- Sexo ajuda a combater depressão, tonificar músculos, reduzir colesterol, mas ainda é cercado de tabus, dizem especialistas
RIO - Listas dos livros mais vendidos deixam evidente que nunca se
falou tanto sobre um remédio capaz de melhorar a ansiedade, a depressão,
tonificar músculos, reduzir colesterol e, de sobra, ainda queimar
calorias e deixar a pele e cabelos mais vistosos. Trata-se do sexo, tema
do primeiro Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar de 2013, que reuniu na
Casa do Saber, na última quarta-feira, a psicanalista Regina Navarro
Lins, a psiquiatra Carmita Abdo e o urologista Roberto Campos, sob a
coordenação do cardiologista Cláudio Domênico e a mediação da jornalista
Ana Lucia Azevedo, editora de Ciência e Saúde do jornal O GLOBO.
Desejo feminino tem suas nuances
Alcançar
esse nirvana de benefícios e prazer puro e simples, no entanto, não é
tão simples quanto parece. Problemas físicos, psicológicos e culturais
são recorrentes. Se a medicina pode dar jeito na saúde sexual do homem,
com as pílulas contra a disfunção erétil, falta agora combinar com a
mulher. A sintonia do desejo entre elas e os homens nem sempre é um
caminho óbvio, pois cada parte tem suas linguagens próprias — como bem
prova o best-seller feminino “Cinquenta Tons de Cinza”. A psiquiatra
Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da
Universidade de São Paulo, estuda o idioma da satisfação sexual e
explica as nuances.
— Para que a mulher tenha desejo, ela precisa
estar bem do ponto de vista emocional, físico e relacional, enquanto o
homem tem desejo que brota espontaneamente, que não precisa de motivação
— descreve Carmita. — Mulheres que estão no início de relacionamento
também têm desejo espontâneo, mas, com a rotina, acabam precisando de
estímulo para apresentá-lo, o que chamamos de desejo responsivo.
Homens
também podem ter um desejo responsivo, mas tais tons de cinza são mais
característicos das mulheres, explica a psiquiatra. A biologia ajuda a
esclarecer. É natural que homens consigam manter o mesmo nível de
testosterona por praticamente toda a vida. Já as mulheres passam pela
menopausa e deixam de produzir o hormônio sexual feminino na quantidade
de antes.
— Homens mantêm o mesmo nível hormonal durante a vida.
Mulheres deixam de produzir o hormônio sexual feminino e produzem menos
testosterona, que é o hormônio da motivação sexual. Mesmo com estímulo,
este desejo vai se manifestar de forma mais difícil que na juventude —
complementa Carmita.
A psicanalista Regina Navarro Lins acrescenta
que o sofrimento por causa de vida amorosa e sexual não é só coisa da
natureza. É também obra dos seres humanos, que passaram milênios
traçando crenças e valores os quais estão impregnados na nossa cultura,
quase sempre subjugando a liberdade feminina com o próprio corpo.
—
As pessoas têm que refletir sobre as crenças, os valores aprendidos. O
condicionamento cultural é tão forte desde que a gente nasce, que quando
a gente chega à idade adulta não sabe o que realmente deseja e o que
aprendeu a desejar.
A psicanalista crê que os modelos tradicionais
de identidade sexual aniquilam singularidades. Quem precisa mudar, em
geral, é levado ao sofrimento.
— Muitos ficam paralisados,
agarrados aos padrões tradicionais quando podiam estar vivendo com muito
mais prazer e muito mais satisfação — arremata Regina.
A
atividade sexual não precisa ser um remédio amargo e com efeitos
colaterais. Todos sabem que chegada da pílula contra a disfunção erétil,
em 1998, resgatou um mundo de possibilidades para os homens. O
comprimido, no entanto, faz só aquilo que propõe. Não resolve outros
males que, depois da juventude, podem indicar problemas mais graves.
—
Sexo é uma atividade física e depende de condicionamento. Imagine um
homem de 70 anos, num jogo de tênis com outros parceiros da mesma idade
que, de repente, passa a jogar com uma parceira de 20 anos. O remédio
causa ereção, mas não melhora condicionamento físico. Muitas mortes
súbitas foram atribuídas, de início, erradamente ao remédio contra
disfunção — alerta Cláudio Domênico. — Desde 2006, a Sociedade
Brasileira de Cardiologia diz que sexo deve ser encarado como atividade
física. Morte súbita no sexo existe.
O urologista Roberto Campos,
do Hospital dos Servidores do Estado, explica que o diagnóstico de
disfunção erétil, quando ligado a um problema físico, normalmente está
associado a prejuízos nos vasos sanguíneos. Como as artérias do pênis
são mais finas e menores, a dificuldade persistente da ereção pode ser
um sinal precoce para antecipar um diagnóstico de infarto ou acidente
vascular cerebral após três ou cinco anos.
— Quem tem o problema
por causa de doença circulatória deve fazer exame físico completo, ir ao
cardiologista e ao clínico geral — explica Campos.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/saude/um-remedio-para-todos-os-males-7856986#ixzz2Nn3tg9Hk
© 1996 - 2013. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
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