Protesto ocorre por conta da morte de um adolescente de 17 anos por um policial na tarde deste domingo, 27; um homem foi baleado e 90 pessoas foram presas após atos de vandalismo
28 de outubro de 2013 | 19h 52
O Estado de S. Paulo
Atualizada às 23h57
Tiago Queiroz/Estadão
Manifestantes invadiram a pista da Fernão Dias e atearam fogo em caminhões
SÃO PAULO - Violentos protestos contra a morte do adolescente Douglas
Martins Rodrigues, de 17 anos, por um policial militar, no domingo,
fecharam nesta segunda-feira a Rodovia Fernão Dias e provocaram uma onda
de destruição no bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo. Ônibus e
caminhões foram incendiados e lojas, saqueadas. Um homem foi baleado. O
tumulto na estrada federal fez com que o secretário estadual da
Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, ligasse para o ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, para estabelecer uma "ação conjunta".
Noventa pessoas foram detidas.
A manifestação começou por volta das 18 horas, depois do enterro
de Douglas. Os dois sentidos da rodovia foram fechados e ao menos cinco
ônibus e três caminhões foram incendiados. Homens armados obrigaram
passageiros e motoristas a descer dos veículos. Durante um saque a uma
loja na Avenida Milton da Rocha, na Vila Medeiros, criminosos acabaram
acertando um pedestre no abdômen. Ele foi internado no Hospital São Luis
Gonzaga, onde passou por cirurgia.
Manifestantes assumiram um caminhão-tanque na contramão. Motoristas
de veículos que estavam na estrada foram roubados, segundo a PM. Houve
confronto, e a polícia usou bombas e balas de borracha para conter a
multidão.
"Eu seguia pela Fernão quando de repente vi um ônibus pegando fogo no
meio da pista. Um molequinho estava armado na frente dele e apontou a
arma para mim, mandando eu parar", relatou o motorista José Floriano, de
50 anos. "Outras pessoas aparecerem do nada e começaram a jogar pedra
nos caminhões. Eu só tive tempo de brecar e descer da carreta e corri a
pé." Veículos também foram atacados na Marginal do Tietê, na altura da
Ponte Imigrante Nordestino. Enquanto tentavam apagar o fogo em um
ônibus, bombeiros foram apedrejados e precisaram de escolta de 15 homens
da Força Tática.
De acordo com informações da Agência Brasil, o secretário da
Segurança, Fernando Grella Vieira, solicitou ao ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, que a Força Nacional de Segurança atuasse no
local. Grella, ainda segundo a agência, teria pedido que uma operação de
inteligência seja montada pelo Ministério. As pastas confirmaram a
conversa por telefone, mas, segundo Cardozo, ambos combinaram uma "ação
conjunta", na tentativa de impedir novos atos de vandalismo.
"Conversamos sobre a melhor articulação entre ações da Polícia
Rodoviária Federal e da Secretaria da Segurança Pública", disse o
ministro, sem dar mais detalhes. Nos bastidores, tucanos afirmaram que a
Polícia Rodoviária Federal demorou para aparecer.
Nas ruas do Jaçanã e na Fernão Dias, manifestantes fizeram barricadas
de fogo. Segundo a concessionária Autopista, às 20h50, a lentidão na
rodovia ia do km 82 ao km 90. Por volta das 23h, a pista sentido capital
havia sido liberada e na outra direção os motoristas seguiam pelo
acostamento.
Enterro. O protesto começou após o enterro de
Douglas, no fim da tarde desta segunda, no Cemitério Parque dos
Pinheiros, também na zona norte. Na noite de domingo, a Vila Medeiros já
havia sido cenário de protestos de vizinhos que ficaram revoltados com a
ação da polícia. Na manifestação, com cerca de 300 pessoas, dois
lotações, um ônibus e um carro foram incendiados e lojas foram
saqueadas. A Polícia Militar interveio com bombas de gás e balas de
borracha para dispersar a multidão.
Atribuições. A atribuição de resolver conflitos em
estradas federais, como no caso da Fernão Dias, é da Polícia Rodoviária
Federal, mas não se trata de uma atribuição exclusiva, segundo o
especialista em segurança pública Guaracy Mingardi. "Havendo crime,
qualquer policial tem a obrigação de intervir", explica. "Um não pode
ficar esperando que o outro faça."
A jurisdição policial em estradas federais, segundo ele, ainda é
"nebulosa". Mas, a princípio, não há nada que impeça a Polícia Militar
(estadual) de atuar também nessas estradas, quando há um crime em
andamento. /ARTUR RODRIGUES, BRUNO RIBEIRO, FABIO LEITE, MONICA REOLOM,
HERTON ESCOBAR e VERA ROSA
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