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Para Meira, do Observatório das Eleições, redes funcionam como caixa de ressonância de publicações

Meira As redes sociais na internet devem merecer atenção especial este ano por parte das equipes engajadas nas campanhas eleitorais. Desde as eleições de 2010, instrumentos como Facebook e Twitter cresceram substancialmente. Para se ter uma ideia, a rede criada por Mark Zuckerberg, a mais popular hoje no Brasil, saltou de 8,8 milhões para mais de 80 milhões de usuários nestes quatro anos. 
E os debates políticos já estão volumosos nestes sites, mesmo a mais de um mês do início efetivo das campanhas. Em maio, Dilma Roussef foi um dos temas mais comentados, segundo levantamento do Observatório das Eleições, da UFMG. A presidente chega a ter até 10 vezes mais menções na web em um dia do que seu principal adversário político, senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à presidência da república, segundo o coordenador do projeto, professor de ciência da computação, Wagner Meira. 
“Dentro do escopo de temas que monitoramos, que inclui partidos, pré-candidatos e outros assuntos relativos a política, ela tem sido mais frequente, seja para apoiar ou criticar também. Há muitas menções pejorativas. Em geral, o tráfego associado a Dilma tem em torno de 300 a 500 mensagens por hora, enquanto que o tráfego de mensagens associadas tanto a Aécio quanto a Eduardo Campos (pré-candidato PSB) gira em torno de 150. Há um volume ligeiramente maior associado ao tucano”, diz.
Politização
Mas será que “curtindo”, “comentando” ou “compartilhando” estes temas as pessoas estão se tornando mais politizadas? Será que o debate na internet pode refletir nas urnas? Na avaliação de Wagner Meira ainda não foi possível perceber “um movimento de discussão propositiva nas redes sociais”. Segundo ele, as redes têm “funcionado muito mais como caixa de ressonância de fatos difundidos pela mídia, falas dos pré-candidatos e denúncias”. 
A professora da UFMG, pesquisadora do Centro de Convergência de Novas Mídias da universidade, Geane Alzamora, tem opinião semelhante. “As mídias sociais, em si, não tornam as pessoas mais politizadas. Mas as interações sociais ocorrem cada vez mais mediadas pela internet e veículos de massa. E o que estas tecnologias fazem é ampliar um debate que é próprio da sociedade em cada momento”, diz. 
A professora ainda avalia que, dificilmente, alguém mude suas convicções políticas mediante conteúdos com os quais tem contato nas redes sociais. “Só curte e compartilha alguma coisa quem já pensa igual ao que está sendo posto”, pontua. 
Internet é mais eficaz para falar com o jovem
O cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo Roberto Figueira Leal, coloca um outro ponto de vista sobre o debate político na web. Ele diz que as redes sociais têm o poder de atingir mais eficazmente alguns segmentos do eleitorado, como os jovens, do que as mídias tradicionais, como jornal, rádio e TV. 
Segundo ele, as redes sociais colocam esse jovem em contato com um debate que ele talvez não faria fora dali. “Existe a possibilidade dessas redes serem uma porta de entrada para as pessoas numa discussão política que não teriam habitualmente nos seus contextos sociais”, explica. 
Contudo, ele acha difícil avaliar se essas informações que circulam no Twitter e no Facebook, podem de fato influenciar posturas políticas e gerar efeitos, por exemplo, no voto do eleitor. “Essa resposta não pode ser homogênea, porque as reações não o são. Algumas pessoas podem apenas curtir e compartilhar, outras vão ampliar o debate e aprimorar o entendimento político”, diz. 
O cientista social e professor da PUC Minas, Robson Sávio Reis, também concorda que as redes sociais na internet têm grande potencial de aumentar o debate e a participação das pessoas na política. “O hábito de leitura das pessoas é muito pequeno, mas elas leem o que está no Facebook e no Twitter e isso pode motivar discussões”, diz. 
Horizontalidade
Robson ainda argumenta que a comunicação pela in[/LEAD]ternet é horizontal, ou seja, todos podem ser produtores e, ao mesmo tempo, receptores de conteúdo, o que já seria um grande valor. “Mesmo considerando que as redes sociais também são um lugar de fofocas, notícias e informações inverídicas, há uma ampla liberdade para que as pessoas possam argumentar, criticar, colocar outros pontos de vista sobre aquela informação. O leitor das rede sociais vai se habituando com o fato de que o que está ali é passível de uma análise. É diferente daquele espectador de TV, por exemplo, que recebe a informação de forma mais passiva, como se fosse uma verdade, sem poder interagir ou contestar. Isso produz mais distorção”, reflete.
Contudo, o professor acredita que uma denúncia, uma montagem pejorativa ou uma informação positiva sobre um ou outro candidato na internet não é capaz, isoladamente, de definir as escolhas políticas do cidadão. 
Militância digital produz ataques e difamações
Ataques, conteúdos difamatórios, perfis falsos, inverdades. A artilharia na internet está direcionada a todos os pré-candidatos e partidos, motivando inúmeras ações na justiça. 
O especialista em marketing político Daniel Machado diz que grande parte destes conteúdos são produzidos por militância digital, muitas vezes contratada. “Como ataque, tem os que usam da crítica, do humor e da sátira para chamar a atenção. Há ainda atuação no sentido de promover, fazer propaganda e mostrar os pré-candidatos”, comenta. 
Campanha
Para conter o “jogo sujo” na rede, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) lançou uma campanha por eleições limpas na internet. Nesta terça-feira, dia 03, a entidade promove um ato em Brasília para tentar estabelecer um compromisso entre partidos, entidades e órgãos do Judiciário, além de responsáveis por provedores de internet e redes sociais, por uma campanha sem “baixarias” e sem “ataques gratuitos” na web, conforme afirmou o presidente da OAB Marcus Vinícius. 
“A intolerância e a violência verbal devem ceder espaço ao debate democrático sobre qual projeto de nação que queremos”, defendeu. 
Campanhas darão atenção especial à rede
Apesar de a propaganda eleitoral em Rádio e TV ser ainda para a maioria das pessoas a principal forma de se inteirar das campanhas, a internet é imprescindível numa estratégia de busca de votos. “Não há qualquer possibilidade de uma força política negligenciar essas novas tecnologias”, diz o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal. 
Para os partidos que polarizam a disputa eleitoral, tanto em nível nacional quanto regional, PT e PSDB, mais do que nunca as redes sociais devem receber grande atenção. “As redes são estratégicas e prioritárias para o partido”, diz o deputado estadual Ulysses Gomes, secretário de comunicação do PT. Segundo ele, a legenda tem uma ação planejada para a internet, focando na apresentação e discussão de propostas, mas também responderão aos ataques. 
“Nossa visão é de que muito do conteúdo que circula é provocativo, até injusto, mas que ao mesmo tempo levanta o tema. Tudo tem sido oportunidade para responder. Nós temos o que mostrar”, afirma.
O deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB) diz que as redes sociais terão atenção destacada este ano na estratégia do partido, tanto na disputa nacional quanto regional. “Estamos procurando mobilizar todo o partido e simpatizantes para criarmos uma grande rede para divulgação de conteúdo, das nossas ideias, para que possamos ter uma comunicação mais efetiva. Esse esforço vem crescendo a cada dia e consideramos que vem rendendo bons dividendos políticos. Outra particularidade é que hoje existem muitos ataques, denúncias sem fundamento e estamos preparados para responder com conteúdo, para mostrar a falta de credibilidade desse tipo de coisa”, conclui. 
A preocupação com campanha na rede é mesmo fundamental, na opinião do especialista em marketing político Daniel Machado. Ele avalia que, nas últimas eleições presidenciais, o fato de Dilma Rousseff não ter ganhado em primeiro turno por poucos pontos percentuais pode ter relação com a negligência da campanha com a internet.
“Os temas aborto e religião foram ignorados pela equipe responsável pela campanha das redes sociais da candidata Dilma. O assunto tomou conta de muitas páginas, comentários, charges”, lembra. “Muitos assuntos não vão para TV, mas irão para as redes”, acrescenta.