Os líderes dos Brics estão no país para criar um novo banco. Mas o que são os Brics, e o que eles querem?
BRUNO CALIXTO
15/07/2014 18h00
- Atualizado em
15/07/2014 18h52
No domingo (13), durante a final da Copa do Mundo, as câmeras revezavam
ao captar as imagens do jogo com a de líderes mundiais nas tribunas
VIPs, com a presidente Dilma e a chanceler alemã Angela Merkel. Entre
elas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Putin não veio ao Brasil
apenas para ver um jogo de futebol. O controverso presidente russo
se juntou ao presidente da China, Xi Jinping, ao primeiro-ministro da
Índia, Narendra Modi e ao presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Os
líderes das principais economias emergentes se encontram no Brasil para a
Sexta Cúpula dos Brics, em Fortaleza e Brasília. Mas o que exatamente
eles estão fazendo no país?
Antes de responder, é bom entender o que são os Brics. Inicialmente,
era uma sigla inventada pelo economista britânico Jim O'Neill, do
Goldman Sachs, na década passada. Bric é formado pelas iniciais de
Brasil, Rússia, Índia e China, e soa como a palavra "tijolo" em inglês. A
ideia era mostrar que os quatro países, que apresentavam altas taxas de
crescimento, tornaram-se pedras fundamentais na economia global. A solidez econômica dos Brics, entretanto, foi objeto de questionamento por economistas nos últimos anos.
Com o tempo, o grupo se tornou mais de interesses políticos do que
econômicos e, em 2006, esses países resolveram se juntar em um bloco
informal para atuar no cenário internacional. Os quatro países
adicionaram a África do Sul no bloco, acrescentando um "s" no final da
sigla (em inglês, South Africa). Juntos, os cinco englobam quase a
metade da população mundial, com um PIB de US$ 11 trilhões.
O que querem os Brics? Segundo a pesquisadora Leane Naidin, professora
da PUC-RJ e coordenadora do BRICS Policy Center, os Brics se definem
melhor por o que eles não querem. Eles não querem formar um grupo
econômico com acordos de livre-comércio ou vínculos fortes. "O que esses
países se propõem como grupo é uma coalizão política para mudar as
regras do sistema internacional. Eles querem criar mais espaços para os
países em desenvolvimento, para eles mesmos", diz. Segundo a
pesquisadora, no entanto, os países encontraram dificuldades nessa
reformulação. Uma mudança no FMI para aumentar o papel dos países em
desenvolvimento, por exemplo, foi barrada pelo Congresso dos EUA. Por
isso, o caminho escolhido pelos Brics foi criar um banco com papel
similar ao do Banco Mundial.
O banco vai operar com US$ 50 bilhões - cada um dos cinco países
contribuirá com US$ 10 bilhões. A ideia é que esse banco financie obras
de infraestrutura, como usinas hidrelétricas, trens-bala e metrô. "Os
países estão criando esse banco para agilizar investimentos de
interesses deles", afirma Leane. Além disso, os Brics - em especial a
China - têm grande interesse em usar o banco para financiar obras na
África e em países fora do bloco. Os Brics também estão prevendo a
criação de um fundo de reserva com um papel similar ao do FMI. Assim, se
algum país do bloco enfrentar uma crise econômica mais grave, poderia
recorrer a esse banco, em vez de ao FMI, para conseguir ajuda
financeira.
Apesar da retórica de união, a Sexta Cúpula dos Brics se tornou uma
grande oportunidade para cada país tentar avançar na sua própria agenda e
seus próprios interesses. Uma oportunidade que o presidente da Rússia
não desperdiça. Ao aparecer na Copa do Mundo e ao lado de Dilma e
Merkel, Putin mostra que a Rússia está longe de estar isolada, mesmo
após enfrentar sanções dos Estados Unidos e da União Europeia por conta da crise na Ucrânia. Já Modi e Jinping fizeram lobby forte
para tentar levar a sede do novo banco para seus respectivos países - a
China quer ter mais participação no banco, e a Índia quer exatamente
evitar que os chineses tenham maior poder de decisão. No final, a sede
ficou na China, em Xangai, e os indianos ganharam o direito de escolher o
primeiro presidente do banco.
Para o Brasil, é uma ótima oportunidade de formalizar acordos comerciais. Só nesta segunda-feira (14), Dilma e Putin assinaram sete acordos bilaterais,
aumentando o fluxo comercial dos dois países, que hoje está na casa dos
US$ 5,6 bilhões, para US$ 10 bilhões por ano. No total, Dilma deve
fechar 40 acordos, entre eles a exportação de 40 aviões da Embraer para a
China.
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