domingo, 27 de abril de 2014

Volume de papel-moeda em circulação no país cresce R$ 20 bilhões em um ano

Brasileiro carrega cada vez mais dinheiro no bolso e, com isso, contribui para aumento dos preços

Deco Bancillon - Correio Braziliense
Publicação: 27/04/2014 06:00 Atualização: 27/04/2014 07:22


Brasileiros usam mais papel-moeda para suprir necessidades

Brasília – Uma estatística do Banco Central (BC) confirma o que para muitos é só um mito: sem perceber, o consumidor está carregando cada vez mais dinheiro no bolso. O que, à primeira vista, parece indicar um avanço da riqueza, trata-se, na verdade, do efeito corrosivo da inflação sobre o poder de compra da moeda. Para piorar, esse sintoma da carestia acaba por realimentá-la, ao induzir o indivíduo a fazer compras por impulso.
Em um ano, o volume de papel-moeda em circulação no país ampliou-se em quase R$ 20 bilhões. Ao todo, a quantidade de cédulas e moedas que correm de mão em mão subiu de R$ 166 bilhões para R$ 185,2 bilhões. Se fossem repartidos igualmente entre todos os brasileiros, daria aproximadamente R$ 100 para cada um.
Mas tudo o que esses recursos fizeram, explica o professor José Luis Oreiro, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi cobrir a demanda da sociedade por dinheiro, sem representar ganho real para qualquer cidadão. “Quando a inflação acelera, as pessoas necessitam de mais moeda”, resume.
Nos poucos mais de três anos de governo Dilma Rousseff, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial do custo de vida, acumulou alta de 22%. A cada ano a inflação roubou, em média, 6% da renda pessoal. “Se antes alguém andava com R$ 50 para fazer as suas transações cotidianas, agora precisa de R$ 60. Não ficamos mais ricos, apenas nosso dinheiro está valendo menos do que antes", explifica.
Há diversos fatores que explicam a escalada da inflação. Entre eles a política de reajustes reais do salário mínimo, que ajudou a elevar a renda média das famílias e, por tabela, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). “Na última década o país engatou um ciclo de crescimento. Só que quando se cresce rápido demais, quase sempre se esbarra em gargalos que limitam a expansão”, sublinha Pedro Paulo Silveira, diretor da Vetorial Asset.
Estradas esburacadas, portos sem capacidade para receber grandes embarcações e falta de ferrovias para escoar a produção de grãos do Centro-Oeste são exemplos de obstáculos que não foram sanados mesmo durante o período em que o país cresceu a taxas mais robustas. O resultado foi o descompasso entre consumo acelerado e capacidade limitada das empresas para atender a demanda crescente.
À medida que mais cidadãos foram incorporados às classes de consumo, a partir da segunda metade da década passada, mais gente passou a procurar itens acima da capacidade do mercado. “Se há mais clientes dispostos a cortar o cabelo do que barbeiros disponíveis para atendê-los, os que já estão na praça sobem seus preços para equilibrar oferta e demanda”, pondera Silveira.

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