quinta-feira, 9 de maio de 2013

O HOMEM E A LEGÍTIMA DEFESA

O HOMEM E A LEGÍTIMA DEFESA

O macho da espécie, fisicamente mais forte, é por natureza o combatente e defensor da prole. A legitima defesa pessoal e de terceiros é portanto mais do que um direito, é um dever. Porém, é preciso estar habilitado: caso contrário torna-se uma temeridade besta, muitas vezes suicida.
Vamos aqui examinar os vários aspectos compreendidos, na minha experiência, por esta habilitação: medidas preventivas, dilema moral, preparo para o combate, a arma, a munição e o alvejamento.

MEDIDAS PREVENTIVAS

O uso da arma de fogo para matar deve ser considerado o último recurso, antes do qual há um série de medidas cautelares a tomar, visando exatamente minimizar as chances de se chegar a esse derradeiro recurso, e sem as quais a arma terá sua eficácia comprometida e pode se tornar opção tardia e de alto risco. Ou seja: embora se deva estar sempre em forma e estado de alerta pronto para o combate, com a arma municiada e ao alcance da mão, a ordem – seja por uma questão de consciência, seja pelo aspecto legal – é só atirar quando os demais recursos preventivos tenham falhado.

EM CASA

Nossa casa é um sobrado, isolado dos muros do terreno, com grade do lado da rua e portas-vitraux para a máxima visibilidade. Tem um portão de ferro bem barulhento no meio da escada, com cadeado do lado de cima e uma chapa que torna este de difícil acesso a partir debaixo. Dois bandos de vira latas têm transito em todos os lados da casa e dormem diante das portas, de onde percebem o que se passa fora e dentro.
Estes não latem á toa (ou tomam um balde de água fria no lombo), mas sempre que latem, vou verificar. Estranhos são atendidos somente no segundo piso, onde há uma varanda com janelões de vidro.
Carrego no meu bolso uma pistola Beretta 6,35mm que me acompanha a mais de 20 anos, desde que precisei coagir um chefe a pagar meus salários atrasados da construção da Rodovia Transamazônica. Mas esta arma é apenas auxiliar, pois falta-lhe precisão para tiros a mais de 10 metros. As portas da casa permanecem trancadas, com chaves fora das fechaduras. Se há alguém da casa no jardim, permanece aberta uma única porta, apesar da presença dos cães.
Á noite, antes de deitar, tiro de cima do guarda-roupas três companheiros inseparáveis nas horas mortas: o revolver .38 de cano longo, o facão e a lanterna.
Quando minha mulher sai ou chega de carro, dirijo-me a varanda, no escuro, de arma e lanterna na mão, independente do fato do bairro ter vigilante motorizado, aliás bastante eficaz. No armário há uma espingarda calibre 12 de dois canos a cães externos, o esquerdo carregado com cartucho 3T, e o direito com bala “Ideal” e na coronha um estojo de couro com mais 5 cartuchos reserva.
Tanto minha esposa como nossa filha menor sabem usar as armas “para o gasto”. Ao descer de manhã, meu primeiro gesto é experimentar a maçaneta da porta, na suposição de que, se alguém conseguiu entrar durante a noite e esta de tocaia em alguma parte do andar térreo, não deve ter voltado a trancar a porta, para facilitar sua fuga.

NA RUA

Nossos carros são velhos, raramente tomam banho, e quando estacionados cada um tem o volante preso a um correntão com o maior cadeado da praça. Antes de parar o veiculo, perscruto os arredores à procura de pessoas suspeitas ou carros estranhos. É preciso ter em mente que os Aymorés estão sempre à espreita, e, à primeira oportunidade, lá vem borduna. Portanto, todas aquelas precauções que tomamos rotineiramente ao dirigir veiculo defensivamente devem ser estendidas às 24 horas do dia, quer estejamos na rua ou no banheiro. Ao entrar em um posto de combustíveis ou outro estabelecimento, eu examino primeiro as pessoas presentes. O olhar e a postura delas me diz logo se esta tudo bem, este procedimento é muito eficaz quando se precisa ir a um banco. Quando me sento em um restaurante ou uma lanchonete gosto de ficar de costas para a parede e voltado à entrada, observando o movimento. O sistema tem funcionado, com alguma sorte. Não fomos molestados nestes 20 anos em Campinas. Mas pode ser melhorado, com uma chave geral do segundo piso, que nos permitisse acender de uma vez a luz do térreo e exterior da casa; um binóculo noturno
grande-angular, como 7 X 35, que melhora significamente a nossa capacidade de enxergar no escuro; e, mais importante, um telefone celular, que nos permitiria acionar a polícia direto do posto de observação.

A POLÍCIA

Não se deve hesitar em chamar a autoridade competente ( se houver tempo e condições para isso), porque eles são os combatentes treinados e acostumados a lidar com o crime no seu dia-a-dia, sendo portanto mais experientes do que você, que não é do ramo. Não se envolva desnecessariamente em uma aventura do qual possa sair muito chamuscado, seja fisicamente, legal ou moralmente.
Gosto de citar exemplos para não nos perdemos em teorias. Suspeitamos de que algo ocorria na vizinhança quando ouvimos um grito por volta de 23:30 horas, seguido de intensa reação da cachorrada de toda a redondeza.
Iniciamos uma vigilância, que rendeu frutos ao percebermos, perto das 00:30 horas, que davam, partida, um tanto mal, no carro de um vizinho. Pouco depois este saia nas mãos de estranhos. Já estávamos em contato com a polícia quando ouvimos os primeiros gritos por socorro vindos da casa roubada. Quando desligamos e saímos para ajudar, já chegava uma viatura, uns 6 minutos após o telefonema. Antes da 01:00 horas, éramos informados da central que os elementos haviam sido interceptados e naquele momento
ocorria combate.
Cerca das 03:00 horas, eram solicitadas a comparecer à delegacia para reconhecer o veiculo e demais objetos roubados, e no hospital, os marginais abatidos!
Em outro incidente, quando meu irmão e minha cunhada entraram cambaleando em uma delegacia de São Paulo às 04:00 horas de uma madrugada, após oito horas seguidas de terror, violência e degradação, completamente abalados, ficaram surpresos com a velocidade e a eficiência das operações que se seguiram: rapidamente chegou uma enfermeira para medicá-los, e, enquanto aguardavam, foi-lhes mostrado um álbum de retratos, no qual conseguiram reconhecer um dos criminosos. A partir das 05:00 horas já começaram a encostar patrulhas trazendo empregadas que haviam estado a título de experiência na casa do casal, localizadas através do esquadrinhamento de cortiços àquela hora morta, quando um de nós nem o bairro conseguiria achar. Isto foi numa Terça-feira. Na Quarta-Feira foi capturado um dos atacantes.
Quando fui prestar depoimento, ainda em relação ao roubo na minha vizinhança, disse ao capitão encarregado que eu servira o Exército
durante vários anos e estava familiarizado com os procedimentos de um inquérito Policial-Militar. Ele se queixou de que “tantas vezes o cidadão solicitado a prestar um simples depoimento visandoa esclarecer detalhes de um incidente, chega aqui roendo as unhas...” É essa fuga pela porta dos fundos da omissão que perpetua o perigo. O homem e o animal em geral é como o boi no campo: se corrermos, ele corre atrás: se paramos ele para também, e se avançamos, ele levanta o rabo e foge.

O DILEMA MORAL

Antes de adquirir uma arma, o cidadão precisa fazer si mesmo algumas perguntas incisivas, que exigem respostas claras e inequívocas: - Eu estou preparado, moral, religiosa e psicologicamente, para meter uma bala no vão dos olhos de um marginal, sem hesitar?
-Eu tenho controle confiável sobre o meu sistema nervoso, temperamento, bebida, etc. para não precipitar, recuar ou acabar atirando em inocente ou em situação não caracterizada como legitima defesa? – As outras pessoas que teriam acesso a arma são suficientemente responsáveis para não causar um acidente? (meninos são curiosos). Se a resposta a alguma dessas perguntas for negativa, então será melhor não adquirir a arma, sob pena de tornar-se ele próprio o elemento mais perigoso à sua família. Lembra-se o leitor da tragédia ocorrida no sul de Minas, alguns anos atrás, quando com o nervosismo generalizado resultante de um caçada policial a um bandido foragido na região, um advogado a noite matou a própria filha por engano? O que vale hoje a vida desse homem?
Há que se levar em consideração as artimanhas do sistema nervoso. Quando uma ação ocorre de repente e nós temos condições de reagir imediatamente e resolver o problema de pronto, então, no meu caso pessoal não há mais perigo de interferência negativa do sistema nervoso. Ao se manifestar a reação nervosa, a ação já esta encerrada. Mas quando você arma-se uma situação (como um espectador assistindo um filme de suspense) e de repente você se dá conta que é sua própria morte é que se prepara... e por alguma razão você não pode reagir de imediato, então os nervos tem tempo
de interferir e atrapalhar. Tive algumas experiências nesta área, das quais vou citar uma, válida para ilustrar o problema.

“Eu fora solicitado a supervisionar uma turma de índios Kadiwéus colhendo milho na Fazenda da Bodoquena, entre a serra do mesmo nome e o Pantanal. Chegando lá notei um erro e fiz a correção no procedimento de trabalho. Nisso fui abordado por um individuo de cuja existência não fora informado. O qual se julgava encarregado do serviço e agora vinha tirar satisfação. Mandei-o dirigir-se aos escritórios para saber com seu supervisor quem ficava encarregado. Não sendo minha área pouco me importava, e se por eventual engano já havia alguém na chefia eu me retiraria. Passando pouco tempo notei que o camarada regressava, devagar, mantendo-se às minhas costas. Quando eu me virava para um lado ou outro, percebi que ele também corrigia seu ângulo de aproximação, para continuar atrás de mim! Passei a observá-lo com o canto do olho, virando mais duas vezes em direções opostas para não deixar dúvida. Confirmado, o objetivo dele era alcançar-me desapercebido... só podia ter um propósito; pegar-me à traição, seja à faca, ou contando tomar-me o revolver. Mas por que? De repente vi tudo perfeitamente claro: eu caíra numa cilada! Tudo fora arquitetado por alguém que conhecia a sensibilidade desse primitivo que se aproximava ai atrás... Senti-me sozinho. Meu antecessor fora assassinado aqui. Agora não havia testemunha da fazenda por perto; os indígenas eram de fora e estavam entretidos no serviço; ninguém estava vendo nada. O pior é que eu não podia simplesmente atirar no sujeito, porque ele não tinha uma arma na mão! Minhas mãos tremiam e suavam, sendo necessário secá-las a todo momento na roupa. Bem: eu tinha a vantagem de havê-lo percebido, saber o que tramava, e ter o revolver bem posicionado. Quando se encontrava a três metros de mim, voltei-me de súbito, encarando-o. Então? Perguntei-lhe com firmeza, contando com o fator surpresa... mas o susto acabou sendo meu, pois ele continuou a avançar, cabisbaixo, murmurando algo! E agora? Tive que sair pela lateral: mandado-o aguardar-me, fui para outra área de serviço. Faltavam apenas cinco minutos para o sino tocar, e quando tocou acenei-lhe e cortei o campo direto à casa do encarregado para tirar a coisa a limpo, aliviado de escapar da alternativa de matar ou morrer. Os autores do ardil tiraram o corpo fora, mas dois dias depois o mesmo individuo esfaqueou outra pessoa.”


No assassinato que referi, dois indivíduos entraram no escritório, e sem mais palavras cortaram o pescoço de seu supervisor. Meu antecessor – Carlos Miller – entrou em socorro do outro, puxou o revolver mas hesitou, sendo imediatamente morto. Já o capataz da pecuária - Orlando Winckler - chegou atirando direto, abatendo os dois sanguinários. Por isso repito: as decisões de ordem moral devem ser tomadas antes de mexer com a arma.

O PREPARO PARA O COMBATE

O ideal, a meu ver, seria as Forças Armadas ministrarem um curso para o preparo do cidadão que queira possuir uma arma, pois são a entidade melhor estruturada e treinada para isso, e sua missão em tempo de paz é instruir.
Os candidatos seriam sujeitados a uma triagem preliminar na polícia quanto a antecedentes e ligações criminais, seguido de um exame médico à procura de problemas psíquicos ou outras causas de instabilidade emocional.
O Curso poderia ter um objetivo mais amplo que a mera esfera pessoal: o preparo de uma força de combate auxiliar que, além de graduada e capacitada a defender-se a nível individual, seria eventualmente uma reserva das forças armadas para ser convocada em caso de emergência, calamidade pública, desordem social, etc.
Portanto seu currículo incluiria salvamento, pronto socorro, noções de direito penal/civil e cidadania ( que hoje somos tão carentes ), além da teoria e prática de tiro e combate propriamente ditos.
O curos seria naturalmente pago pelos instruendos, e os aprovados receberiam uma carteira de habilitação e o distintivo a ser usado permanentemente.
Haveria um re-treinamento obrigatório todos os anos, a semelhança dos reservistas do Exército Suíço. A carteira de habilitação seria indispensável para a polícia emitir porte de arma.
Mas enquanto não tivermos este ideal, o novato em armas terá que se servir de cursinhos existentes e associar-se a um clube para treinamento regular. Aquisição de arma de fogo para defesa só deve ser decidida após a familiarização a fundo com a matéria para uma boa escolha.

A ARMA, A MUNIÇÃO E O ALVEJAMENTO

Se você já possui uma arma, com cuja empunhadura esta suficientemente habituado para direcioná-la instintivamente, consegue operar seu mecanismo automaticamente sem erro mesmo em estado de tensão e estado de má visibilidade, e atira bem com ela, então não há, em principio necessidade de adquirir outra para a sua defesa, mas eu tive algumas experiências válidas de serem citadas.

“Em 1968, caminhávamos pelo leito seco de um corixo no Pantanal do Nabileque – um general americano, seu colega canadense, eu e um auxiliar com cachorros na corrente, procurando batida de onça. O general portava um rifle Browning .243 com luneta de 4X, bala na agulha desengatilhado. Para engatilhar, bastava levantar e abaixar do ferrolho Mauser. Na véspera, para testar a arma, o general abatera um urubu a 100 metros. O canadense carregava uma .30M1, carabina leve semi-automática, com bala na agulha e engatilhada, travada. Para disparar era só destravá-la. Eu portava uma defensiva Sauer calibre 12, com dois canos. A mata dos lados rumorejava e fedia a queixadas (espécie de feroz porco selvagem).
Apareceu um “banheiro” – poça isolada, barrenta – e eu alertei os visitantes para o perigo de os porcos caíssem em cima de nós no momento que sentissem a presença dos cães ... de repente, eclodiu na clareira, à nossa frente, um magote desses animais que, arrepiados, batendo os dentes viraram imediatamente para nos enfrentar, ao mesmo tempo em que da mata se ergueu um uníssono trovejar de centenas de queixadas... Pois bem: o general não sabia mais engatilhar o sistema Mauser, e o canadense conseguiu desmontar o ferrolho da carabina!”

Em outro incidente, na região de Bela Vista, Mato Grosso do Sul, os queixadas estavam em um tabocal ao pé do cerro Margarida, que domina aquela paisagem da retirada da Laguna. Meu companheiro Marciano Martins e outro homem que costumava caçar sozinho), aguardavam do lado do rio pirarucu, onde havia maior probabilidade de os animais saírem. A arma de Marciano era um 20 de dois canos. O outro tinha uma Winchester 44-40 velha, da qual contava um papo grosso. Ao surgirem os queixadas, de todas as frestas do tabocal em redor dos companheiros houve um tiroteio rápido, durante o qual Marciano observou várias vezes o colega acionar a alavanca do mecanismo de repetição da Winchester.
Passado o entrevero, verificou-se que dois porcos haviam sido abatidos. “bom, dois, pelo menos, matei eu!”, afirmou o carabineiro com voz tremula. Mas o Marciano, fleumático e cuidadoso, não se lembra de ter ouvido o estampido da 44-40. Agachando-se, começou a recolher, esparramados pelo chão, diversos cartuchos da Winchester não deflagrados, que o outro estivera alimentando e ejetando enquanto acompanhava os animais na mira, esquecendo-se porém, devido ao nervosismo, de apertar o gatilho...


No terceiro caso, ocorreu comigo mesmo. Na véspera de natal de 1972, eu levava alguns peões doentes de malaria de nosso acampamento do rio Caripé – perto do Tucuruí – para marabá, numa camionete Willys. Devido a chuva tenebrosa da noite, a Rodovia Transamazônica – ainda em fase de abertura, só permitia o trânsito precário no trilho central, havendo desbarrancamentos por toda parte. Acabamos de passar um susto quando um vala se abriu na nossa frente e tivemos que saltá-la. Encostada ao assento eu levava um St.Etienne 12 mocha, carregada porem desengatilhada.
Para armar os cães era preciso abrir-lhe a culatra. Ao nos encontrarmos em um aterro, ouvimos uma repentina buzinação persistente atrás e avistamos uma Kombi com dois indivíduos gesticulando furiosamente – coisa por demais estranha numa estrada deserta daquelas onde uns precisavam dos outros. Dar passagem ali significava atolar e possivelmente ir pro brejo com barranco e tudo. Logo que chegamos a um corte demos passagem, mas a Kombi nos fechou, brecando violentamente. Saltei para estrada de arma em punho, e foi bem na hora, pois o motorista de cara cheia, já tinha a mão no porta luvas em busca de um revolver, quando lhe encostei a 12 no ouvido. O outro saltou do lado de lá e dando a volta por trás do veiculo veio correndo dizendo que era gente de família, porém com uma mão enfiada debaixo do paletó... “tira a mão daí” disse eu, voltando-lhe a arma. A mão saiu ligeirinha, e felizmente sem nada. Enquanto isso meus doentes haviam escalado o barranco do corte com uma velocidade jamais igualada para pôr-se a salvo da revoada de chumbo que julgavam iminente. O que só eu e um rapaz que viajava comigo na cabine sabíamos é que, ao engatilhar a arma de maneira apressada, um dos cartuchos saltara da câmara, da forma que eu só tinha um cano carregado...


A arma para a defesa pessoal deve, portanto, ser segura para evitar acidentes, de mecanismo confiável para não enguiçar ou falhar na hora, e precisa na pontaria. Recomendo as que eu próprio uso atualmente: a espingarda de dois canos com cães externos (para evitar o problema ocorrido na Transamazônica) é a arma longa mais mortífera e de fácil pontaria à distância até 40 metros, com mecanismos e canos independentes, com a opção de disparar um cartucho de chumbo grosso que equivale a uma saraivada de chumbo, ou uma bala ideal, isolada para alvejamento seletivo quando uma roda de chumbo for indesejável. Mas esta arma é um tanto pesada e incomoda de portar. Aí entra o revolver de cano longo (5 a 8 polegadas é a minha preferência), igualmente seguro, pois tem cão exposto, pelo vão entre o tambor e a culatra se vê imediatamente se esta municiado ou não, e o próprio mecanismo de engatilhamento também leva o cartucho seguinte a agulha, evitando o problema do carabineiro de Bela Vista. Só que o revolver dispara um único cartucho com cada tiro, exige um atirador perito, com muita prática no tiro instintivo.
Conseguir acertar o alvo na situação ideal de calma, luz, tempo, etc, em um clube de tiro não habilita o combatente em uma atmosfera de má visibilidade, tensão, tiros e perigo generalizado. Nesse momento não pode haver dúvida nem hesitação, como aconteceu com Carlos Miller. O cidadão precisa ter absoluta certeza e confiança em si e sua arma.
Para aqueles que ainda não são mestres no manejo do revolver mas gostariam de algo mais leve e prático que uma espingarda, eu recomendo a garrucha cartucheira, que vem a ser uma espingarda de canos curtose coronha de revolver, geralmente nos calibres 28, 32 e 36. Esta arma é tão mortífera quanto uma espingarda do mesmo calibre dentro do raio normal de defesa da casa.
Armas semi-automáticas (que a cada disparo se encarregam de ejetar o cartucho deflagrado, inserir outro na câmara e engatilhar o cão) devem ser restritas, para legitima defesa, às pessoas muito calmas e experientes no manuseio deste tipo de arma. Não só por dispararem tantas vezes quanto tocarem o gatilho (imaginem uma mão tremula de nervosismo...), como por não ver haver meio de ver se não tem um cartucho na câmara, ou quantos cartuchos restam no carregador. Só algumas como a infalível Colt .45 M1911 ficam abertas após o ultimo tiro, pedindo a substituição do carregador, outras poucas permitem se levantar o cano para ver se tem cartucho na câmara, como a pequena e porém confiável Beretta/Taurus 6,35mm. Só algumas tem travas ambidestras, como a Taurus PT58. De qualquer forma a arma deve, de preferência, ter o cão externo. Maior capacidade no carregador ou calibre mais potente não são, por si só, motivos válidos para trocar arma, para os nossos fins. Só se também houver melhorada a empunhadura (que deve permitir engatilhar arma curta sem alterar o posicionamento da mão) e mais importante: a precisão. O gatilho de ação dupla, hoje padrão na maioria dos revolveres e em muitas pistolas, é útil para agilizar o tiro, porém não indispensável, se você possui uma arma boa de gatilho simples. Só me lembro de ter feito uso do sistema uma única vez, ao ser atacado, em companhia de meu amigo Giorge Oliveira, de Corumbá, por um cachaço monteiro de dimensões e tenacidade respeitáveis, num espinheiro no Pantanal
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A MUNIÇÃO

A munição para auto defesa é da maior importância. Além de nova, seca (livre de óleo e graxa) e de fabricante idôneo, deve ser sempre a mais apropriada para a arma. Nos anos 60 recebi de um visitante americano uma caixa de .30M1, ponta oca. Era um efeito mortífero, só que o mecanismo de repetição não funcionava com ela, algo estava fora das especificações, portanto só servia para o primeiro tiro, inserido manualmente na câmara. No carregador tinham que ir os robustos encamisados os quais a arma tinha sido projetada.
As seguintes munições devem ser evitadas para a auto defesa: as de origem desconhecida ou fabricante obscuro. As munições recarregadas por particulares, além de proibido o seu comércio, ainda é uma atividade amadorística no Brasil. É muitas vezes praticadas por aventureiros sem o mínimo de conhecimento básico de balística, que não encontrando no mercado nacional todos os componentes recomendados pelos manuais, “enjambram” coisas como tornear o orifício da espoleta pequena em cartuchos de arma raiada, para que passem a calçar espoletas grandes de espingarda, mais facilmente encontradas na praça... ora, a espoleta esta para a pólvora e o projétil assim como a vela de ignição esta para o combustível e a cilindrada do motor.
Citemos outro exemplo: Os cartuchos Weatherby Magnum, de longo alcance e trajetória rasa, são de alta pressão, da ordem de 55.000PSI (libras por polegada quadrada).
Para se ter uma idéia comparativa, o 44-40 tem 14.000PSI. O rifle Weatherby, com nove “lugs” de travamento no mecanismo Mauser aperfeiçoado, é super resistente. As cargas de prova americanas tem o dobro de pressão das comerciais. Contaram-me que um rifle de teste exigia nada menos que 400.000PSI para estourar. Eu não estava presente e não posso atestar a exatidão cientifica da conduta deste teste. O fato é que quando eu trabalhei na fábrica da Weatherby no setor de munições, como supervisor, chegou nos, do Alaska, uma verdadeira sensação – um rifle Weatherby .300MAGNUM estourado. Havia uma carta de um “professor universitário” reclamando da arma, e outra do nosso concessionário, afirmando que o professor era pessoa idônea, bem reputada e etc... o engraçado é que depois chegou uma carta do mesmo concessionário , em separado, desculpando-se e explicando que fizera aquela recomendação por insistência do freguês, mas que aquele na verdade era besta quadrada, que havia colocado pólvora de combustão rápida (para arma de alma lisa) ao invés de queima super lenta para rifle de alma raiada.
Mas a recarga é assunto a parte, que abordaremos depois em todos os seus interessantes aspectos, numa série especifica. Outra munição insuficientemente confiável para a auto-defesa é a de fogo circular: .22LR e Magnum, e menos comuns, 7 e 9mm Flaubert, .44RF etc. O problema desta munição esta na espoleta. Na de fogo central a espoleta é uma unidade independente e isolada, consistindo-se de uma cápsula contendo uma massa explosiva, a qual é encaixada em um receptáculo em forma de prato fundo, com uma bigorninha no centro e um ou dois orifícios, “flash holes”, em baixo. Quando a agulha bate na espoleta – ligeiramente fora de centro – ela “risca” a massa explosiva entre o ponto de impacto e a bigorna, como riscamos um fósforo. O fogo sai pelos “flash holes”e ascende a pólvora na câmara do cartucho.
Na munição de fogo circular, a massa explosiva – espoleta – é colocada úmida dentro da borda do cartucho por meio de uma pincelada ou outro processo de injeção, onde fica em contato direto com a pólvora. Por isso esta mais sujeita a distribuição irregular (quando falha um .22LR costumamos virar o cartucho na câmara, para que a agulha atinja outro ponto da borda; então as vezes dispara), contaminação por contato direto com a pólvora, o que explica sua curta sobrevida comparado ao fogo central; ou ainda soltura de parte de massa explosiva devido ao impactos ou vibrações sofridos pelo cartucho.

O ALVEJAMENTO

Agora chegamos ao ponto critico da legitima defesa. Para quem gosta de discutir, o tema é rico em controvérsias, muitas vezes alimentadas pelos fabricantes de munições para justificar e enaltecer os “novos” calibres que lançam, e sistematicamente baseados na premissa errada, de ser o tórax o ponto preferencial de visada.
É como a imprensa de segunda que todo ano volta a cavucar os casos de John Kennedy e Marilyn Monroe em busca de “mistérios” inexistentes. O falecido escritor americano Elmer Keith, que nos laboratórios balísticos da Winchester era visto como um “Bull shit artist” - mestre do papo furado – foi um dos pioneiros para tendência do cada vez maior, mais possante, mais “magnum”.
Quando um policial lhe escrevia, que apesar de um marginal ter sido atingido por tiro de .357MAGNUM, o mesmo ainda revidava o fogo, Keith automaticamente recomendava passar para o calibre .44MAGNUM. Já minha experiência recomendaria a esse policial um outro caminho: passar do magnum para o .38 comum, mais leve e barato, usando a mesma arma, e concentrar seus esforços em aprender atirar direito, porque é aí que esta seu problema.
Porque nada adianta mudar para arma mais potente ou de maior capacidade no carregador se o sujeito é ruim de tiro. A pontaria deve ser a precedência sobre todas as demais considerações referentes ao tiro.
Pontaria... em que lugar, exatamente? Acompanhe este raciocínio: qual é o propósito do tiro, em situação de legitima defesa?
É desativar a central de comando – o centro nervoso – do atacante, não é? Para que ele, impossibilitado de emitir comandos ao corpo, se torne impotente e perca sua periculosidade.
Se, nesse processo, ele perde a vida ou não, é coisa secundária. O objetivo é neutralizar o marginal agressor, e não encher-lhe o corpo de buracos a esmo. Pois bem. Em que área do corpo fica localizado o centro de comando? É na cabeça; chama-se cérebro. Então logicamente é na cabeça que temos que atirar para desestabilizá-lo, e não no peito! Lembra-se o leitor do excelente livro, e o filme estrelado por Al Pacino a respeito da vida do policial novaiorquino “Sérpico”? Pois em dado momento Sérpico invade um apartamento de traficantes e é recebido com um tiro de pistola .22LR na cabeça... e pronto, esta totalmente fora de combate. Tivesse o tiro sido
direcionado ao peito, mesmo que atingindo o coração (alvo bem menor que a cabeça, e de localização mais camuflada, diga-se de passagem), é provável que a vitima ainda tivesse tempo de reagir, mesmo que fosse para disparar um único tiro aproveitável, antes que a hemorragia do coração lhe deprimisse a pressão sanguínea o suficiente para desabastecer o cérebro, subtraindo-lhe a capacidade de comando. Disse me um brasileiro acostumado a caçar na África, cujo o rifle inglês .500 Nitro Express eu admirava, que numa sua experiência, um rinoceronte atingido por dois desses grandes balaços no coração, ainda viera atropelar a comitiva, virara o jipe deles, saíra no encalço dos carregadores, e só quando não encontrou mais ninguém para atacar, tombou morto. No caso de nosso adversário humano, de inteligência igual a nossa, qualquer segundo a mais que lhe dermos pode ser-nos fatal. Pouco tempo atrás um Delegado, no Rio de Janeiro, foi fuzilado em frente a sua residência. Porém mesmo mortalmente ferido ele ainda teve energia
de sacar sua pistola e fazer um respeitável estrago nas fileiras inimigas.
Portanto o tiro no peito – embora possa ser fatal em minutos ou mesmo em segundos na melhor das hipóteses – não é garantia de neutralização imediata do fogo inimigo. Já o impacto na cabeça é como um raio no centro nervoso, pondo-o em curto circuito imediato, mesmo eventualmente não sendo fatal. E o que igualmente importante: na cabeça qualquer calibre é satisfatório, como vimos na experiência de Sérpico, esvaziando a controvérsia do calibre ideal.

Por John Coningham Netto. O macho da espécie, fisicamente mais forte, é por natureza o combatente e defensor da prole. A legitima defesa pessoal e de terceiros é portanto mais do que um direito, é um dever. Porém, é preciso estar habilitado: caso contrário torna-se uma temeridade besta, muitas vezes suicida.
Vamos aqui examinar os vários aspectos compreendidos, na minha experiência, por esta habilitação: medidas preventivas, dilema moral, preparo para o combate, a arma, a munição e o alvejamento.

MEDIDAS PREVENTIVAS


O uso da arma de fogo para matar deve ser considerado o último recurso, antes do qual há um série de medidas cautelares a tomar, visando exatamente minimizar as chances de se chegar a esse derradeiro recurso, e sem as quais a arma terá sua eficácia comprometida e pode se tornar opção tardia e de alto risco. Ou seja: embora se deva estar sempre em forma e estado de alerta pronto para o combate, com a arma municiada e ao alcance da mão, a ordem – seja por uma questão de consciência, seja pelo aspecto legal – é só atirar quando os demais recursos preventivos tenham falhado.

EM CASA

Nossa casa é um sobrado, isolado dos muros do terreno, com grade do lado da rua e portas-vitraux para a máxima visibilidade. Tem um portão de ferro bem barulhento no meio da escada, com cadeado do lado de cima e uma chapa que torna este de difícil acesso a partir debaixo. Dois bandos de vira latas têm transito em todos os lados da casa e dormem diante das portas, de onde percebem o que se passa fora e dentro.
Estes não latem á toa (ou tomam um balde de água fria no lombo), mas sempre que latem, vou verificar. Estranhos são atendidos somente no segundo piso, onde há uma varanda com janelões de vidro.
Carrego no meu bolso uma pistola Beretta 6,35mm que me acompanha a mais de 20 anos, desde que precisei coagir um chefe a pagar meus salários atrasados da construção da Rodovia Transamazônica. Mas esta arma é apenas auxiliar, pois falta-lhe precisão para tiros a mais de 10 metros. As portas da casa permanecem trancadas, com chaves fora das fechaduras. Se há alguém da casa no jardim, permanece aberta uma única porta, apesar da presença dos cães.
Á noite, antes de deitar, tiro de cima do guarda-roupas três companheiros inseparáveis nas horas mortas: o revolver .38 de cano longo, o facão e a lanterna.
Quando minha mulher sai ou chega de carro, dirijo-me a varanda, no escuro, de arma e lanterna na mão, independente do fato do bairro ter vigilante motorizado, aliás bastante eficaz. No armário há uma espingarda calibre 12 de dois canos a cães externos, o esquerdo carregado com cartucho 3T, e o direito com bala “Ideal” e na coronha um estojo de couro com mais 5 cartuchos reserva.
Tanto minha esposa como nossa filha menor sabem usar as armas “para o gasto”. Ao descer de manhã, meu primeiro gesto é experimentar a maçaneta da porta, na suposição de que, se alguém conseguiu entrar durante a noite e esta de tocaia em alguma parte do andar térreo, não deve ter voltado a trancar a porta, para facilitar sua fuga.

NA RUA

Nossos carros são velhos, raramente tomam banho, e quando estacionados cada um tem o volante preso a um correntão com o maior cadeado da praça. Antes de parar o veiculo, perscruto os arredores à procura de pessoas suspeitas ou carros estranhos. É preciso ter em mente que os Aymorés estão sempre à espreita, e, à primeira oportunidade, lá vem borduna. Portanto, todas aquelas precauções que tomamos rotineiramente ao dirigir veiculo defensivamente devem ser estendidas às 24 horas do dia, quer estejamos na rua ou no banheiro. Ao entrar em um posto de combustíveis ou outro estabelecimento, eu examino primeiro as pessoas presentes. O olhar e a postura delas me diz logo se esta tudo bem, este procedimento é muito eficaz quando se precisa ir a um banco. Quando me sento em um restaurante ou uma lanchonete gosto de ficar de costas para a parede e voltado à entrada, observando o movimento. O sistema tem funcionado, com alguma sorte. Não fomos molestados nestes 20 anos em Campinas. Mas pode ser melhorado, com uma chave geral do segundo piso, que nos permitisse acender de uma vez a luz do térreo e exterior da casa; um binóculo noturno
grande-angular, como 7 X 35, que melhora significamente a nossa capacidade de enxergar no escuro; e, mais importante, um telefone celular, que nos permitiria acionar a polícia direto do posto de observação.

A POLÍCIA

Não se deve hesitar em chamar a autoridade competente ( se houver tempo e condições para isso), porque eles são os combatentes treinados e acostumados a lidar com o crime no seu dia-a-dia, sendo portanto mais experientes do que você, que não é do ramo. Não se envolva desnecessariamente em uma aventura do qual possa sair muito chamuscado, seja fisicamente, legal ou moralmente.
Gosto de citar exemplos para não nos perdemos em teorias. Suspeitamos de que algo ocorria na vizinhança quando ouvimos um grito por volta de 23:30 horas, seguido de intensa reação da cachorrada de toda a redondeza.
Iniciamos uma vigilância, que rendeu frutos ao percebermos, perto das 00:30 horas, que davam, partida, um tanto mal, no carro de um vizinho. Pouco depois este saia nas mãos de estranhos. Já estávamos em contato com a polícia quando ouvimos os primeiros gritos por socorro vindos da casa roubada. Quando desligamos e saímos para ajudar, já chegava uma viatura, uns 6 minutos após o telefonema. Antes da 01:00 horas, éramos informados da central que os elementos haviam sido interceptados e naquele momento
ocorria combate.
Cerca das 03:00 horas, eram solicitadas a comparecer à delegacia para reconhecer o veiculo e demais objetos roubados, e no hospital, os marginais abatidos!
Em outro incidente, quando meu irmão e minha cunhada entraram cambaleando em uma delegacia de São Paulo às 04:00 horas de uma madrugada, após oito horas seguidas de terror, violência e degradação, completamente abalados, ficaram surpresos com a velocidade e a eficiência das operações que se seguiram: rapidamente chegou uma enfermeira para medicá-los, e, enquanto aguardavam, foi-lhes mostrado um álbum de retratos, no qual conseguiram reconhecer um dos criminosos. A partir das 05:00 horas já começaram a encostar patrulhas trazendo empregadas que haviam estado a título de experiência na casa do casal, localizadas através do esquadrinhamento de cortiços àquela hora morta, quando um de nós nem o bairro conseguiria achar. Isto foi numa Terça-feira. Na Quarta-Feira foi capturado um dos atacantes.
Quando fui prestar depoimento, ainda em relação ao roubo na minha vizinhança, disse ao capitão encarregado que eu servira o Exército
durante vários anos e estava familiarizado com os procedimentos de um inquérito Policial-Militar. Ele se queixou de que “tantas vezes o cidadão solicitado a prestar um simples depoimento visandoa esclarecer detalhes de um incidente, chega aqui roendo as unhas...” É essa fuga pela porta dos fundos da omissão que perpetua o perigo. O homem e o animal em geral é como o boi no campo: se corrermos, ele corre atrás: se paramos ele para também, e se avançamos, ele levanta o rabo e foge.

O DILEMA MORAL

Antes de adquirir uma arma, o cidadão precisa fazer si mesmo algumas perguntas incisivas, que exigem respostas claras e inequívocas: - Eu estou preparado, moral, religiosa e psicologicamente, para meter uma bala no vão dos olhos de um marginal, sem hesitar?
-Eu tenho controle confiável sobre o meu sistema nervoso, temperamento, bebida, etc. para não precipitar, recuar ou acabar atirando em inocente ou em situação não caracterizada como legitima defesa? – As outras pessoas que teriam acesso a arma são suficientemente responsáveis para não causar um acidente? (meninos são curiosos). Se a resposta a alguma dessas perguntas for negativa, então será melhor não adquirir a arma, sob pena de tornar-se ele próprio o elemento mais perigoso à sua família. Lembra-se o leitor da tragédia ocorrida no sul de Minas, alguns anos atrás, quando com o nervosismo generalizado resultante de um caçada policial a um bandido foragido na região, um advogado a noite matou a própria filha por engano? O que vale hoje a vida desse homem?
Há que se levar em consideração as artimanhas do sistema nervoso. Quando uma ação ocorre de repente e nós temos condições de reagir imediatamente e resolver o problema de pronto, então, no meu caso pessoal não há mais perigo de interferência negativa do sistema nervoso. Ao se manifestar a reação nervosa, a ação já esta encerrada. Mas quando você arma-se uma situação (como um espectador assistindo um filme de suspense) e de repente você se dá conta que é sua própria morte é que se prepara... e por alguma razão você não pode reagir de imediato, então os nervos tem tempo
de interferir e atrapalhar. Tive algumas experiências nesta área, das quais vou citar uma, válida para ilustrar o problema.

“Eu fora solicitado a supervisionar uma turma de índios Kadiwéus colhendo milho na Fazenda da Bodoquena, entre a serra do mesmo nome e o Pantanal. Chegando lá notei um erro e fiz a correção no procedimento de trabalho. Nisso fui abordado por um individuo de cuja existência não fora informado. O qual se julgava encarregado do serviço e agora vinha tirar satisfação. Mandei-o dirigir-se aos escritórios para saber com seu supervisor quem ficava encarregado. Não sendo minha área pouco me importava, e se por eventual engano já havia alguém na chefia eu me retiraria. Passando pouco tempo notei que o camarada regressava, devagar, mantendo-se às minhas costas. Quando eu me virava para um lado ou outro, percebi que ele também corrigia seu ângulo de aproximação, para continuar atrás de mim! Passei a observá-lo com o canto do olho, virando mais duas vezes em direções opostas para não deixar dúvida. Confirmado, o objetivo dele era alcançar-me desapercebido... só podia ter um propósito; pegar-me à traição, seja à faca, ou contando tomar-me o revolver. Mas por que? De repente vi tudo perfeitamente claro: eu caíra numa cilada! Tudo fora arquitetado por alguém que conhecia a sensibilidade desse primitivo que se aproximava ai atrás... Senti-me sozinho. Meu antecessor fora assassinado aqui. Agora não havia testemunha da fazenda por perto; os indígenas eram de fora e estavam entretidos no serviço; ninguém estava vendo nada. O pior é que eu não podia simplesmente atirar no sujeito, porque ele não tinha uma arma na mão! Minhas mãos tremiam e suavam, sendo necessário secá-las a todo momento na roupa. Bem: eu tinha a vantagem de havê-lo percebido, saber o que tramava, e ter o revolver bem posicionado. Quando se encontrava a três metros de mim, voltei-me de súbito, encarando-o. Então? Perguntei-lhe com firmeza, contando com o fator surpresa... mas o susto acabou sendo meu, pois ele continuou a avançar, cabisbaixo, murmurando algo! E agora? Tive que sair pela lateral: mandado-o aguardar-me, fui para outra área de serviço. Faltavam apenas cinco minutos para o sino tocar, e quando tocou acenei-lhe e cortei o campo direto à casa do encarregado para tirar a coisa a limpo, aliviado de escapar da alternativa de matar ou morrer. Os autores do ardil tiraram o corpo fora, mas dois dias depois o mesmo individuo esfaqueou outra pessoa.”

No assassinato que referi, dois indivíduos entraram no escritório, e sem mais palavras cortaram o pescoço de seu supervisor. Meu antecessor – Carlos Miller – entrou em socorro do outro, puxou o revolver mas hesitou, sendo imediatamente morto. Já o capataz da pecuária - Orlando Winckler - chegou atirando direto, abatendo os dois sanguinários. Por isso repito: as decisões de ordem moral devem ser tomadas antes de mexer com a arma.

O PREPARO PARA O COMBATE

O ideal, a meu ver, seria as Forças Armadas ministrarem um curso para o preparo do cidadão que queira possuir uma arma, pois são a entidade melhor estruturada e treinada para isso, e sua missão em tempo de paz é instruir.
Os candidatos seriam sujeitados a uma triagem preliminar na polícia quanto a antecedentes e ligações criminais, seguido de um exame médico à procura de problemas psíquicos ou outras causas de instabilidade emocional.
O Curso poderia ter um objetivo mais amplo que a mera esfera pessoal: o preparo de uma força de combate auxiliar que, além de graduada e capacitada a defender-se a nível individual, seria eventualmente uma reserva das forças armadas para ser convocada em caso de emergência, calamidade pública, desordem social, etc.
Portanto seu currículo incluiria salvamento, pronto socorro, noções de direito penal/civil e cidadania ( que hoje somos tão carentes ), além da teoria e prática de tiro e combate propriamente ditos.
O curos seria naturalmente pago pelos instruendos, e os aprovados receberiam uma carteira de habilitação e o distintivo a ser usado permanentemente.
Haveria um re-treinamento obrigatório todos os anos, a semelhança dos reservistas do Exército Suíço. A carteira de habilitação seria indispensável para a polícia emitir porte de arma.
Mas enquanto não tivermos este ideal, o novato em armas terá que se servir de cursinhos existentes e associar-se a um clube para treinamento regular. Aquisição de arma de fogo para defesa só deve ser decidida após a familiarização a fundo com a matéria para uma boa escolha.

A ARMA, A MUNIÇÃO E O ALVEJAMENTO


Se você já possui uma arma, com cuja empunhadura esta suficientemente habituado para direcioná-la instintivamente, consegue operar seu mecanismo automaticamente sem erro mesmo em estado de tensão e estado de má visibilidade, e atira bem com ela, então não há, em principio necessidade de adquirir outra para a sua defesa, mas eu tive algumas experiências válidas de serem citadas.

“Em 1968, caminhávamos pelo leito seco de um corixo no Pantanal do Nabileque – um general americano, seu colega canadense, eu e um auxiliar com cachorros na corrente, procurando batida de onça. O general portava um rifle Browning .243 com luneta de 4X, bala na agulha desengatilhado. Para engatilhar, bastava levantar e abaixar do ferrolho Mauser. Na véspera, para testar a arma, o general abatera um urubu a 100 metros. O canadense carregava uma .30M1, carabina leve semi-automática, com bala na agulha e engatilhada, travada. Para disparar era só destravá-la. Eu portava uma defensiva Sauer calibre 12, com dois canos. A mata dos lados rumorejava e fedia a queixadas (espécie de feroz porco selvagem).
Apareceu um “banheiro” – poça isolada, barrenta – e eu alertei os visitantes para o perigo de os porcos caíssem em cima de nós no momento que sentissem a presença dos cães ... de repente, eclodiu na clareira, à nossa frente, um magote desses animais que, arrepiados, batendo os dentes viraram imediatamente para nos enfrentar, ao mesmo tempo em que da mata se ergueu um uníssono trovejar de centenas de queixadas... Pois bem: o general não sabia mais engatilhar o sistema Mauser, e o canadense conseguiu desmontar o ferrolho da carabina!”

Em outro incidente, na região de Bela Vista, Mato Grosso do Sul, os queixadas estavam em um tabocal ao pé do cerro Margarida, que domina aquela paisagem da retirada da Laguna. Meu companheiro Marciano Martins e outro homem que costumava caçar sozinho), aguardavam do lado do rio pirarucu, onde havia maior probabilidade de os animais saírem. A arma de Marciano era um 20 de dois canos. O outro tinha uma Winchester 44-40 velha, da qual contava um papo grosso. Ao surgirem os queixadas, de todas as frestas do tabocal em redor dos companheiros houve um tiroteio rápido, durante o qual Marciano observou várias vezes o colega acionar a alavanca do mecanismo de repetição da Winchester.
Passado o entrevero, verificou-se que dois porcos haviam sido abatidos. “bom, dois, pelo menos, matei eu!”, afirmou o carabineiro com voz tremula. Mas o Marciano, fleumático e cuidadoso, não se lembra de ter ouvido o estampido da 44-40. Agachando-se, começou a recolher, esparramados pelo chão, diversos cartuchos da Winchester não deflagrados, que o outro estivera alimentando e ejetando enquanto acompanhava os animais na mira, esquecendo-se porém, devido ao nervosismo, de apertar o gatilho...

No terceiro caso, ocorreu comigo mesmo. Na véspera de natal de 1972, eu levava alguns peões doentes de malaria de nosso acampamento do rio Caripé – perto do Tucuruí – para marabá, numa camionete Willys. Devido a chuva tenebrosa da noite, a Rodovia Transamazônica – ainda em fase de abertura, só permitia o trânsito precário no trilho central, havendo desbarrancamentos por toda parte. Acabamos de passar um susto quando um vala se abriu na nossa frente e tivemos que saltá-la. Encostada ao assento eu levava um St.Etienne 12 mocha, carregada porem desengatilhada.
Para armar os cães era preciso abrir-lhe a culatra. Ao nos encontrarmos em um aterro, ouvimos uma repentina buzinação persistente atrás e avistamos uma Kombi com dois indivíduos gesticulando furiosamente – coisa por demais estranha numa estrada deserta daquelas onde uns precisavam dos outros. Dar passagem ali significava atolar e possivelmente ir pro brejo com barranco e tudo. Logo que chegamos a um corte demos passagem, mas a Kombi nos fechou, brecando violentamente. Saltei para estrada de arma em punho, e foi bem na hora, pois o motorista de cara cheia, já tinha a mão no porta luvas em busca de um revolver, quando lhe encostei a 12 no ouvido. O outro saltou do lado de lá e dando a volta por trás do veiculo veio correndo dizendo que era gente de família, porém com uma mão enfiada debaixo do paletó... “tira a mão daí” disse eu, voltando-lhe a arma. A mão saiu ligeirinha, e felizmente sem nada. Enquanto isso meus doentes haviam escalado o barranco do corte com uma velocidade jamais igualada para pôr-se a salvo da revoada de chumbo que julgavam iminente. O que só eu e um rapaz que viajava comigo na cabine sabíamos é que, ao engatilhar a arma de maneira apressada, um dos cartuchos saltara da câmara, da forma que eu só tinha um cano carregado...

A arma para a defesa pessoal deve, portanto, ser segura para evitar acidentes, de mecanismo confiável para não enguiçar ou falhar na hora, e precisa na pontaria. Recomendo as que eu próprio uso atualmente: a espingarda de dois canos com cães externos (para evitar o problema ocorrido na Transamazônica) é a arma longa mais mortífera e de fácil pontaria à distância até 40 metros, com mecanismos e canos independentes, com a opção de disparar um cartucho de chumbo grosso que equivale a uma saraivada de chumbo, ou uma bala ideal, isolada para alvejamento seletivo quando uma roda de chumbo for indesejável. Mas esta arma é um tanto pesada e incomoda de portar. Aí entra o revolver de cano longo (5 a 8 polegadas é a minha preferência), igualmente seguro, pois tem cão exposto, pelo vão entre o tambor e a culatra se vê imediatamente se esta municiado ou não, e o próprio mecanismo de engatilhamento também leva o cartucho seguinte a agulha, evitando o problema do carabineiro de Bela Vista. Só que o revolver dispara um único cartucho com cada tiro, exige um atirador perito, com muita prática no tiro instintivo.
Conseguir acertar o alvo na situação ideal de calma, luz, tempo, etc, em um clube de tiro não habilita o combatente em uma atmosfera de má visibilidade, tensão, tiros e perigo generalizado. Nesse momento não pode haver dúvida nem hesitação, como aconteceu com Carlos Miller. O cidadão precisa ter absoluta certeza e confiança em si e sua arma.
Para aqueles que ainda não são mestres no manejo do revolver mas gostariam de algo mais leve e prático que uma espingarda, eu recomendo a garrucha cartucheira, que vem a ser uma espingarda de canos curtose coronha de revolver, geralmente nos calibres 28, 32 e 36. Esta arma é tão mortífera quanto uma espingarda do mesmo calibre dentro do raio normal de defesa da casa.
Armas semi-automáticas (que a cada disparo se encarregam de ejetar o cartucho deflagrado, inserir outro na câmara e engatilhar o cão) devem ser restritas, para legitima defesa, às pessoas muito calmas e experientes no manuseio deste tipo de arma. Não só por dispararem tantas vezes quanto tocarem o gatilho (imaginem uma mão tremula de nervosismo...), como por não ver haver meio de ver se não tem um cartucho na câmara, ou quantos cartuchos restam no carregador. Só algumas como a infalível Colt .45 M1911 ficam abertas após o ultimo tiro, pedindo a substituição do carregador, outras poucas permitem se levantar o cano para ver se tem cartucho na câmara, como a pequena e porém confiável Beretta/Taurus 6,35mm. Só algumas tem travas ambidestras, como a Taurus PT58. De qualquer forma a arma deve, de preferência, ter o cão externo. Maior capacidade no carregador ou calibre mais potente não são, por si só, motivos válidos para trocar arma, para os nossos fins. Só se também houver melhorada a empunhadura (que deve permitir engatilhar arma curta sem alterar o posicionamento da mão) e mais importante: a precisão. O gatilho de ação dupla, hoje padrão na maioria dos revolveres e em muitas pistolas, é útil para agilizar o tiro, porém não indispensável, se você possui uma arma boa de gatilho simples. Só me lembro de ter feito uso do sistema uma única vez, ao ser atacado, em companhia de meu amigo Giorge Oliveira, de Corumbá, por um cachaço monteiro de dimensões e tenacidade respeitáveis, num espinheiro no Pantanal
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A MUNIÇÃO


A munição para auto defesa é da maior importância. Além de nova, seca (livre de óleo e graxa) e de fabricante idôneo, deve ser sempre a mais apropriada para a arma. Nos anos 60 recebi de um visitante americano uma caixa de .30M1, ponta oca. Era um efeito mortífero, só que o mecanismo de repetição não funcionava com ela, algo estava fora das especificações, portanto só servia para o primeiro tiro, inserido manualmente na câmara. No carregador tinham que ir os robustos encamisados os quais a arma tinha sido projetada.
As seguintes munições devem ser evitadas para a auto defesa: as de origem desconhecida ou fabricante obscuro. As munições recarregadas por particulares, além de proibido o seu comércio, ainda é uma atividade amadorística no Brasil. É muitas vezes praticadas por aventureiros sem o mínimo de conhecimento básico de balística, que não encontrando no mercado nacional todos os componentes recomendados pelos manuais, “enjambram” coisas como tornear o orifício da espoleta pequena em cartuchos de arma raiada, para que passem a calçar espoletas grandes de espingarda, mais facilmente encontradas na praça... ora, a espoleta esta para a pólvora e o projétil assim como a vela de ignição esta para o combustível e a cilindrada do motor.
Citemos outro exemplo: Os cartuchos Weatherby Magnum, de longo alcance e trajetória rasa, são de alta pressão, da ordem de 55.000PSI (libras por polegada quadrada).
Para se ter uma idéia comparativa, o 44-40 tem 14.000PSI. O rifle Weatherby, com nove “lugs” de travamento no mecanismo Mauser aperfeiçoado, é super resistente. As cargas de prova americanas tem o dobro de pressão das comerciais. Contaram-me que um rifle de teste exigia nada menos que 400.000PSI para estourar. Eu não estava presente e não posso atestar a exatidão cientifica da conduta deste teste. O fato é que quando eu trabalhei na fábrica da Weatherby no setor de munições, como supervisor, chegou nos, do Alaska, uma verdadeira sensação – um rifle Weatherby .300MAGNUM estourado. Havia uma carta de um “professor universitário” reclamando da arma, e outra do nosso concessionário, afirmando que o professor era pessoa idônea, bem reputada e etc... o engraçado é que depois chegou uma carta do mesmo concessionário , em separado, desculpando-se e explicando que fizera aquela recomendação por insistência do freguês, mas que aquele na verdade era besta quadrada, que havia colocado pólvora de combustão rápida (para arma de alma lisa) ao invés de queima super lenta para rifle de alma raiada.
Mas a recarga é assunto a parte, que abordaremos depois em todos os seus interessantes aspectos, numa série especifica. Outra munição insuficientemente confiável para a auto-defesa é a de fogo circular: .22LR e Magnum, e menos comuns, 7 e 9mm Flaubert, .44RF etc. O problema desta munição esta na espoleta. Na de fogo central a espoleta é uma unidade independente e isolada, consistindo-se de uma cápsula contendo uma massa explosiva, a qual é encaixada em um receptáculo em forma de prato fundo, com uma bigorninha no centro e um ou dois orifícios, “flash holes”, em baixo. Quando a agulha bate na espoleta – ligeiramente fora de centro – ela “risca” a massa explosiva entre o ponto de impacto e a bigorna, como riscamos um fósforo. O fogo sai pelos “flash holes”e ascende a pólvora na câmara do cartucho.
Na munição de fogo circular, a massa explosiva – espoleta – é colocada úmida dentro da borda do cartucho por meio de uma pincelada ou outro processo de injeção, onde fica em contato direto com a pólvora. Por isso esta mais sujeita a distribuição irregular (quando falha um .22LR costumamos virar o cartucho na câmara, para que a agulha atinja outro ponto da borda; então as vezes dispara), contaminação por contato direto com a pólvora, o que explica sua curta sobrevida comparado ao fogo central; ou ainda soltura de parte de massa explosiva devido ao impactos ou vibrações sofridos pelo cartucho.

O ALVEJAMENTO

Agora chegamos ao ponto critico da legitima defesa. Para quem gosta de discutir, o tema é rico em controvérsias, muitas vezes alimentadas pelos fabricantes de munições para justificar e enaltecer os “novos” calibres que lançam, e sistematicamente baseados na premissa errada, de ser o tórax o ponto preferencial de visada.
É como a imprensa de segunda que todo ano volta a cavucar os casos de John Kennedy e Marilyn Monroe em busca de “mistérios” inexistentes. O falecido escritor americano Elmer Keith, que nos laboratórios balísticos da Winchester era visto como um “Bull shit artist” - mestre do papo furado – foi um dos pioneiros para tendência do cada vez maior, mais possante, mais “magnum”.
Quando um policial lhe escrevia, que apesar de um marginal ter sido atingido por tiro de .357MAGNUM, o mesmo ainda revidava o fogo, Keith automaticamente recomendava passar para o calibre .44MAGNUM. Já minha experiência recomendaria a esse policial um outro caminho: passar do magnum para o .38 comum, mais leve e barato, usando a mesma arma, e concentrar seus esforços em aprender atirar direito, porque é aí que esta seu problema.
Porque nada adianta mudar para arma mais potente ou de maior capacidade no carregador se o sujeito é ruim de tiro. A pontaria deve ser a precedência sobre todas as demais considerações referentes ao tiro.
Pontaria... em que lugar, exatamente? Acompanhe este raciocínio: qual é o propósito do tiro, em situação de legitima defesa?
É desativar a central de comando – o centro nervoso – do atacante, não é? Para que ele, impossibilitado de emitir comandos ao corpo, se torne impotente e perca sua periculosidade.
Se, nesse processo, ele perde a vida ou não, é coisa secundária. O objetivo é neutralizar o marginal agressor, e não encher-lhe o corpo de buracos a esmo. Pois bem. Em que área do corpo fica localizado o centro de comando? É na cabeça; chama-se cérebro. Então logicamente é na cabeça que temos que atirar para desestabilizá-lo, e não no peito! Lembra-se o leitor do excelente livro, e o filme estrelado por Al Pacino a respeito da vida do policial novaiorquino “Sérpico”? Pois em dado momento Sérpico invade um apartamento de traficantes e é recebido com um tiro de pistola .22LR na cabeça... e pronto, esta totalmente fora de combate. Tivesse o tiro sido
direcionado ao peito, mesmo que atingindo o coração (alvo bem menor que a cabeça, e de localização mais camuflada, diga-se de passagem), é provável que a vitima ainda tivesse tempo de reagir, mesmo que fosse para disparar um único tiro aproveitável, antes que a hemorragia do coração lhe deprimisse a pressão sanguínea o suficiente para desabastecer o cérebro, subtraindo-lhe a capacidade de comando. Disse me um brasileiro acostumado a caçar na África, cujo o rifle inglês .500 Nitro Express eu admirava, que numa sua experiência, um rinoceronte atingido por dois desses grandes balaços no coração, ainda viera atropelar a comitiva, virara o jipe deles, saíra no encalço dos carregadores, e só quando não encontrou mais ninguém para atacar, tombou morto. No caso de nosso adversário humano, de inteligência igual a nossa, qualquer segundo a mais que lhe dermos pode ser-nos fatal. Pouco tempo atrás um Delegado, no Rio de Janeiro, foi fuzilado em frente a sua residência. Porém mesmo mortalmente ferido ele ainda teve energia
de sacar sua pistola e fazer um respeitável estrago nas fileiras inimigas.
Portanto o tiro no peito – embora possa ser fatal em minutos ou mesmo em segundos na melhor das hipóteses – não é garantia de neutralização imediata do fogo inimigo. Já o impacto na cabeça é como um raio no centro nervoso, pondo-o em curto circuito imediato, mesmo eventualmente não sendo fatal. E o que igualmente importante: na cabeça qualquer calibre é satisfatório, como vimos na experiência de Sérpico, esvaziando a controvérsia do calibre ideal.

Por John Coningham Netto.
Fonte: http://www.facebook.com/groups/armasdefogo/permalink/579355948770698/

  • Nikolas Arthur Nikolas Arthur Santos Como em uma situação de reação armada mirar é um luxo, recomendo duas coisas:

    1) Concentrar os esforços em aprender a atirar direito. Não somente na calma do Stand e tendo tempo para mirar, mas com situações adversas, correr 20 metros e pegar a arma e
    fazer alguns disparos em um ou mais alvos. Experimente fazer isso com as mãos cheias de chat chup, com alguém estourando bombinhas perto de você, jogando água ou gás de pimenta em você. Depois treine com tudo isso mais alguém atirando perto de você (não em você). Treine saque rápido + tiro instintivo.

    2)Escolha uma boa arma e boas munições, ambas de fabricante confiável e treine com sua arma. O calibre não é tudo, mas se puder escolher um calibre que aumente suas chances de sair vivo, o faça.

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