sábado, 12 de outubro de 2013

Comércio quer pôr um fim à ‘chinalização’ do centro de BH

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Eles chegam em vans, andam em bandos, nunca compram nada e levam as crianças para o trabalho


PUBLICADO EM 12/10/13 - 03h00
A “chinalização” instaurada no hipercentro de Belo Horizonte será alvo de levantamento estratégico e inédito a ser desencadeado ainda neste ano pela Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas), em conjunto com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL). A meta, segundo a presidente do Conselho de Comércio e Serviço da ACMinas, Cláudia Volpini, é recolher o máximo de informações para “separar o joio do trigo”, eliminando assim a concorrência desleal no setor promovida pela chamada “máfia chinesa”, e que culmina em contratações irregulares e absorção de mão de obra precária. Além dos tradicionais produtos eletrônicos e miudezas, esses comerciantes estão dominando outros segmentos, como o de semijoias.
Depois de ocupar boa parte dos shoppings populares, asiáticos que atuam na informalidade vêm, aos poucos, se instalando no comércio de rua. Eles não falam português, andam sempre em bandos, vivem em condições precárias e dificilmente são vistos consumindo alguma coisa no mercado. Comerciantes estabelecidos no hipercentro há décadas afirmam que vêm sendo assediados por corretores de imóveis que, a mando de chineses, em sua maioria, tentam convencê-los a vender seus pontos. Outros afirmam que estão deixando de comercializar itens como guarda-chuvas, bolsas, calçados e bijuterias por não conseguirem competir em condição de igualdade com os estrangeiros. Nenhum desses comerciantes quis ter seu nome divulgado.
Sem nota. De acordo com a ACMinas, a grande maioria desses asiáticos mantêm seus estabelecimentos na ilegalidade. As irregularidades vão da falta de alvará à não emissão de notas fiscais e às condições sub-humanas de trabalho. “Já acionamos a prefeitura para verificar a situação dos alvarás, a secretaria de Estado da Fazenda para observar a procedência das mercadorias, e nada foi feito ainda. O próximo passo será acionar o Ministério do Trabalho e a Receita Federal”, disse Cláudia, para quem a situação “já fugiu ao controle”.
“Como não observamos interesse do poder público, partiremos para a ação e promoveremos nós mesmo um estudo para embasar ações que surtam efeito”, avisa a dirigente da ACMinas, que prevê um Natal bem mais magro neste ano, em função do caos instaurado no hipercentro e na Savassi.
Segundo ela, tradicionais empresas da capital, como a Casa Silva, decretaram falência por não conseguirem competir com lojistas estrangeiros ilegais. Além disso, a entidade observa o esvaziamento de lojas de rua, que passaram a migrar para centros comerciais.
O vice-presidente da CDL-BH, Marco Antônio Gaspar, disse que o estudo anunciado pela ACMinas contará com apoio da entidade. “Já atuamos juntos para eliminar os camelôs das ruas da cidade, e continuaremos unindo forças para garantir a sobrevivência do comércio local, que responde por pelo menos 80% do PIB da capital”, afirma Gaspar, calculando que, enquanto comerciantes locais faturam, em média, 5% sobre as vendas, os asiáticos ilegais ganham até quatro vezes mais.
“Já nos acostumamos com esses estrangeiros nos shoppings populares, mas nos assusta a invasão que eles estão do comércio de rua, praticando preços extremamente baixos com a venda de mercadorias falsificadas e de procedência duvidosa. Se não houver uma ação efetiva do poder público, estaremos perdidos. Faremos o que for possível, menos encarar a máfia chinesa”, conclui Gaspar.
O secretário de Fiscalização da Prefeitura de Belo Horizonte, Alexandre Salles, alega que uma fiscalização pontual para verificar os asiáticos vai de encontro aos princípios da legalidade. “Nossa atuação não é pessoal, é impessoal e genérica. É preciso que haja uma denúncia formal, que nos apontem os locais onde ocorrem as irregularidades”, disse.

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