16/03/2013 20h21
- Atualizado em
16/03/2013 22h28
Frase foi dita ao dispensar capa cerimonial usada por Bento 16; em 3 dias, papa já deu amostra do que deve ser o 1º pontificado de um jesuíta.
Os primeiros três dias de pontificado do Papa Francisco
já deram ao mundo uma amostra do que será um jesuíta, pela primeira vez
na história, como líder dos 1,2 bilhão de católicos no mundo.
Minutos após o resultado da eleição no conclave ter sido declarado na
Capela Sistina, um funcionário do Vaticano chamado de Mestre de
Cerimônias ofereceu ao novo Papa a tradicional capa vermelha decorada
com pele que o seu antecessor, Bento 16, usava com orgulho em cerimônias
importantes. "Não, obrigado, monsenhor", teria afirmado o Papa
Francisco. "Você pode vesti-la. O Carnaval acabou!", disse.
Esse foi apenas um pequeno sinal de muitos nestes dias de que, como
comentou um dos mais ácidos colunistas italianos, Massimo Franco, do
jornal "Corriere Della Sera", "a era do Papa-rei e da corte do Vaticano
acabou".
Primeiros dias de pontificado de Francisco foram
pontuados por vários sinais de possíveis mudanças
(Foto: Gettyimages/BBC)
pontuados por vários sinais de possíveis mudanças
(Foto: Gettyimages/BBC)
Era só olhar os rostos chocados de muitos dos membros da corte quando
perceberam de repente o significado do que havia acontecido e entenderam
que aquilo realmente havia acabado.
Outro momento da verdade ocorreu quando o Papa Francisco quebrou os lacres do Apartamento Papal no Palácio Apostólico para tomar posse de sua nova casa.
Funcionários do Vaticano se ajoelharam e se curvaram quando o arcebispo
George Gaenswein, secretário do agora Papa Emérito Bento 16 e ainda
chefe da casa pontifícia, procurava o interruptor de luz enquanto o Papa
observava imóvel a cena, na penumbra. "Há espaço para 300 pessoas
aqui", ele teria dito. "Eu não preciso de todo esse espaço."
Nomeações
O novo Papa ainda não deu nenhuma indicação de sua escolha para o segundo cargo na hierarquia do Vaticano, o de secretário de Estado. Claramente, os cardeais e monsenhores italianos que gerenciavam o Vaticano durante o pontificado de Bento 16 gostariam de ser mantidos em seus cargos (todos os altos cargos do Vaticano expiram quando há um posto vacante na Santa Sé). Mas muitos ficarão desapontados.
O novo Papa ainda não deu nenhuma indicação de sua escolha para o segundo cargo na hierarquia do Vaticano, o de secretário de Estado. Claramente, os cardeais e monsenhores italianos que gerenciavam o Vaticano durante o pontificado de Bento 16 gostariam de ser mantidos em seus cargos (todos os altos cargos do Vaticano expiram quando há um posto vacante na Santa Sé). Mas muitos ficarão desapontados.
O Papa Francisco espera fazer suas nomeações em seu próprio ritmo e em seu próprio tempo, e deve fazer mudanças significativas em questão de semanas, conforme a lenta burocracia do Vaticano avance.
Após eleição, papa foi pessoalmente a hotel onde
estava hospedado para pagar conta e buscar malas
(Foto: Gettyimages/BBC)
estava hospedado para pagar conta e buscar malas
(Foto: Gettyimages/BBC)
O que vem fascinando os vaticanistas é que o novo Papa não tem um
secretário ou assessor pessoal que o siga em todos os lados como George
Gaenswein fazia com Bento 16.
Poucas horas após sua eleição, o novo pontífice escapou do Vaticano em um carro comum para rezar na basílica de Roma, onde o fundador de sua ordem rezou séculos antes. E então pediu ao motorista que parasse no hotel para clérigos no centro, onde havia se hospedado em Roma antes do conclave, para pagar suas contas e tomar seus pertences.
No dia seguinte ele novamente deixou o Vaticano, incógnito, para
visitar um amigo doente no hospital. O novo Papa é um homem de hábitos
frugais, um amigo dos pobres, na longa tradição de outro ícone da Igreja
Católica, e cujo nome ele emprestou, São Francisco de Assis. Quando era
bispo, ele costumava viajar por Buenos Aires, na Argentina, em
transporte público e cozinhar sua própria comida em um pequeno
apartamento.
Ele já pediu aos colegas bispos da Argentina que não gastem seu dinheiro para viajar a Roma
para sua cerimônia de posse, mas para doarem o dinheiro da viagem aos
pobres. Por isso, as pessoas devem se preparar para algumas novas
surpresas.
Líder dos jesuítas é chamado
popularmente de 'Papa Negro'
(Foto: Divulgação / Companhia de Jesus)
popularmente de 'Papa Negro'
(Foto: Divulgação / Companhia de Jesus)
'Papa negro'
Os jesuítas não são somente a maior ordem religiosa na Igreja Católica, mas também a mais revolucionária. Fundada por um soldado que se tornou místico, Santo Inácio de Loyola, no século 16, ela tem uma tradição de rigor intelectual e espiritual que sugere que o Vaticano está prestes a passar por uma reformulação, com implicações enormes para o futuro da Igreja Católica Apostólica Romana no século 21.
Os jesuítas não são somente a maior ordem religiosa na Igreja Católica, mas também a mais revolucionária. Fundada por um soldado que se tornou místico, Santo Inácio de Loyola, no século 16, ela tem uma tradição de rigor intelectual e espiritual que sugere que o Vaticano está prestes a passar por uma reformulação, com implicações enormes para o futuro da Igreja Católica Apostólica Romana no século 21.
A Companhia de Jesus, para dar o nome oficial da ordem, apesar de
proclamar sua lealdade incondicional ao Papa em Roma, já esteve em
vários períodos na história envolvida em atritos com a Cúria Romana e
foi até mesmo reprimida em várias partes do mundo, para reemergir
posteriormente.
Antes do conclave, houve especulações sobre a possibilidade de o
conclave escolher um cardeal africano como o primeiro Papa negro da
Igreja Católica. Em vez disso, os cardeais-eleitores escolheram esse
jesuíta de 76 anos cuja ordem é chefiada por um sacerdote chamado de
superior geral, em homenagem à origem militar de seu fundador. Ele
também é conhecido popularmente como "o Papa Negro" por conta da cor de
seu hábito.
O atual líder da Companhia de Jesus é um padre espanhol, Adolfo
Nicolás, cujo escritório fica em frente ao Vaticano. Ele imediatamente
enviou uma mensagem de congratulações ao seu companheiro jesuíta após a
eleição.
Vale a pena lembrar que foi um ex-"Papa Negro", o padre Hans
Kolvenbach, o primeiro a quebrar a tradição de manter o cargo de
superior geral até a morte, como era a tradição também com os Papas. Ele
renunciou ao cargo em 2008, ao completar 80 anos, sugerindo um novo
precedente que os "Papas Brancos" também poderiam seguir.
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