentada pelos empregadores, que devem se preocupar com a produtividade de seus funcionários. “A produtividade só existe a quando há qualificação que, por consequência, significa melhores salários”, adverte. (Com Gabriella Pacheco)

* A repórter viajou a convite da Abrasce
Efeitos colaterais

Já Willians Dutra se recusa a se candidatar a um cargo em shopping: não quer perder os fins de semana
Já Willians Dutra se recusa a se candidatar a um cargo em shopping: não quer perder os fins de semana
A absorção de mão de obra sem qualificação reflete na chegada de um profissional ao mercado de trabalho menos preparado e com pouca capacidade para as vendas. “O resultado é uma evolução lenta nas vendas, quando ela poderia ser muito maior no caso de um funcionário mais bem preparado para o relacionamento com o consumidor”, reforça Luís Augusto. De olho na reversão desse quadro, o diretor revela, no entanto, que a Alshop se prepara para o retorno do programa Treinashop, que já formou mais de 150 mil trabalhadores nos últimos cinco anos.

O crescimento do segmento de shoppings foi para o diretor-presidente da Tenco, responsável pelo Metropolitan Garden Shopping de Betim, Eduardo Gribel, o principal motivador para a aposta na criação de alternativas que viabilizem a formação de cerca de 4,5 mil futuros trabalhadores. “O setor cresce e a demanda por profissionais acompanha. Para isso, temos uma parceria com o Senac e a Prefeitura Municipal de Betim com o objetivo de preparar vendedores, mas também equipes de segurança, limpeza e das outras áreas envolvidas com o atendimento nosso público”, diz. Segundo Gribel, esse é um diferencial aplicado nos oito empreendimentos do grupo.

No Monte Carmo Shopping, a expectativa é de que a formação de mão de obra qualificada ocorra ao longo das obras, de acordo com o sócio da Hemisfério Sul Investimentos (HSI), gestora de fundos de private equity imobiliário e atual responsável pelo empreendimento, Luiz Constantino. “Por experiência em outras regiões, vemos que a construção de um empreendimento como o Monte Carmo desenvolve iniciativas púbico-privadas espontâneas para atender a demanda por capacitação criada com a chegada de um shopping deste porte na cidade”, diz Constantino. (CM) 

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