domingo, 31 de março de 2013

‘Dilma e o governo devem estar jogando fora o apoio dos evangélicos’, afirma Marco Feliciano

O deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) arrastou 2014 para o miolo da encrenca que o engolfa desde que assumiu, em 7 de março, a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Insinuou que a resistência do PT ao seu nome afugenta o eleitor evangélico da candidatura reeleitoral de Dilma Rousseff. Fez isso numa entrevista ao humorista Danilo Gentili (assista aqui).
Gentili perguntou a Feliciano se o PT não estaria fazendo dele um “bode expiatório” para evitar que os holofotes se voltem para José Genoino e João Paulo Cunha, os dois condenados do mensalão que integram a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Câmara. “Isso é um jogo político”, aquiesceu o polêmico mandachuva da Comissão de Direitos Humanos.
Em timbre ameaçador, Feliciano prosseguiu: “Eu penso que, nesse momento, o PT começa a repensar. Afinal de contas, se isso estiver acontecendo de fato, a presidenta Dilma e o governo devem estar jogando fora o apoio dos evangélicos, que não é pequeno, para uma eleição do ano que vem. São quase 70 milhões de evangélicos.”
Levada ao ar na noite passada, a entrevista fora gravada na quarta-feira (27) –mesmo dia em o líder do PSC, deputado André Moura (SE), inaugurara o esforço para arrastar o petismo à fogueira:
“Por que não pegar um espelho e olhar para si mesmo e perguntar: por que o PT indica para a Comissão de Constituição e Justiça dois mensaleiros condenados pela mais alta Corte deste país, o STF? Será que julgar a indicação do Feliciano, pelo PSC, é correto para um partido como o PT, que, volto a repetir, indicou dois mensaleiros condenados?”.
Como que decidido a potencializar a contradição de seus antagonistas, Feliciano disse que o PSC não escolheu a Comissão de Direitos Humanos. Ficou com ela porque foi “a comissão que sobrou”. Criado há 18 anos a partir de uma proposta do PT, o colegiado sempre foi presidido por petistas ou aliados ditos de esquerda.
Agora, ironizou Feliciano, “o partido que cuida dessa comissão desde que ela foi fundada parece ter aberto mão dela porque nesse momento não é prioridade.” Por isso, “caiu no colo do meu partido.” A alturas tantas, o deputado-pastor afirmou que a comissão é “secundária e quase inexpressiva”.
Feliciano exagerou: “Ninguém nunca ouviu falar dessa comissão.” Mais adiante, jactou-se: “Era secundária até a minha chegada.” Dando corda a si próprio, acabou soando anedótico: “Acho que eu coloquei a Comissão de Direitos Humanos no lugar devido dela.”
Considerando-se o pano de fundo, a declaração não orna com o teatro em chamas. Dos 19 servidores que trabalhavam na comissão que “caiu no colo” de Feliciano, sobraram dois. Foi à mesa, de resto, uma proposta de renúncia coletiva dos membros da comissão. E Feliciano dá de ombros. Conforme já foi comentado aqui, a confusão interessa a Feliciano. O pastor fala para suas ovelhas.
Qual é o problema de dois homens se beijarem em público?, indagou Gentili. E Feliciano: “É constrangedor. Para um pai, que tem suas crianças, é constrangedor. A sociedade brasileira, por mais que se diga progressista, não está preparada para isso.” O apresentador manifestou-se contra a interferência do Estado na vida das pessoas. Feliciano, então, explicitou seus objetivos.
“Isso não é o Estado, é o posicionamento de um parlamentar que representa um segmento: 211.855 pessoas votaram em mim com esse pensamento. Nós temos essa cultura. Não critico quem faz. Faça! Mas faça de uma maneira que não choque os demais.” Antes, no início da conversa, Feliciano relatara uma cena que diz ter presenciado ao desembarcar em São Paulo.
“Eu estava agora no aeroporto, descendo, vindo pra cá. Dois moços se posicionaram de uma maneira que eu pudesse ver. Ficaram se beijando de língua e tocando suas partes íntimas. Pra que isso?” Gentili não pedeu o chiste: “E não te deu tesão? Feliciano manteve o rebolado: “Você ficaria com tesão?” E o entrevistador, para gáudio da plateia: “Se fosse limpinho…”
Antes de exibir-se no ‘Agora é Tarde’ de Gentili, Feliciano conversara com Sabrina Sato, do ‘Pânico na TV’, a quem dissera que só deixaria a Comissão de Direitos Humanos se morresse. “As entrevistas mais sérias eu tenho dado em programas de humor como o seu”, afirmou ele a Gentili.
De fato, as entrevistas com Feliciano tiveram um quê de humorística seriedade. Na anterior, ele reconhecera que faz chapinha no cabelo, mas negara ser gay. Nesta última, teve a oportunidade de declarar-se contra as pesquisas com células tronco e o sexo antes do casamento. Mas viu-se constrangido a responder a indagações que só não foram mais hilárias porque as respostas tiveram um grau de comicidade ainda maior.
É a favor ou contra ‘transar na bunda?’, eis um exemplo de pergunta. Minucioso, Gentili explicou que se referia a uma transa de homem com mulher, “sem viadagem”. E Feliciano: “Amigo, esse lugar que você chamou aí de bunda, isso é um esgoto. Não foi feito pra isso. É anti-higiênico. E tem outras coisas mais que não vale a pena falar.” O deputado-pastor gostou do resultado da prosa. A julgar pelas mensagens que reproduziu no Twitter, seu rebanho também apreciou. (UOL Notícias - Política).
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