Reprodução
Idealizadora do protesto ‘Não mereço ser estuprada’ recebe ameaça de estupro
Na campanha, mulheres se fotografaram sem blusa com a frase “Eu não mereço ser estuprada”
A jornalista e escritora Nana Queiroz, 28 anos, organizadora do protesto virtual “Não mereço ser estuprada”, afirma ter sofrido ameaças de estupro em mensagens enviadas pela internet. A denúncia foi feita numa mensagem publicada em seu perfil no Facebook neste sábado.
Confira o texto:
Ela contou que há postagens dizendo que ela merece “um negão de 50 centímetros”; em outra colocaram foto de uma pia cheia de louça suja “para ela lavar” e ela soube também de montagens com fotos dela em sites pornográficos.
Outras mensagens diziam que a estuprariam se a encontrassem na rua e outra convoca para um estupro coletivo.
A jornalista postou no Blog do Sakamoto um texto com imagem de um dos agressores, que postou uma foto com um cartaz com os dizeres “#Eu já estuprei e estupro de novo”. Leia a íntegra do texto de Nana:
“Verdadeiras e falsas coragens, por Nana Queiroz
Acordei de uma noite mal dormida e perturbada. Adormeci ao som das notificações de meu Facebook e acordei com elas. Desde que começou o protesto online “Eu Não Mereço Ser Estuprada”, nesta sexta, às 20h, recebi incontáveis ofensas. Homens me escreveram dizendo que me estuprariam se me encontrassem na rua, outros, que eu “preciso mesmo é de um negão de 50 cm” ou “uma bela louça para lavar”.
Se ainda duvidava um pouco da verdade por trás da pesquisa do Ipea, segundo a qual 65% dos brasileiros acreditam que mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas, hoje acredito nela totalmente. Senti na pele a fúria revelada pela pesquisa.
Em algum momento hoje, depois que conseguir descansar um pouco, vou à Delegacia da Mulher denunciar as ameaças. Pior: vou delatar um sujeito, Cirilo Pinto, que não só confessou publicamente já ter cometido um estupro, mas afirmou que o faria novamente. Está aí o print screen da página dele, para quem duvidar. Espero que ele seja, ao menos, detido por incitar o estupro.
Centenas de perfis falsos foram criados e nosso evento bombardeado com frases machistas, pesquisas preconceituosas e montagens com fotos do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) com dizeres ofensivos. Uma imagem dele ilustrou até um evento criado para promover um estupro coletivo. Caro deputado, pense: o senhor se tornou o ídolo de pessoas que defendem o estupro. Não será a hora de pôr a mão na consciência ou no coração?
Por outro lado, estou emocionada com o tamanho que a manifestação ganhou, não só pelo número de adesões, mas pela qualidade das postagens. Um resultado inesperado me comoveu ainda mais: Dezenas e dezenas de homens e mulheres contaram publicamente, muitos pela primeira vez, seus casos de estupro. Quanta coragem!
Alguns me escreveram privadamente para desabafar. Outros publicaram para milhares. Daiara Figueroa, creio eu, fez um dos relatos mais tocantes, contando como superou o trauma do abuso. Em sua foto, vestiu com orgulho um cocar, em homenagem a seu povo indígena.
Quero falar aqui, principalmente, a essas pessoas: vamos exorcizar isso juntos. Vocês nos inspiram, nos movem e comovem. Que o mundo tenha mais pessoas com a coragem legítima de Daiara e menos com a falsa coragem de Cirilo.”
Pesquisa
A manifestação aconteceu após divulgação do levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que indicou que 65% dos 3.810 entrevistados concordam, total ou parcialmente, com a ideia de que mulheres que deixam o corpo à mostra merecem ser atacadas.
O protesto, que pedia que as mulheres publicassem em seu Facebook uma foto sua preferencialmente nua com um cartaz escrito "Eu não mereço ser estuprada" e com o hashtag #EuNãoMereçoSerEstuprada, teve uma grande adesão e foi noticiado em vários veículos de imprensa.
O ato também teve uma grande participação de homens, que se indignaram com o pensamento predominante revelado pela pesquisa.

 https://www.facebook.com/nana.queiroz