FABIO ANDRIGHETTO
da Livraria da Folha
da Livraria da Folha
Patrícia Santos/Folhapress |
Fuzil AK-47 mata cerca de 250.000 pessoas por ano |
Os motivos históricos são claros. O Brasil, aliado dos Estados Unidos e
da Otan (Organização Tratado do Atlântico Norte), não poderia adotar o
AK-47 --um equipamento soviético-- como fuzil das forças armadas durante
a Guerra Fria. Porém, o Muro de Berlim, símbolo do período, caiu há
mais de 20 anos.
Atualmente, a arma padrão usada pelo Exército Brasileiro é o Fuzil
Automático Leve (FAL 7,62), seu custo é de aproximadamente R$ 4.700 por
unidade. Os AKs são baratos, em alguns lugares do mundo custam menos de
cem dólares (cerca de R$ 166), e, raramente, ultrapassam a um terço do
valor do FAL.
Reprodução |
Eficiente e quase indestrutível, fuzil AK-47 ganha "biografia" |
O território brasileiro é conhecido pela diversidade ambiental e
climática --floresta úmida (também chamada de rainforest) ao norte, o
pantanal e cerrado à oeste, o clima semiárido à nordeste e os pampas
gaúchos ao sul. O modelo AK provou sua eficiência no deserto afegão, no
clima chuvoso do leste asiático e em temperaturas abaixo de zero na
Rússia.
De acordo com o livro "AK-47"
(Record, 2011), a "biografia" desse instrumento bélico, durante a
Guerra do Vietnã, militares norte-americanos encontraram um soldado
vietcongue morto e enterrado com o seu AK. O coronel David H. Hackworth
aproximou-se do corpo, retirou a arma da lama, puxou o ferrolho e disse:
"eu vou mostrar para vocês como uma verdadeira arma de infantaria
funciona". E disparou 30 tiros como se o fuzil estivesse novo em vez de
enterrado por meses. O evento contribuiu ainda mais para o desgaste da
imagem do M-16, usada pelos Estados Unidos, e para a lenda crescente de
seu rival comunista.
Em caso de guerra, exigindo a convocação de reservistas, os novos
recrutas teriam pouco tempo de treinamento, outra vantagem do armamento
russo. Famoso por sua robustez e fácil manejo, pode ser usado com pouco
treinamento e não requer manutenção e limpeza frequente.
Neste momento, qualquer administrador recém-formado não teria dúvidas ao
escolher a melhor opção de equipamento. Então, com todas essas
vantagens, por qual motivo o Brasil não usa o modelo como fuzil padrão?
Divulgação/Editora Contexto |
Visacro é oficial das forças especiais do Exército brasileiro |
Para explicar a questão, a Livraria da Folha entrou em contato com Alessandro Visacro, oficial das forças especiais do Exército brasileiro e autor de "Guerra Irregular" e "Lawrence da Arábia".
Em entrevista, Visacro esclareceu os motivos da escolha e afirmou que o
fuzil de assalto do século 21 ainda está para ser criado. Ouça aquí: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/881291-oficial-explica-por-que-o-brasil-nao-usa-o-fuzil-ak-47-ouca.shtml
Diferente da imagem do cossaco sanguinário, Mikhail Kalashnikov é
notório por sua educação e nunca lucrou um centavo com as vendas da
arma. Por diversas vezes, Kalashnikov lembrou que seu fuzil foi
projetado com a intenção de defender a União Soviética dos nazistas.
"Estou orgulhoso de minha invenção, mas estou triste por ela ser usada
por terroristas. Preferia ter inventado uma máquina que as pessoas
pudessem usar e que ajudasse os fazendeiros no seu trabalho --por
exemplo, um cortador de grama", se lamenta.
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