25/07/2014 - VEJA
às 17:59 \ Guerras
Está circulando na internet uma carta assinada por Rita Cohen Wolf. Reproduzo aqui, com algumas pequenas edições apenas na forma, pois o conteúdo é importante:
Sra Presidente Dilma Roussef.
Na minha
carteira de identidade de número XXXXXXXXXXX expedida pelo Instituto
Felix Pacheco no Rio de Janeiro, ao lado do item nacionalidade está
escrito “brasileira”.
Sim, sou
brasileira e “carioca da gema”. Filha de pais brasileiros e mãe de
filhas brasileiras. Gosto de empadinha de palmito, água de coco , feijão
e farofa. Ouço Marisa Monte, Cartola, Caetano e Cazuza. Visto a camisa
seja qual for o placar e posso mesmo declarar que tenho sangue verde e
amarelo.
Sou dos
“Anos rebeldes”, aqueles em que muitas vezes o máximo da rebeldia era
cantar “Afasta de mim este cálice” enquanto ficávamos de olho se algum
colega de escola “era sumido”. Aqueles anos em que Chico Buarque só
podia ser Julinho da Adelaide. Saí às ruas pelas “Diretas Já” e,
emocionada, vi o Gabeira e o Betinho finalmente voltarem do exílio
arbitrário.
Nos anos 90,
com mestrado em Psicologia e em Educação, fui honrosamente convidada a
assessorar a Secretaria Municipal de Educacao do Rio de Janeiro. Cheia
de entusiasmo, fazia parte de uma equipe profissional de primeira linha.
À nossa frente, uma Secretaria de Educacao indicada pelo Prefeito não
por suas ligações políticas, mas por sua competência profissional e
comprometimento por uma Escola de qualidade para as nossas crianças.
E foi aí que
comecei a perceber que algo de muito errado acontecia na minha cidade e
no meu país. Mesmo ocupando um cargo de onde poderia “fazer acontecer”,
percebi que apenas vontade política, profissionalismo e amor pelas
crianças do Rio de Janeiro não eram suficientes para mudar a antiga
engrenagem: emperrada, viciada, corrompida e perversa.
Foi depois
de ter sido assaltada 8 vezes, uma delas com um revolver apontado para a
minha cabeça… foi aí que a ficha caiu e percebi que nao poderia mais
criar minhas filhas no meio da corrupção, suborno, mão-armada e com medo
da própria sombra. Tinha que me despedir do meu País.
Com muita
dor no coração eu resolvi fazer as malas. Por livre escolha, assim como
tantos e tantos brasileiros. Meu País não podia me oferecer condições
dignas de vida. Não se preocupava ou não agia com eficiência em nome do
bem-estar de seus cidadãos. Fiz minhas malas e vim para o Oriente Médio.
Apesar de na minha carteira de identidade não constar o item “religião”, eu posso lhe contar. Sou judia.
“Judeu”,
palavra que para muitos está diretamente associada a Judas, o traidor de
Jesus Cristo (ele mesmo judeu) e também a Freud, Einstein, Bill Gates e
Mark Zuckerberg e mais vários ganhadores de Prêmio Nobel.
Optei por
viver em Israel. Tornei-me israelense. Quanta contradição, sair do
Brasil por medo de assaltos e sequestros e vir para Israel…
Aqui, Sra
Presidente, quando estamos em perigo, soam sirenes para que entremos em
abrigos anti-bombas. Nunca mais estive a ponto de ser pega por uma bala
perdida, assim como nunca mais tive que sentir a dor no peito ao ver
famílias inteiras à beira da rua mendigando. Nunca mais tive que me
pegar na dúvida do que sentir diante de um pivete: medo ou pena. Por que
aqui não existem pivetes. A educação e a saúde são um direito de fato
de todos os cidadãos, independentemente de cor, raça ou credo.
Sou uma dos
cerca de 10 mil brasileiros que vivem hoje em Israel e que, hoje de
manhã ao acordarem, deram-se conta de que o Governo brasileiro chamou o
embaixador brasileiro em Israel para uma “consulta em protesto pela
operacao do exército de Israel na Faixa de Gaza”. Pergunto-me se também
foram chamados o embaixador na Síria, onde na última semana morreram
mais de 700 pessoas. Ou talvez o embaixador no Iraque, onde está sendo
feita uma “purificação étnica”. O próximo passo já bate na porta: cortar
as relações diplomáticas do Brasil com Israel.
Num momento
tão delicado para tantos de nós brasileiros que vivem em Israel, no
momento em que Israel recebe a visita e o franco apoio da
Primeira-ministra da Alemanha, do Ministro do Exterior da Inglaterra, do
Ministro do Exterior dos Estados Unidos e da Ministra do Exterior da
Itália… um dia depois que o Secretário Geral da ONU visita Israel e
declara que o país tem todo o direito de se defender e a seus cidadãos
do ataque de um grupo terrorista… depois disso, recebemos a notícia da
chamada do Embaixador brasileiro.
A televisão anuncia a decisão brasileira e tenho vergonha.
A vergonha
não é só pelo alinhamento do Brasil com os países islâmicos extremistas
ao invés de se alinhar com a Democracia. Tenho vergonha também dos meios
de comunicação tendenciosos do Brasil, que só enxergam ou só querem
enxergar um lado da história. Mas isso já é outra conversa…
Hoje, junto
com a notícia da chamada do embaixador brasileiro, vi também na
televisão que o governo de Israel está enviando vários aviões para os
quatro cantos do planeta para resgatarem israelenses que, por conta do
embargo aéreo temporário das companias de aviação estrangeiras, não
conseguem voltar para Israel. Uma verdadeira operação resgate. Por quê?
Pois aqui a vida do cidadão tem valor.
Eu vivo num país em que a vida de um soldado foi trocada pela de mil terroristas presos por crime de sangue.
Na minha
ingenuidade, cheguei a pensar que o Brasil tentaria verificar a situação
de seus cidadãos em Israel nesse momento de guerra, se é que algum
cidadão brasileiro estaria com alguma necessidade que pudesse ser
atendida pela representação do Brasil em Israel. Que bobinha…
Mais fácil talvez seja mesmo vir a cortar as relações diplomáticas, pois não sei mais qual o valor do meu passaporte brasileiro.
Vergonha e
desgosto por comprovar que mesmo depois de tantos anos, o brasileiro
ainda vale muito pouco, para não dizer quase nada, para o seu próprio
país.
E o verde-amarelo do meu sangue cada vez mais vai perdendo sua cor.
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/guerras/carta-de-uma-brasileira-que-mora-em-israel-para-a-presidente-dilma/
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