ter, 22/10/13
por andre trigueiro | http://g1.globo.com/platb/mundo-sustentavel/2013/10/22/tensao-pre-sal/#comments
categoria Sustentabilidade
Petróleo
é atividade de risco. Não há tecnologia capaz de conter totalmente
vazamentos, eles acontecem com freqüência e alcançam algumas das mais
importantes empresas do setor. Segundo o Ibama, são registrados, em
média, 20 a 30 vazamentos por ano no Brasil. Eles devem ser reportados
pelas próprias empresas operadoras – sem isso acontecer, ninguém fica
sabendo.
Tanto o governo quanto a Agência Nacional do Petróleo (que para
muitos são a mesma coisa) reconhecem suas limitações estruturais e
logísticas para realizar hoje um monitoramento adequado dessas operações
em alto-mar.
O país aprovou em 2000 a Lei nº 9966 que dispõe sobre “a prevenção, o
controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e
outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição
nacional”. Passaram-se 13 anos e ainda não regulamentamos o Plano
Nacional de Contingência (PNC) estabelecendo com clareza as
responsabilidades de todos os setores envolvidos em caso de acidente
(companhias de petróleo, ANP, Marinha, órgãos ambientais, Defesa Civil,
etc) para que possam agir de forma inteligente e coordenada.
O consórcio vencedor de Libra
– a joia da coroa com reservas estimadas entre 8 e 12 bilhões de barris
de petróleo – entra no jogo sem que essas regras básicas tenham sido
ainda definidas. A mais preciosa reserva petrolífera do Brasil se
transformará nos próximos anos em um paliteiro de poços em águas
ultraprofundas, o que torna toda a logística tanto de exploração quanto
de remediação de vazamentos muito mais onerosa e complexa. As condições
de temperatura e pressão tornam esse ambiente extremamente hostil a
qualquer operação que demande manobras precisas e urgentes.
Como o Brasil deverá triplicar a produção de petróleo na próxima
década, há motivos reais de preocupação. Por mais sofisticados que sejam
os protocolos de segurança de cada empresa reunida no consórcio – a bem
da verdade, algumas delas são severamente criticadas por suas atuações
desastrosas em outros países, principalmente no continente africano – há
que se aprender com a História recente dessa indústria.
A BP era reconhecidamente uma das empresas mais comprometidas do mundo com sustentabilidade até se tornar responsável
pela maior tragédia ambiental da História dos Estados Unidos em abril
de 2010. Durante quase três meses, após a explosão de uma plataforma no
Golfo do México (com 11 mortos), a companhia tentou em vão conter a
sangria de aproximadamente 780 milhões de litros de óleo cru.
Além de provocar violentos impactos sobre o turismo, a pesca e os
ecossistemas marinhos, a BP ainda é alvo de ações judiciais nos Estados
Unidos e no México. O governo Obama também foi muito criticado por
revelar-se despreparado para enfrentar situações como essas.
Um ano e meio depois, a empresa americana Chevron foi responsável pelo vazamento
de 3.700 barris de petróleo no Campo do Frade, no litoral fluminense, a
partir de uma manobra inadequada de perfuração a cargo da Transocean, a
mesma operadora envolvida no megavazamento da BP. Investigações da
Polícia Federal e da ANP concluíram que o acidente poderia ter sido
evitado se os mais elementares procedimentos de perfuração fossem
respeitados.
Como me disse certa vez em uma entrevista o professor da COPPE/UFRJ,
Segen Estefen – um dos coordenadores da parceria estratégica da
universidade com a Petrobras para vencer os imensos desafios
tecnólogicos que a companhia tem pela frente na era do pré-sal: “O
Brasil não deve ser apenas referência na exploração de petróleo em águas
ultraprofundas. Devemos ser também referência em segurança na
exploração dessa riqueza”.
Por enquanto, nada sugere que estejamos firmes nesta direção.
O clima é de “tensão pré-sal”.
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