Hoje em Dia
Multidões na rua rua dificultam corrida de presidenciáveis
Milhares de moradores de Belo Horizonte foram para às ruas

Protestos que despontaram em todo o país, levando milhares de pessoas às ruas contra o custo dos transportes, gastos com a Copa e gargalos sociais podem dificultar a corrida eleitoral de 2014 de três dos quatro pré-candidatos ao Palácio do Planalto – Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB-PE).
Já a situação da ex-senadora Marina Silva ainda é uma incógnita. Especialistas ouvidos pelo Hoje em Dia divergem quanto à possibilidade de a virtual candidata beneficiar-se capitalizando a insatisfação dos manifestantes.
Para o cientista político Paulo Roberto Leal, doutor pelo Iuperj e professor da UFJF, os protestos desgastam não só a situação na esfera federal como em estados e municípios governados por PMDB, PT, PSDB ou PSOL, revelando a insatisfação com o sistema político.
“Esses atos colocam em xeque não só a presidente Dilma como os governadores Cid Gomes, Eduardo Campos, Geraldo Alckmin e Antonio Anastasia. Mais do que isso, são sinais da anti-institucionalidade. A sociedade está dizendo que não se sente representada pelas legendas grandes”.
Leal observa que não há uma relação direta entre a onda de manifestações e as eleições de 2014, mas reconhece que parcela insatisfeita do eleitorado poderá preferir Marina Silva nas urnas. “Ela vem desses movimentos sociais e tenta criar uma legenda que se diferencie das que estão aí, mas é conjectura”. Insatisfeitos
A cientista política Helcimara Telles, professora da UFMG, avalia que, apesar do apoio de eleitores insatisfeitos com legendas tradicionais à ex-senadora em 2010, Marina Silva foi alvo de polêmica por ter defendido o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Marco Feliciano (PSC).
“Marina transita por dois polos: é evangélica e, ao defender o Feliciano, que considera homossexualismo uma doença, ela reduziu suas chances de crescimento perante à juventude mais crítica que participa dos protestos”, afirma Helcimara.
Para ela, os atos refletem a falta de interlocução das legendas com a sociedade. “Nenhum desses políticos e partidos que tentaram capitalizar o movimento foram chamados ou chamaram os manifestantes para conversar. Isso é surpreendente. Em vez de convidar para a negociação, Anastasia chamou a Força Nacional”. Na última sexta-feira, durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, Dilma Rousseff prometeu receber líderes de manifestações pacíficas para ouvir reivindicações.
Desgaste
Na visão do sociólogo Marco Antônio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP), os atos atingem diretamente o PSDB e o PT, em São Paulo; e em Minas. “Dependendo da pauta das manifestações, um ou outro partido no poder fica desgastado; porém, devemos avaliar os efeitos. Em São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o Fernando Haddad (PT) foram criticados e se reuniram para discutir a redução no preço das passagens do transporte público. Em Minas, Anastasia reagiu duramente e convocou a Força Nacional”, diz. No segundo momento, Anastasia também reduziu tarifas do transporte.
A “falta de clareza” em relação às bandeiras dos protestos dá margem aos partidos de oposição ao PT para incorporar os manifestos na tentativa de atrair votos, diz o cientista político Malco Camargos, professor da PUC Minas.

“Eu vejo ‘fora, petralhas’, em referência ao mensalão; pedidos de impeachment da presidente Dilma; ‘fora, Marcio Lacerda’ (PSB). Mas enquanto o movimento não encontrar sua identidade, não teremos porta-vozes e a possibilidade de atenderem as demandas. O PPS já se coloca como o partido que está nas ruas”.